SOU RADICAL
Enojado, agoniado, anojado, enjoado e nauseado é como eu me sinto.
A questão ética neste País deixou, há muito, de ser uma questão de governo para ser a consequência de nossa (de)formação moral ao longo do tempo. Parece haver um certo glamour em ser bandido ou, no mínimo, acusado de o ser.
A pessoa recebe voz de prisão e ao ser conduzida pela autoridade policial ainda masca chiclete numa atitude de escárnio explícito pelas nossas instituições. Alguém, com razão, haverá de dizer que mascar chiclete não é crime e é verdade. Mas também parece ser verdade que a nossa deformação moral também não será remediada pelo direito penal.
O roubo (aqui entendido como qualquer forma de enriquecimento ilícito) é só uma questão de oportunidade. Variável é o volume, ou seja, quem tem oportunidade de roubar muito, rouba muito e compra imóveis, deposita vultosas quantias no exterior e ostenta toda a sua canalhice. Quem tem menor oportunidade de roubar dinheiro rouba a oportunidade de um convívio social sadio, ou seja, deixa de pagar a tarifa de ônibus, ultrapassa veículos pelo acostamento, estaciona em vagas privativas de idosos e deficientes, obtém falso atestado médico e outras manobras.
Das palavras do Procurador da República Deltan Dellagnol temos que o momento que vivemos (investigações criminais dignas de um seriado de TV ou enredo de um filme de terror) não implica a mudança de um povo mas constitui uma oportunidade para que possamos ter, no futuro, uma geração capaz de conviver de forma ética no verdadeiro sentido filosófico.
A saída é criar nossos filhos com base em valores éticos da honestidade, da lealdade, da responsabilidade e da transparência. A liderança há de decorrer do exemplo. É necessário adotar uma política de tolerância zero para atitudes que atentem contra tais valores mesmo correndo de se ganhar a alcunha de radical.
Aliás, conversando com uma pessoa muito próxima, disse ela que, em determinados temas, sou radical. Pesquisando, encontrei que “O Radicalismo no sentido filosófico pode ser definido como uma política doutrinária reformista que prega o uso das ações extremas para gerar a transformação completa e imediata das organizações sociais.” (wikipedia)
O que poderia soar com um insulto me pareceu um elogio (e assim o tomei).
Eu prego o uso de “ações extremas” no sentido de construção de uma cultura de tolerância zero em relação às bandalheiras ocorridas neste país. Entenda por ações extremas aquelas tomadas no âmbito familiar no sentido de mostrar aos nossos filhos e demais familiares que não toleramos o roubo (em sentido amplo) em qualquer de suas formas. Essas “ações extremas” também tem lugar nas companhias por meio de uma atividade de “compliance” que não admita condutas contrárias a seus valores institucionais.
Permita Deus que a geração futura tenho comportamento mais sadio. A nossa geração está perdida.