Recentemente conversando com uma colega que atende no SUS, aprendi sobre seus desafios em fazer com que pais com bebês doentes crônicos adiram aos programas estabelecidos de acompanhamento e tratamento dos bebês.
Ela usou uma frase que para mim foi bastante forte: "Renata, pessoas e famílias que vivem no modo sobrevivência não conseguem entender o que significa não fazer algo e reconhecer os riscos do futuro. E o bebê sem poder de fala não tem como interceder e mostrar para os pais como podem estar prejudicando seu futuro, sem querer".
Fui pesquisar um pouco sobre instinto de sobrevivência e dos vários significados que encontrei, existe um que achei explicar muito do nosso mundo atual, independente de certo ou errado.
Instinto de sobrevivência é o instinto que objetiva conquistar, manter, preservar, melhorar a vida. Por sua própria natureza, ele atua contra tudo o que destrói a vida ou a segurança de viver. Este significado está no site Terapia do ser.
Gostei desta explicação porque quando olhamos para o mundo corporativo, podemos enxergar pessoas e empresas vivendo no instinto de sobrevivência de maneiras diferentes e por motivos diferentes, porém todas destruindo qualquer ação que lhes pareça arriscar seu estado mental atual. Vejamos alguns exemplos:
- Algumas empresas que estão passando por recuperação judicial ou reestruturação, geralmente contratam consultorias que conversam apenas com a diretoria, Ceo ou Conselho e tomam atitudes drásticas para sobreviver, correndo o risco de estar fazendo o que estão combatendo, sua morte. Algumas deixam de pagar contas importantes que prejudicam o ambiente de trabalho, outras demitem pessoas únicas que detinham o conhecimento da operação e da relação com entidades reguladoras e/ou parceiros, outras ainda desligam sistemas que continham o legado da empresa e deixam um rastro de pendências financeiras que com certeza crescerão no tempo. Muito deste cenário acontece, porque antes de chegar a este momento dramático o C-level já estava em modo sobrevivência, para manter cargos, status, condição financeira, imagem para o mercado e por outra infinidade de motivos que podemos discorrer. Fato é que no final do dia, a empresa vivenciou o momento presente em tempo integral e foi comprometendo seu futuro no dia-a-dia. Cada um no seu cargo e função estava apenas olhando para o seu presente e esquecendo que o todo só sobrevive se as partes caminharem juntas. Portando a desconexão entre a estratégia, a operação e as inúmeras reuniões no alto escalão das empresas eram parte integrante do cotidiano.
- Temos visto e ouvido inúmeras falas sobre doenças emocionais nas empresas, mas não conversamos como chegamos até aqui. Recorrentemente noticias sobre demissão em massa, sobre tecnologias eliminando profissões, sobre modelos de gestão destrutivos e ninguém se responsabilizando pelo tipo e qualidade da comunicação oferecida na mídia, nas empresas, na sociedade. Esta enxurrada de ações ruins gera o gatilho do instinto de sobrevivência em diversas pessoas que são arrimos de familia, que tem compromissos assumidos para pagar e são responsáveis de fato, pessoas que sonham em melhorar de vida e querem encontrar sua oportunidade dentro da carreira, pessoas que envelhecem com muita experiência e se sentem competentes para continuar produzindo, enfim, de uma lado temos pessoas querendo crescer e fazer, e de outro, uma comunicação destrutiva incinerando sonhos, oportunidades e competências , acionando o instinto de sobrevivência num ato "inconsequente". Como podemos exigir que estas pessoas pensem futuro?
