Sobre trabalho remoto, global e com propósito
Há cerca de um mês, participei de um evento para membros do S7, o coworking que frequento desde Julho deste ano graças à amiga Laura Dozza Reis, que me apresentou ao espaço. Nesse encontro chamado Hustle, alguns membros do coworking compartilham suas experiências, seus trabalhos e desafios, de maneira informal, regada à cerveja fresca (viva às sours da Armada Cervejeira!) e num dos lindos espaços do S7 (viva ao Circus da unidade “nutella”, minha área de trabalho de escolha!).
Como recém-chegada na casa, escolhi o tema “trabalho remoto, global e com propósito” para me apresentar e contar um pouco sobre a minha trajetória. E como esse foi um exercício bem interessante pra mim, resolvi colocar por escrito aqui o que compartilhei naquele dia. Se alguém tiver interesse em conhecer um pouco da minha história, convido a seguir lendo os parágrafos abaixo. Também convido vocês a fazerem um exercício como esse, de auto-reflexão sobre os diferentes caminhos que levaram vocês a estarem nos lugares em que estão atualmente em suas jornadas.
Talvez uma maneira de apresentar quem eu sou e o que eu faço da vida seja usando a palavra nômade. E eu não me refiro à essa buzzword atual, nômade digital. Mas eu acredito que, como muitos brasileiros, ser nômade, é parte inerente de quem eu sou. Eu sou natural de Porto Alegre, de mãe carioca, pai paulista, com avó mineira, tataravô português - enfim, quase uma música do Chico Buarque. Com origens libanesas, italianas, e nativo-brasileiras. Minha família se mudou várias vezes desde que eu nasci, até se radicar em Florianópolis quando eu tinha 10 anos de idade. Floripa foi o lugar em que eu cresci e o qual identifico como meu lugar de pertencimento.
Eu sempre me interessei pelas humanidades. Desde refletir sobre grandes questões existenciais, passando por pensar em o que nos une, o que nos faz viver em sociedade, e também em querer entender como as interações humanas funcionam. Isso me levou a escolher ingressar na graduação de Ciências Sociais — que engloba sobretudo o estudo de sociologia, ciência política e antropologia.
Quando eu terminei o bacharelado em Ciências Sociais, com muito contato com pesquisa por iniciação científica e tantas atividades, acadêmicas e extra-acadêmicas, que me envolvi durante os estudos, segui o caminho que me parecia natural: emendei um mestrado, em Sociologia Política, achando que eu queria ser pesquisadora e seguir carreira acadêmica. Até que, por conta da minha orientadora da época, surgiu uma oportunidade para que eu participasse de um programa de “desenvolvimento de jovens profissionais” na Noruega.
Eu embarquei nessa aventura e fui morar 1 ano e meio no ártico polar: com três meses no escuro, aurora boreal, três meses no sol, metros e metros de neve, muitas coisas bonitas e muita solidão também. Lá, eu trabalhei em um instituto de pesquisas, onde todo o trabalho deles era diferente da experiência que eu tinha com pesquisa até então: não ficava restrito à círculos acadêmicos, mas estava à serviço da comunidade, gerando impacto social e influenciando de fato políticas públicas locais, nacionais e europeias.
Vivenciar isso me mudou profundamente, e me desencantou da ideia de seguir carreira acadêmica da maneira com a qual eu tinha tido contato no Brasil. Aliado à isso, as experiências de troca cultural global que eu vivi, também me possibilitaram aprender muito sobre a minha própria identidade e a começar a ter uma percepção mais clara dos meus privilégios e barreiras, mas também fizeram com que eu me interessasse ainda mais por esses temas que, em certa medida, também foram parte dos meus estudos.
Então, quando eu voltei para o Brasil na metade de 2013 eu estava certa de que queria fazer outra coisa da vida. Por ventura do destino — no caso, por causa do meu primeiro ex-marido. O cargo de segundo marido ainda está aberto — eu fui morar no Rio e, como a maioria das pessoas adultas, eu precisava de um trabalho remunerado. Resolvi procurar um emprego que se alinhasse com essas coisas sobre as quais eu tinha algum conhecimento e que eu já sabia fazer, mas que eu ainda não entendia como traduzir em termos de habilidades e competências que fossem ser reconhecidas e valorizadas no mundo do trabalho.
Mesmo assim, o primeiro lugar para o qual eu mandei currículo e fiz uma entrevista, reconheceu um potencial nessa bagagem, ainda leve, e me contratou. Essa é a organização com a qual eu trabalho há exatos 5 anos. Uma organização internacional, não governamental e sem fins lucrativos, que oferece programas de educação experiencial que visam desenvolver conhecimentos, habilidades e entendimento interculturais — voltados sobretudo para jovens, mas também educadores, escolas, governos e outras instituições.
Eu comecei trabalhando no escritório deles no Brasil, sediado no Rio, desenvolvendo conteúdo educacional, fazendo pesquisa, e dando treinamentos para voluntários pelo Brasil afora, o que me permitiu conhecer ainda mais a diversidade cultural do nosso país. Eu fiz isso por dois anos, e ao mesmo tempo me aperfeiçoei em conteúdos de aprendizagem experiencial, comunicação intercultural, gerenciamento de projetos, entre outros tantos temas. Em Agosto de 2015, fui parar no escritório internacional dessa mesma organização, sediado em Nova York, para apoiar um programa global de aprendizagem intercultural (presencial e virtual) ofertado para voluntários e funcionários nos mais de 50 países em que a organização está presente.
Eu trabalhei de lá até Abril do ano passado, quando eu passei a ocupar um novo cargo, trabalhando para escritório internacional ainda, mas como gestora de projetos, apoiando nossos parceiros pelo mundo a implementar diversos programas, produtos e serviços educacionais que desenvolvemos para apoiar escolas e educadores no desenvolvimento da educação para a cidadania global. E como isso requer uma certa mobilidade para viajar pelo mundo e disponibilidades em horários malucos por conta dos mais variados fusos horários, eu poderia trabalhar remotamente de qualquer lugar. E eu escolhi fazer de Floripa minha casa novamente.
Eu estou agora no começo dos meus 30 anos e ainda no início da minha trajetória profissional. Mesmo com muita estrada pela frente, uma coisa da qual eu tenho certeza é que fazer do trabalho não só um meio mas um fim em si mesmo, que esteja alinhado também com os meus valores e visão de mundo, é algo essencial pra mim. Isso é o que eu considero trabalhar com propósito e, felizmente, eu tenho tido a sorte de conseguir fazer isso.
Designer, Pesquisador e Educador
6 aCoisa boa perceber o quanto os pequenos detalhes do cotidiano influenciam na nossa trajetória! Parabéns, e que a continuação da jornada seja linda!
TAB3 - Consultoria, Mentoria e Design Organizacional
6 aÓtimo depoimento! Instiga reflexões sobre o futuro do trabalho e todas suas possibilidades, principalmente sobre a mobilidade ampla, positiva e interativa. Gostaria de ter conversado mais com vc! Bj