SOBRE PROFECIAS E PROFESSORES

SOBRE PROFECIAS E PROFESSORES

Profetas, originalmente, são os que predizem o futuro a partir de uma visão ou uma adivinhação. Conclamando-se como porta-vozes do porvir, estão cientes do impacto de suas palavras e alcançam intencionalmente devotos de suas causas. 

Os professores são igualmente munidos de poder profético, embora vivam alheios a ele, ignorando sua existência e impacto.

Os estudantes – crianças, jovens ou adultos – com frequência se empenham em satisfazer as expectativas que lhes são impostas (boas ou ruins) – materializando uma profecia. Nesse sentido, se convencermos um aluno que ele é ruim, provavelmente assim ele será. Os erros, quando potencializados em sala de aula, refletem-se para muito além do exercício ou da atividade, impactam no que o estudante acredita sobre si mesmo e reverberam em outras instâncias da vida. 

Ciente de sua função como profetas, os professores precisam agir de forma intencional, ampliando o número de devotos para a causa da autoconfiança e amor próprio.

Atualmente, no meio educacional, muito se fala sobre competência. Cada vez mais, da educação básica ao ensino superior, as escolas vêm transcendendo do conteúdo para o saber fazer. Há ainda, contudo, a necessidade de se consumar, nos programas de formação de professores, a função do professor enquanto mediador do sentimento de competência. 

Em determinados momentos da formação de um ser humano, mais importante do que realmente saber fazer é acreditar ser capaz.

Nesse sentido, o professor deve planejar toda a sua prática como se fora um profeta – alguém com o poder de ditar o vindouro, tendo a clareza de sua função humanizadora. Na prática, ser um profeta é mediar o sentimento de competência, tarefa que não é tão difícil quanto parece.

Primeiramente, é preciso que o professor conheça seus alunos; isso inclui, além de outras coisas, o nível de aprendizado que possui. Desse modo, será possível que aplique atividades suficientemente desafiadoras para serem alcançadas sem serem desinteressantes. O aluno se nutrirá da evidência de ser capaz e fará uso desse alimento em outras ocasiões. Contudo, se o conhecimento da totalidade dos alunos for demorado e até inacessível (por motivos diversos), será diante de uma atividade resolvida incorretamente que o professor poderá mediar o sentimento de competência. 

A formulação de perguntas que evidenciam os pontos corretos do processo ou que naveguem na zona de domínio do estudante poderá gerar igual força para o desenvolvimento do discente.

Um segundo fator importante é sempre clarificar o progresso alcançado por todos, de modo a demonstrar, para aqueles que não veem, a evolução que alcançaram. Parece absurdo que alguém viva cego a suas próprias conquistas, mas a falta de sentimento de competência embute verdades profundas – a realização de uma profecia. Além do sentimento de incapacidade, se originam a falta de motivação, a ansiedade, a impulsividade, a indisciplina e o mau desempenho. Todos inimigos do professor que, no final das contas, também sai ganhando com boas profecias.

Por fim, pode-se dizer que uma boa profecia afeta no desenvolvimento de crenças e atitudes positivas por parte dos estudantes; na motivação e engajamento da turma a despeito da possibilidade de errar; e na determinação do indivíduo de seguir tentando vencer os desafios que lhe são impostos. De fato, essas três coisas são fundamentais para uma vida saudável, ativa e próspera – nas escolas e além delas. 

No livro “Em busca de sentido”, Viktor Frankl demonstra a diferença entre aqueles que se colocam de forma positiva diante das adversidades e aqueles que se entregam. Esse posicionamento diante da vida define o próprio desenrolar dela. O fortalecimento do espírito do ser humano é uma ferramenta necessária para a vida - repleta das intempéries que lhes são características (não apenas a um ou a outro, mas a todos que neste planeta habitam). 

Por isso, professor(a), nunca pense que Matemática, Hidrologia, Anatomia, História – ou qualquer outra área do conhecimento que você domine - não se relacionam com a formação de um ser humano, porque o conteúdo é apenas o motivo para que você esteja profetizando diante de tantas vidas (embora esteja nas mãos deles a concretização de um póstero próspero).

Mas afinal, de que se deve tratar a profecia docente? De que todos são capazes de aprender – o sentimento de competência!



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