Sobre o desfile da escola de samba Paraiso do Tuiuti e a escravidão econômica
Este ano me isolei no carnaval. Fui para o campo, para montanha, para o silêncio. Precisava mais dele do que das latinhas de cerveja e das marchinhas de carnaval. Pelo menos desta vez...
Minha paz porém não durou muito. Logo, o silêncio curador foi quebrado pela avalanche de mensagens que chegaram narrando o desfile da escola de Samba Paraiso do Tuiuti. Todos exaltados. Alguns a favor, muitos contra. Para opinar, com alguma propriedade, resolvi assisti-lo.
O desfile foi deslumbrante. Mais do que isso, foi preciso. Nos dois sentidos da palavra: necessário e cirúrgico.
Há sim ainda no país mais do que somente vestígios da escravidão. Erram os que dizem que "ninguém é obrigado a trabalhar se não quiser". Para quase a maioria da população brasileira, aceitar o único trabalho que lhe é oferecido, nas condições que lhe são oferecidas, é questão de sobrevivência. Jornadas extenuantes e arriscadas de 12, 14, 16 horas diárias, quando considerado também o tempo de deslocamento até o local de trabalho, remunerados com menos de 40 reais por dia. Essas as dentro da lei. Escravidão econômica não é jargão de esquerda, é realidade social.
O desfile teve sim criticas políticas. Pode-se concordar ou discordar delas (eu particularmente não só concordo como as aplaudo), mas ninguém tem o direito de cala-las. E não digo isso tomando partido desta ou daquela linha ideológica. Digo porque somos como classe ricos, brancos e do "asfalto". Por maior que seja nossa sensibilidade, compaixão ou responsabilidade social, por mais que tenhamos também nossos sofrimentos e dificuldades todos os dias, jamais, repito com letras maiúsculas, JAMAIS saberemos o que é nascer negro, pobre e em guetos. E se não podemos falar pelos que sofrem, que sejamos pelo menos capaz de ouvi-los. É mais do que nossa obrigação, é uma dívida histórica e social.
Parabens Paraíso do Tuiuti, vocês fizeram história na passarela.
Eduardo Moreira
#paraisodotuiuti
#paraisodotuiuti2018