Sobrevivendo para viver e ser feliz ;)

Certa vez, durante uma conversa difícil, o presidente de uma empresa que trabalhei olhou longamente para mim e, após um momento de reflexão, disse: você é uma sobrevivente! 

Confesso que sua voz ainda ecoa nos meus ouvidos e hoje me questiono sobre o tom desta mensagem tão enfática.

Naquele momento, emudecida pelas lembranças da minha vida, fiquei em silêncio. Me faltaram palavras para tentar entender aquela mensagem ou contra argumentar. Qualquer coisa que eu falasse seria absolutamente distante da realidade daquele homem, decidi me calar. 

so·bre·vi·ven·te

adjetivo de dois gêneros

1. Que sobrevive a outro.

substantivo de dois gêneros

2. Pessoa que sobrevive.e        

Sim, sou uma sobrevivente! E atualmente não tenho vergonha disso, mas já tive, e muita!!! 

Observo no dia a dia que sempre estamos prontos para tecer algum juízo de valor sobre as experiências vividas por outras pessoas e seus comportamentos, sem sequer considerar suas necessidades ou motivações.

Por exemplo, vivi com o pai do meu filho por 7 anos, e saí dessa união com um manto de memórias que são bem sofridas. Experimentei o desrespeito total. Descobri que o abuso acontece de muitas formas: social, por gênero, psicológica, patrimonial. Foram muitas humilhações, agressões, medo e ainda tinha que conviver com o olhar julgador e sempre com a mesma pergunta: “porque você não se separa dele?” Minha resposta era que não conseguia. Sentia pavor, simplesmente isso, pavor :( 

Diariamente, ouvia que era burra, pobre… e tantos outras agressões verbais que ainda não consigo reproduzir. Este abuso psicológico, somado a tantos outros, foi minando minha autoestima, cada dia um pouquinho. E atualmente sei bem o quanto é doloroso ressignificar os abusos sofridos. É uma reconstrução.

Naquele tempo não consegui sequer me respaldar em algo que quisesse em minha vida para tentar me fortalecer para sair daquela situação. Diante da dor e da solidão, comecei a esboçar pedidos de ajuda, sempre com muita cautela devido ao medo assustador que sentia. Criei a minha lista do que eu não queria mais para minha vida. Dessa lista, separei as três primeiras: 

1. Não quero mais ser chamada de ignorante
2. Não quero mais ouvir alguém me mandando calar a boca
3. Não quero mais ser alvo de críticas constantes…

E por aí vai… Com o tempo, minha lista foi aumentando, assim como minha vontade de sair daquela situação absurda. E consegui. Sobrevivi!

Na época, recebi muito apoio da minha mãe, que recentemente postei sobre sua conquista aos 76 anos, se graduou na universidade. Sua história e atitudes diárias sempre me trouxeram a inspiração para a coragem que me faltou em alguns momentos, e chegamos até aqui. Este post rendeu mais de 96 mil visualizações e me surpreendi! Me dei conta que talvez o mundo precise de mais histórias reais de vitórias e conquistas, e estou aqui para contar =D sem medo de me expor e ser vulnerável, desde que sirva de inspiração para tornar nossos desejos mais sinceros possíveis.

Durante os últimos anos não acreditava mais ser possível encontrar alguém para compartilhar minha jornada nesta vida, maaaaaasssss… No último sábado, dia 05 de fevereiro, eu disse “sim” diante do juiz de paz para o homem que me ajudou a renascer, algo que imaginava ser impossível no alto dos meus 51 anos de vida. Meu casamento, absolutamente simples, está sendo um marco em minha vida e me trouxe muitas reflexões.

Uma das principais reflexões foi em torno de acrescentar o sobrenome do Fernando ao meu nome. Meus pensamentos divagam no tempo, pela minha história e pela minha trajetória para construir e me empoderar do meu nome. Compreendo que o nosso nome tem um impacto e diz muito sobre a relação com nossa personalidade, que é associada à postura de valores, como julgamos determinados objetivos, como a liberdade, ou disposições de ação como a honestidade, como desejável ou não. Também é apresentada uma competência social, onde demonstra capacidade de defender ou impor os seus interesses e a capacidade de construir relacionamentos.

A personalidade pode ser classificada pelas atitudes, pela autoestima, como o juízo que a pessoa faz de si mesma, o bem estar, que representa também um traço da personalidade, e que tem a ver com a parte subjetiva da saúde mental.

Pra mim, meu nome sempre foi uma coisa muito forte. Procurei abstrair para entender como esta mudança me afetaria. Pensei sobre a história, que nos conta que no passado assumir o sobrenome do marido estava associado a se tornar propriedade, era uma obrigação da mulher e, até os dias de hoje, é até considerado ato de resistência. Tantas reflexões:/ 

Para mim, este foi um ato mais de romantismo devidamente pensado e analisado para eu simplesmente fazer o que me deu vontade e ser feliz =D

Meu casamento representa para mim, além do amor que encontrei, uma vitória sobre minhas inseguranças e meus medos. Ter ao meu lado alguém que olha e caminha na mesma direção, com tranquilidade e equilíbrio. Assumir o sobrenome do Fernando, traz à tona minha veia romântica, sim, é verdade, mas eu posso, não é mesmo? Agora só quero comemorar e gritar para o mundo que é possível vencer situações que parecem invencíveis, considerando que dentro de nós está a força e coragem que precisamos. E acreditar, sempre!

Sobrevivi para ser feliz e tornar possível outros sonhos, vem comigo!

Karen Monterlei Firpo