Storytelling: usando arquétipos para cativar e engajar o público
imagem retirada da vecteezy.com

Storytelling: usando arquétipos para cativar e engajar o público


Pode parecer desafiador criar uma narrativa envolvente que desperte emoções, que cative e interaja com o público, porque pensamos que não temos nada para dizer, nada para agregar ao outro, que nossa história talvez não seja tão interessante, que seja só mais uma história como de outras pessoas por aí. 

Acontece que todo mundo tem uma história para contar. Como meu professor do curso de roteiro sempre diz: “Cada história conta. Todos contam histórias. Tudo conta história.”

E se você acha que não tem repertório, sugiro ler meu artigo "Construindo Repertório: descobertas e inspirações". Existem inumeras possibilidades e todas estão ao seu alcance.

Neste artigo irei falar de arquétipos, mais precisamente a famosa jornada do herói e como isso pode te ajudar a desenvolver um bom storytelling para qualquer coisa. Seja para lançar um infoproduto, construir uma marca ou até mesmo para uma apresentação de slides ou entrevista de emprego, qualquer coisa na qual você busque conquistar mais audiência e por meio desse conteúdo criar engajamento, interações vínculos verdadeiros e sinceros. 

Ou seja, este conteúdo é para escritores, empreendedores ou qualquer pessoa que queira contar histórias cativantes. 

Para isso falarei:

  • Carl Jung: o inconsciente coletivo; 
  • Os arquétipos; 
  • Jornada do Herói

Jornada do herói nos cinemas  

Jornada do herói na vida real 

Arquétipo do herói em marcas

  • Considerações Finais  

Carl Jung: o inconsciente coletivo 

Carl Gustav Jung é um renomado psiquiatra suíço que criou o termo inconsciente coletivo, esse termo foi uma forma de descrever uma camada profunda da psique humana que transcende a experiência individual e é compartilhada por toda a humanidade, ou seja, foi uma forma de explicar que determinadas experiências não são tão únicas assim, foram vividas por outras pessoas também. Ele as chama de experiência arquetípica, que consiste em vivências ou situações que ressoam semelhantes a outras, padrões universais ou temas recorrentes. 

A ideia de inconsciente coletivo diz respeito a uma reserva de experiências, memórias, imagens e padrões que são comuns a todas as pessoas, independente de cultura ou contexto. Por exemplo, muitas histórias folclóricas ao redor do mundo apresentam arquétipos comuns, como a jornada do herói, o mentor sábio, o vilão. 

Em razão dessa conexão que transcende fronteiras de tempo e espaço, as experiências arquetípicas têm o poder simbólico e profundo sobre as pessoas, despertando senso de reconhecimento ou conexão emocional, pois essas experiências tocam aspectos fundamentais da condição humana.

Entender e explorar esses arquétipos pode ser útil na psicologia, arte, literatura ou em qualquer outro campo. Tenho certeza que você já leu algo e pensou "Uau, essa pessoa conseguiu expressar exatamente o que eu estava pensando, mas não consegui encontrar as palavras certas para dizer.".

Os arquétipos 

Christopher Vogler, em seu livro "A Jornada do Escritor: estrutura mítica para escritores”, fala a importância de se entender os arquétipos para assim compartilhar boas narrativas que se conectem com o público: "Joseph Campbell tratou os arquétipos como um fenômeno biológico, como expressões dos órgãos do corpo que se conectam dentro de cada ser humano. A universalidade desses padrões torna possível a experiência compartilhada da narrativa. Os narradores escolhem por instinto personagens e relacionamentos que justificam a energia dos arquétipos para criar experiências dramáticas que sejam reconhecíveis a todos. Ter ciência dos arquétipos concede um domínio sobre seu ofício."

Os arquétipos que aparecem com frequência nas histórias e costumam ser os mais úteis e importantes, amplamente reconhecidos na psicologia, na literatura e em outras áreas, são: 

HERÓI : Ele representa a coragem, bravura e a busca por superar desafios para alcançar um objetivo nobre. 

MENTOR: Uma figura sábia que guia e aconselha o herói em sua jornada, transmitindo sabedoria e conhecimento.

CAMALEÃO: Representa adaptabilidade e flexibilidade. É a capacidade de se ajustar às circunstâncias e mudar de forma ou estratégia conforme necessário para alcançar os objetivos.

SOMBRA: Representa os aspectos mais obscuros e reprimidos da psique humana. Pode incluir impulsos, desejos ou traços de personalidade que são negados ou reprimidos pela consciência.

ALIADO: É uma figura que apoia e auxilia o herói em sua jornada. Pode ser um companheiro de aventura, um mentor ou qualquer pessoa que forneça suporte emocional, orientação ou recursos para ajudar o herói a alcançar seus objetivos.

TRICKSTER: Um personagem astuto, muitas vezes desafiador das normas sociais, que pode trazer mudança e transformação.

