Solta e leve como devo ser

“Se a gente falasse menos talvez compreendesse mais”, diz a música na rádio. Lembrei dos últimos dias. Meu cansaço e minhas palavras. Talvez pudesse poupar energia se calasse mais. Então me reúno no “ao vivo” com uma galerinha que converso só pela internet e escuto suas histórias. Ouvir me traduz. Me coloca em um lugar nesse mudo. Quando escuto, me reconheço e me encontro.

E por falar em encontros, me encontro em férias, por isso me encontro comigo. Me encontro com uma amiga de tempos, então me encontro com quem fui e com quem sou. Reconheço-me. Tão bom ser dona do meu tempo outra vez. Sim, as férias fazem isso com a gente. Poder fazer escolhas do que quero fazer dos meus minutos. Agora um banho de sol. Agora uma conversa solta com um bom chimarrão. Ou um show ao ar livre em plena Avenida Paulista.

A música me embala. Gosto de poder escutar o som sem conversas internas. O que preciso fazer amanhã? O que tem para entregar? Como vou resolver aquela encrenca? Não há nada aqui na cabeça para concorrer com a música. Estou de férias. Posso deixar-me invadir pelo ritmo, pela letra. Me calo e me encontro. Me embalo. É preciso um pouco desse ritmo para me entender no agora. Agitada, rock and roll; concentrada, vou no clássico; animada, puxo um samba. Tudo tem de mim, tudo me traduz quando calo e me deixo escutar.

Qual a programação? Nenhuma. Ou qualquer uma que der vontade. Vou sair por aí, explorar a cidade que habito e não conheço. Exploro para me reconhecer. Há sempre uma lente no que vejo. Traduzo minhas andanças pelo que carrego em mim. O que vejo, o que interpreto. Poucas palavras e muito sentir.

Fico aqui pensando o quanto deixamos passar no dia-a-dia. O que há fora da rotina que pode nos deixar mais vivos. Penso que dava para colocar mais aventura nesses dias. Alguns trens e, quem sabe, um sorvete no fim do dia. Será que estou me colocando uma tarefa para o fim das férias? Nada de tarefas. Quero o acaso e o encontro. O que vier, virá.

As férias pedem leveza. Nada de tarefas pendentes nem planos para a volta. É dormir quando der vontade e acordar para ver o que será. Nesse passo sem pressa vou seguir meus dias. O amanhã chegará e por enquanto não me importa muito. Penso no que vou comer logo mais, no banho relaxante, na cama macia. Aqueles pequenos prazeres que a gente esquece quando está com a cabeça e a boca cheia de palavras. Me calo e compreendo. E a música continua rolando na rádio. Solta e leve como devo ser.