- O tempo inteiro ouvimos grupos conversando sobre responsabilidade ambiental, responsabilidade social e governança num país desigual como o Brasil. Como podemos imaginar que num país com mais de 60 milhões de pessoas na pobreza, segundo o IBGE, quase 1/3 do país, onde as famílias estão buscando, ainda, a dignidade da comida, moradia, saúde e educação, será possivel falar: "não mate determinada espécie porque está em extinção, não coloque fogo em determinado lugar para não provocar queimadas". Será que estamos vendo, além do que é óbvio? Claro que existem pessoas que fazem muita coisa errada pelo dinheiro e talvez este seja seu "instinto de sobrevivência", sempre querendo mais dinheiro porque no seu modelo mental, as oportunidades são inúmeras no agora, para este individuo "melhorar de vida". Mas existem várias pessoas que realmente ainda estão querendo, só, sobreviver. Como este individuo pode pensar , falar ou ouvir sobre futuro do clima, planeta, se ele tem dúvidas se estará aqui no dia seguinte?
- Quantas empresas, com caixa apertado, estão no seu modo sobrevivência pelos mais distintos motivos. Como podemos falar sobre futuros com estes gestores e dizer que as empresas do século XXI precisam ser ambidestras, senão não serão capazes de sobreviver?
Talvez, tenhamos passado da hora de entender a profundidade dos nossos desafios como país e precisemos nos apaixonar pelos problemas reais que temos, desenvolvendo soluções conjuntas com quem passa pelo problema e com quem acha que o entende e pode ajudar a construir soluções, para juntos vivenciarmos o presente e construirmos o futuro que tanto falamos.
Boas reflexões Renata! Me veio a pergunta: o que podemos fazer hoje para transformar essa realidade? Parabéns!
Co-founder Phi Diagnostico Empresarial
9 mRenata querida; Você ousa pensar a partir do que observa, em vez de repetir teorias ou conceitos “validados”. Isto torna seus artigos sempre provocativos. Aliás, a provocação é o motor do pensar. Goethe afirmou em dado momento: “enquanto não pensamos em algo ainda não pensado, não estamos pensando”. Este é o lugar do não saber. E o não saber expõe nossas fraquezas e nos torna vulneráveis. Pois bem, quando colocamo-nos neste lugar podemos experimentar o autêntico pensar. Tenho testemunhado como aqueles que alcançam posto de alta gestão inclusive conselheiros temem este lugar “do não saber” e recorrem aos manuais de gestão, até por auto indulgência. Adorei o paralelo entre a miséria humana e a miséria organizacional, frutos do medo de ousar experimentar esse “não saber”. Felizmente, você não teme experimentar as polaridades, pois você já sabe que sem elas o verdadeiro fenômeno se oculta e voltamos para o espaço do ego e das velhas soluções que nos levam aos velhos lugares, sem ousar dar um salto de consciência e metamorfosear para o novo a partir dos opostos, mas na verdades são forças polares que se se intensificam até que algo novo surja. Parabéns!!!
Entrepreneur | Creator of Solutions for SMEs | Turning Marketing into Real Results
9 mExcelente texto, Renata Vilenky e uma reflexão super pertinente sobre os reais problemas e iria ainda mais fundo para tentar achar uma resposta a esse questionamento que vc faz ? qual é o nosso verdadeiro papel nessa história ? minha visão e sem querer politizar o tema - focamos em discussões erradas, polarizando e adotando politicos ou lados de estimação ao invés de aprofundar, atuar, implementar e executar aquilo que é essencial para o curto prazo, para construir o longo prazo. Serve para nossas casas, empresas, nosso bairro, nossa cidade, estado e País.
Head de Marketing | Trade Marketing | Merchandising | Estratégias de Marketing | Digital | Publicidade | B2B | B2C | Branding | Posicionamento da Marca | Comunicação | Canais de Marketing | Estratégias de Portfólio
9 mExcelente artigo Renata! O texto traz reflexões importantes, que parecem óbvias, mas que deixamos passar porque simplesmente ligamos o “piloto automático” e seguimos nossas vidas sem dar a devida atenção ao contexto no qual estamos inseridos. Precisamos aprofundar o debate nesses temas, e pensar em como podemos, de fato, contribuir para promover as mudanças tão necessárias para que nós, e as próximas gerações, tenhamos um presente, e um futuro melhores do que o que construímos até aqui!
Gestor Administrativo e Financeiro | Tesouraria | Meios de Pagamento
9 mÓtima reflexão!!!