Sobre Pebolim, Amor de Mãe e “the extra mile”

Aqui onde moro, há um dia específico (a cada trimestre) em que as pessoas colocam na calçada tudo aquilo que não querem mais. A ideia original é facilitar a coleta de lixo, concentrando em um único dia o descarte desses itens mais volumosos, que vão de geladeiras a colchões de casal, passando por móveis e churrasqueiras.

A grande maioria dos itens é realmente lixo e coisas quebradas mas, com um pouco de paciência, disposição e um verdadeiro espírito de ‘trash hunter’, é possível encontrar coisas novas e/ou em bom estado.

Ontem foi véspera de “Trash Bulk Collection” e resolvemos dar uma volta pela vizinhança ... Passamos por móveis quebrados, caixas de papelão e brinquedos faltando peças até que avistamos uma pilha de coisas. Chegamos perto e, para nossa surpresa, havia uma mesa de pebolim.

Lanterna em punho, verifiquei que estava em bom estado. Meu filho imediatamente perguntou:

- Podemos levar?

Resolvermos ficar com ela, afinal sempre sonhei em ter uma dessas em casa.

Retiramos algumas coisas que o dono anterior (naquele momento ela já era nossa!) havia colocado em cima e ... ela não entrava no porta malas da nossa van.

Tenta daqui, tenta de lá, em pé, de lado. Nada.

Pára. Pensa.

- E se a gente desmontar?

- E se tirar essa parte aqui?

- É muito longe pra levar a pé?

Ponderamos por mais de meia hora, em meio a uma crise de choro do meu filho. Tristeza e frustração dele e nossa.

Eu propus desistirmos mas, de coração partido por vê-lo naquele estado, minha esposa sugeriu: Apoiaríamos a parte que (quase) entrava no porta-malas e eu iria atrás, a pé, carregando a outra ponta da mesa.

Andamos 50 ou 100 metros assim. Não dava. O peso era realmente muito grande.

Nessa hora, o amor de mãe falou mais alto. Tudo para deixar nosso filho feliz. O foco era nele. Por ele e para ele.

Tentaríamos uma cartada final: Virar a mesa ao contrário, deixando os pés pra cima. Eu faria o contra-peso dentro do carro, assim me livraria do perrengue de ir a pé.

Cansado e totalmente descrente, dei de ombros, intimamente pensando que não iria funcionar.

E aí a mágica aconteceu: De ponta-cabeça a mesa deslizou praticamente inteira para dentro do carro... O que sobrou dispensava qualquer suporte ou apoio.

Voltamos pra casa, rindo da aventura e – antes do pequeno dormir – a estreia da nova atração da casa.

Horas depois, em silêncio, me peguei pensando em uma frase do Karate Kid, que li recentemente em um artigo:

“O sucesso está um pouco mais além de onde as pessoas comuns costumam desistir” - Sr. Miagy (Karate Kid)

Não fosse minha esposa fazendo o (im)possível pelo nosso filho, não desistindo facilmente e propondo todas as alternativas – óbvias e inusitadas – hoje à noite seria apenas mais um dia comum mas, não ...

 Hoje é dia de pebolas, bebê!

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