Sr. Biu

Sr. Biu

_Biu, meu nome é Biu! Assim falou Severino Aroeira. Eu não entendo porque todo Severino é apelidado por Biu.

São Paulo é muito grande, amigos! Imaginem o Brasil! Aqui temos uma diversidade multicultural enorme, é multirracial, e muito problemática. Entendo que deve ser muito complicado para um administrador público gerir tudo isso. Ele tem que ser bom e ter uma equipe bem preparada e confiável, honesta e obreira. Será que temos? Bom, do ponto de vista ético e noticiado nos meios de comunicação, alguns não são.

Morar aqui é um desafio e a cada dia chega mais gente dos quatros cantos do mundo. Arranjar emprego ficou ainda mais difícil com o enrosco econômico que o Brasil se meteu.

Do ponto de vista histórico é bastante interessante sua formação, mas, “Pô meu!” os primeiros a surrupiar o que aqui temos foram os portugas com a ideia de Metrópole e Colônia. Na realidade quem ganhou mesmo, foi à Inglaterra.

Acredito que este é o período que mais baixas tivemos nos quadros das empresas. Existe ainda o agravamento das invasões de fronteiras por parte dos refugiados que migram de seus países com problemas que não conseguem resolverem na origem, e acreditam que aqui é a "Meca" dourada. Não bastam os problemas que aqui temos e se não sabem, esta cidade está como um caldeirão de feijoada cheio, fervendo e pronto pra derramar.

Biu está desempregado. O empreendimento que ele trabalhava está paralisado por falta de verba advinda do orçamento da união. Assim como ele outros foram demitidos no mesmo dia. Se brincarmos de professor e aluno, aprenderemos até o ABC paulista em montar e destruir. As grandes empresas sumiram quase todas para o interior e outras não tiveram folego financeiro e faliram. Os empreendedores que continuam a investirem aqui são verdadeiros heróis.

Ajudante de pedreiro, homem simples e trabalhador. Não rejeita trabalho de forma alguma e mora de aluguel com a mulher e dois filhos. Onde mora é simples e torce para que quando chove que seja de “vagarinho” para não inundar a rua e as casas a sua volta.

Chover mesmo tem que ser na Cantareira, mas, lá está igual o sertão do Cariri, onde era pra fazer uma outra barragem não fizeram. Alguém teve a brilhante ideia de investir o dinheiro em ações na bolsa de valores aí se empolgaram com o mercado financeiro e esqueceram que o verdadeiro negócio era gerir os recursos hídricos de forma sustentável e fornecer água tratada a população paulistana. “Pô meu!” que merda!

Biu saiu da estação do Brás e desceu do trem na estação de Tamanduateí, subiu as escadas saindo pela catraca em direção a Avenida do Estado, atravessou a pé e continuou sua caminhada. Não gosta de ônibus lotado. Prefere caminhar uns três quilômetros a pé até chegar a sua casa .

O nosso ilustre cidadão migrante usa camiseta branca e bermuda em tecido xadrez comprados nas lojas de confecção go Brás, boné genérico de uma marca famosa importado da china e chinela Havaianas no pé. Ele caminha longos percursos e enrola bolinhas de papel entre os dedos da mão direita. Atira-as sobre as guias da rua displicentemente. Eu não sei se é um meio de externar o pensamento mais profundo, desvio de conduta ou lembranças de outrora.

Acho que ele tem prazer em fazer isso. É setembro, o céu paulistano começa a escurecer e Biu começa a resmungar antes de chegar a casa:

_Lá num sertão num chovi não sinhô, demora muitho. Aqui é dimais. Os açudis de lá tá seco, mai agora miorô um pouquinho cum a cisterna casera, mais ainda é pôcu. Nós viemos pra cá pra sum palo tê uma lui mai que lui?  “Pô meu!”

Nem falemos em conta de luz elétrica. Oh! A daqui tá cara, muito cara! Vem até com uma bandeira vermelha de presente. É tão cara que parece que o coletor das informações do medidor passa anotando do outro lado da rua.

Do outro lado da rua na janela de uma casa, um amigo de Biu gesticula usando sinais de libra e ele responde o cumprimento. Entre ambos, passa um senhor puxando uma carroça cheia de papelão e vendo Biu gesticulando freneticamente em sua direção, não entende nada. Balança a cabeça e pensa: _ “Esse aí está louco” e pior do que “eu”. Não percebeu o dialogo em libra dos vizinhos. o carroceiro continua seu caminho em direção ao ferro velho.

E eu daqui em minha janela, só a olhar aqueles movimentos demandado por ações humanas. Uaaaaaah!. Nossa? “Tô com sono”. Vou tirar uma soneca!

 

Autor: Juarez Vasconcelos

Conto: Sr. Biu – Adaptação de um diálogo que ouvi no trem em São Paulo entre as estações Brás e Tamanduateí em 14/09/2015.

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