Sobre a operação do Jacarezinho

Demorei a me pronunciar sobre a operação do Jacarezinho por se tratar de um tema delicado, que não pode ser analisado de forma simplista. Este fato evidencia questões muito sérias sobre a segurança do RJ, que precisam de um tratamento amplo, diferente do que vem sendo comentado.

A proibição da realização de operações policiais em favelas durante a pandemia, determinada pelo ministro do STF, Luiz Edson Fachin, deu o tempo e o anonimato necessários para os bandidos se fortalecerem, dominarem ainda mais o território e aumentarem seu arsenal. O papel do Estado é garantir a liberdade e a vida dos cidadãos por meio da garantia da lei e da propriedade. Porém, essa não é a realidade de moradores das favelas. São constantemente ameaçados por criminosos locais, milicianos ou traficantes. Realidade ainda mais agravada pela decisão do STF.

A polícia fez 11 meses de investigações e seguiu os protocolos do STF. Mas diante da obscuridade e do crescimento da criminalidade causados pela proibição do STF, policiais e população ficaram ainda mais em risco. O resultado: 25 mortos, incluindo 1 policial, e dois civis feridos.

Falando na eficácia da operação, temos que observar que apenas 3 dos 21 mandados de prisão foram executados (14%). Sem falar que em nenhum lugar do mundo, uma operação que resulta na morte de um policial é considerada bem sucedida. Outro ponto, são 18 escolas públicas na região que ficaram fechadas por conta da pandemia. Segundo as investigações, o tráfico aumentou o aliciamento de menores, o que teria motivado a operação. Teria o tráfico aliciado tantos menores se estes estivessem na escola?

Mas o pior de tudo é polarizar o tema, pois vai muito além disso. Devemos ser contra o estado exercer o seu papel? Devemos ser do time de quanto mais mortes melhor? Essas posições só agravam o problema. O tratamento para a doença tem que ser mais amplo. Deixo claro que não podemos chamar bandidos de vítimas e tampouco colocar em risco a população inocente. Temos sim que apurar se houve qualquer exagero ou ilegalidade e pensarmos em soluções que prezem pela população, pois criminosos devem ser punidos, mas pela Justiça.

O caminho para melhorar a segurança no RJ é mais complexo do que permitir ou não operações na favela. Rever nosso sistema carcerário, o cumprimento das leis, aprimorar investigações são itens que devem entrar na análise. Precisamos também de uma transformação ampla, em vários setores. Com mais educação, empregos, renda, será possível afastar as pessoas do crime, proteger as crianças e dar segurança à população para viverem suas vidas com liberdade.

Ricardo Biloti

Professor Associado em Geofísica Computacional/Matemática Aplicada na UNICAMP

3 a

"temos que observar que apenas 3 dos 21 mandados de prisão foram executados" "Temos sim que apurar se houve qualquer exagero". Para 25 mortos, não houve prisão, nem indiciamento, nem julgamento, nem condenação. Apenas pena de morte, executada sumariamente. Essa conduta só é objeto de opiniões "isentas" e "ponderadas" porque aconteceu na favela.

Weber Ramos Ribeiro Filho

Analista de Regulação Senior | Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais

3 a

O que o nosso amigo Milton Friedman diria sobre isso? Não seria uma oportunidade de defender o verdadeiro LIBERALISMO e se posicionar como um autêntico LIBERAL? Abraço

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