Sobre o pai dos Abramo
Meu pai vem de uma família muito humilde, descendente de italianos, tanto por parte de avô quanto de avó. Eles fazem parte de um grupo de imigrantes que fugiu da 1ª Guerra Mundial e ajudou a construir um tanto de coisas aqui em Belo Horizonte. A Lagoinha, o local escolhido por muitos deles, segue até hoje como um bairro típico e de pessoas muito simples.
Apesar da origem, meu pai teve acesso ao estudo e conseguiu entrar na FUMA (Fundação Mineira de Arte), hoje UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais). Ele tem um talento enorme para audiovisual e desenho e foi cursar design, enquanto trabalhava no almoxarifado da Mendes Júnior.
Quando estava na faculdade, ainda muito jovem, casou com minha mãe. Hoje parece que todo mundo precisa ter uma grana para poder casar, mas naquela época era comum as pessoas, ainda começando a vida, já casarem. Minha mãe conta que o dia mais feliz da vida dela foi quando meu pai desistiu da faculdade. Hoje, ele acorda às 5 da manhã, sem precisar de despertador, mas na época o despertador tocava e ele queria quebrá-lo, tão grande era o cansaço por causa da tripla jornada: trabalho, faculdade e família.
Apesar de adorar a faculdade, o design era desconectado das atividades que ele desempenhava na construção civil, fundamentalmente uma carreira técnica. Mais tarde, trabalhou por mais de 25 anos na Drogaria Araujo, na área de montagem e manutenção de lojas.
É uma maluquice pensar que um cara com talento para o design e o audiovisual tenha trabalhado a vida inteira com obra. Não que ele não gostasse, mas tinha um sofrimento grande em dar ordens. E quando você trabalha neste mercado, tem que fazer isso o tempo todo por causa dos cronogramas.
Eu demorei para entender que meu pai abriu mão dos sonhos para manter uma carreira consistente e, consequentemente, a sua família alimentada. Minha mãe, por sua vez, abdicou da carreira de arquiteta para cuidar de mim e da minha irmã, porque na época a profissão não pagava sequer uma babá. Inclusive, vou falar sobre minha mãe em breve, das profissões que cresceram em importância nos últimos tempos, mas também daquelas que sumiram com o passar dos anos.
A história do meu pai é provavelmente igual a da enorme maioria dos brasileiros. Não acho que ele estivesse errado. Era o que estava disponível. Só que se ele tivesse tido a chance de se aprofundar em desenho, poderia ter seguido e ser tão bem ou melhor remunerado do que fazendo o que fez.
Quando ele tomou sua decisão de seguir a carreira técnica, o mundo exigia muita dedicação presencial, de tempo e dinheiro, para estudar e aprender um negócio diferente. Ele teria de abrir mão do tempo com a gente e da grana recebida. E vou dizer pra vocês o seguinte: ele sempre fez muito bem o trabalho dele, de forma muito profissional e dedicada. Essa dedicação foi um grande ensinamento pra mim e me vejo atuando muito da forma como ele atuava. (Às vezes exagerando um pouco e entregando mais do que esperam de mim. Freud explica!)
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Entendo claramente a decisão dele. Mas eu o via sofrendo um pouco, em fazer uma coisa que não gostava muito de fazer, principalmente depois que os filhos já estavam criados e perto de se aposentar. Já não fazia tanto sentido. Eu tinha muito medo, olhava pra ele e achava que ele morreria quando parasse de trabalhar, por não ter o que fazer mais. Não falava isso em nossas conversas, achava que não era justo, mas pensava o tempo todo.
Mas felizmente não aconteceu nada do que eu temia!
Quando ele se aposentou, reencontrou aquele cara que abandonou aos 20 e poucos anos. Hoje, aos 68, cuida das plantas, do cachorro, é ligado em arte, curte a música. Ao contrário de representar a morte, se aposentar pra ele representou a vida.
Abrir mão dos sonhos para colocar comida na mesa, como meu pai fez, é uma coisa muito bonita. E eu só posso agradecer a ele pelo que fez e continua fazendo por nós! Por outro lado, fico feliz ao ver que hoje as pessoas têm mais chances de mudar de carreira quando acham necessário para realizar seus sonhos e/ou fazer as coisas que amam de verdade. 😊
Obrigado, pai! Obrigado, mãe. Este Alexandre é cria orgulhosa dos ensinamentos de vocês dois!
E os seus pais e/ou sua família? Você também vê essa mudança geracional? Que aprendizado teve com eles? Bora conversar!
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Head de planejamento estratégico em comunicação
3 aAhhh gente! <3