Sobre os Sismos e a Sismologia
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Sobre os Sismos e a Sismologia

Ontem, 26 de Agosto de 2024, houve um sismo em Lisboa. Eu, que vivo aqui desde 2015, já presenciei mais de um. E os apreciei da mesma maneira: dormindo. O que comprova a tese da minha mãe que diz “Diogo não acorda nem se tiver um terremoto”. Mãe sabe das coisas.

Sabendo que as noticias logo chegariam ao Brasil, tratei de tentar acalmá-la.

- Mãe, teve um terremoto aqui de madrugada, mas estamos todos bem.

- Pois é! Jesus está voltando!

Minha mãe tem esta mania de inserir a frase “Jesus está voltando” sempre que tem a oportunidade. Mas, veja bem, ela não é a única a pensar assim.

Sabe quando nasceu a sismologia? Pois é uma ciência que tem data de fundação. Se quer saber qual foi, primeiro você precisa compreender o que aconteceu em Portugal no dia 1 de Novembro de 1755.

Pense lá você: digamos que vivesse num mundo sem luz elétrica, onde a nobreza e a igreja comandava tudo e a todos. De repente, não mais que de repente, a terra começa a abanar para os lados. Para cima. Para baixo. Põe cristãos e pagãos no mesmo balaio e chacoalha as crenças sem dó nem piedade.

Foi assim que Lisboa foi destruída quase que por completo em 1755. 

É que dia 1 de Novembro é feriado religioso. Dia de todos os santos. Então, as igrejas estavam repletas de velas. Após o terremoto, elas trataram de incendiar toda a cidade. Os cidadãos, confusos, ainda levaram com um tsunami que acabou por encerrar qualquer dúvida de que aquilo era uma tragédia sem precedentes.

Dizem que o rei Dom José ficou tão traumatizado que passou a viver apenas em tendas. Nunca mais quis saber de um teto ou parede sobre a sua cabeça. Mas a verdade é que a população começou a achar que Deus estava bravo com eles.

O rei então delegou ao Marquês de Pombal a função de tentar entender o que havia acontecido. E o marquês, esperto como só ele, tratou de reunir os maiores cientistas da altura. E estes começaram a estudar o fenômeno.

Para combater a ideia de que “Jesus estava voltando”, o Marquês de Pombal recorreu a ciência disponível na época. E, assim, nasceu a sismologia.

O ser humano tem a mania de colocar as suas crenças pessoas antes dos fatos. É uma luta com a nossa mente para deixar de reforçar a nossa ideologia e ver a verdade como ela é. É que chamam de viés de confirmação.

Por exemplo: assim que os jornais em Portugal - e falo dos que são dedicados ao público brasileiro - começara a noticiar o evento. Logo surgiram comentários sobre a quantidade de brasileiros que há em Portugal.

Acontece que, a gente achar que sabe, não é saber. Os portugueses do passado, por exemplo, achavam que sabiam que Deus estava bravo com eles. E, por isso, o todo poderoso enviou um abalo sísmico para os punir. Graças a ideias iluministas, foi possível tentar começar a entender o fenômeno (e saber o que aconteceu realmente).

Corta para 2024, onde um líder de extrema-direita em Portugal - que acha sabe o que não sabe - quis corrigir os jornais e dizer que, em Português, se diz TERRAMOTO, com A.


José Pinto-Coelho é Presidente do partido "Ergue-te!". E diz-se "Nacionalista, Monárquico e de Extrema-Direita".

A pessoa só não pode ficar surpresa é que, quando a checagem de fatos acontecer, apontarem que, em bom Português, a grafia mais antiga é TERREMOTO, com E. A versão com A, só é utilizada em Portugal. Um neologismo, por assim dizer.

Para mim, estes dois eventos - os terremotos de 1755 e o de 2024 - demonstram algo fascinante sobre o ser humano: é mais fácil para Lisboa vivenciar um abanão total da cidade do que acabar com a ignorância. A resistência e o apego às crenças pessoais, mesmo diante de evidências claras, revelam um desafio constante. 

Em vez de buscar compreender e aprender com os fenômenos ao nosso redor, muitas vezes preferimos manter ideias desatualizadas, ignorando o progresso que a ciência e o conhecimento podem oferecer.

Mas os sismos estão aí, mostrando que talvez seja necessário abanar também algumas ideias preconcebidas que temos na cabeça.



.: No mundo cada vez mais rodeado de A.I.s, deixo aqui o meu toque de experiência pessoal. Nada do que está escrito neste pode ter acontecido de verdade. Contudo, nem tudo o que digo nele é mentira :.

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