VILÃO: O oponente do herói, representa o mal, a escuridão e os desafios que o herói deve superar.

Retirado do Google Fotos


Jornada do Herói 

Você já deve ter ouvido falar ou pelo menos já consumiu filmes, séries e até mesmo livros que usam esse arquétipo. 

O objetivo de se usar o arquétipo do herói é o de alcançar o público já nos estágios iniciais da narrativa, pois é neste momento que as pessoas se identificam com o herói “fundir-se a ele e enxergar o mundo da história através de seus olhos”. E isso se dá pelo fato de que o herói possui desejos universais e individuais que facilmente entendemos como o desejo de ser amado, compreendido, bem sucedido, sobreviver, ser livre, consertar erros e injustiças. 

Através da narrativa do herói nós entregamos parte de nossa identidade pessoal no personagem (herói), a história nos convida a fazer isso.

Para entender e enxergar melhor a importância do arquétipo do herói para a construção de boas narrativas e entender como ele é tão presente em nosso cotidiano, vou dar alguns exemplos fictícios e de pessoas reais.

Jornada do herói nos cinemas 

Um exemplo clássico do cinema é o filme O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien: a narrativa dividida em três filmes segue o personagem Frodo que recebe a responsabilidade de destruir o "um anel", que tem o poder de destruir o mundo no qual ele vive. Durante essa jornada ele enfrentará terras perigosas, batalhas épicas e encontros com diversas criaturas. Ao longo dessa jornada, Frodo passa por uma transformação pessoal significativa, enquanto precisa enfrentar o mal e a corrupção do próprio anel. 

No filme Star Wars episódio: IV - Uma nova esperança, o personagem Luke Skywalker passa de um simples fazendeiro em Tatooine, e se torna um dos Jedi mais poderoso da galáxia. Nesse processo ele enfrenta inúmeras provocações, aprendendo com mentores (o arquétipo do mentor) Obi-Wan Kenobi e Yoda, para no fim enfrentar alguém tão poderoso quanto ele, Palpatine e Darth Vader (seu pai).

Um filme que usa o arquétipo da jornada do herói, dentre outros arquétipos que alimentam o enredo e enriquecem ainda mais a experiência cinematográfica. 

Jornada do herói na vida real 

Embora a jornada do herói seja frequentemente explorada na ficção, podemos aplicar isso em histórias de pessoas reais como: Nelson Mandela. 

Nelson Mandela foi um líder sul-africano que lutou contra o apartheid, um regime de segregação racial que ocorreu na África do Sul. Sua jornada envolveu décadas de ativismo, o qual o levou à prisão, resistência pacífica e negociações políticas. Após 27 anos de prisão, ele se tornou um símbolo global da luta pela justiça e pela igualdade. Durante todos esses anos de vida, ele fez sacrifícios pessoais, abriu mão de sua própria família e da liberdade, o que resultou, ainda que tardiamente, a libertação da nação, reconciliação e a democracia.

Veja bem, apesar de ser uma pessoa real, há na história dessa figura emblemática elementos fundamentais da jornada do herói, incluindo desafios, sacrifícios, crescimento pessoal e eventual triunfo sobre a adversidade. 

Você possui uma jornada, ela pode está acontecendo agora, e inevitavelmente você passará por momentos difíceis, que te farão questionar tudo ao seu redor, duvidar de si mesmo, duvidar dos outros, haverão momentos em que você terá medo de arriscar, medo de não alcançar seus objetivos, terá que fazer alguns sacrifícios, e no meio de tudo isso, você viverá uma transformação pessoal, pois é no processo que crescemos, amadurecemos e criamos confiança.

Mais um exemplo brilhante de que dá para usar a jornada do herói para construir um bom storytelling é a jornada de Gilberto (Gil do Vigor), participante do Big Brother Brasil (BBB), que gerou conexão com milhares de brasileiros. 

Na jornada do herói, ele é chamado para a aventura no primeiro momento e podemos dizer que a entrada do Gilberto no BBB é a sua chamada, apesar de ter se inscrito no programa, havia milhares de outras pessoas inscritas, mas ele foi o escolhido e ele aceitou o desafio de participar do programa como uma forma de ganhar mais visibilidade, uma oportunidade de representar sua história e identidade. 

Ao longo do programa, Gilberto enfrentou inúmeros desafios e provocações. Lembrando que é um lugar em que você fica sem acesso a qualquer tipo de informação, cheio de pessoas desconhecidas. Ele vai precisar de aliados e mentores, amigos que o ajudaram e incentivaram. 

Não tem como entrar nesse tipo de programa sem vivenciar uma jornada interna, sem passar pelo processo do autoconhecimento e seu crescimento pessoal. O Gil teve que enfrentar os seus medos e inseguranças, enquanto compreendia a si mesmo no meio de toda a dinâmica. 

A batalha final pode ser representada pelos últimos momentos do Gil no jogo, no qual teve que enfrentar outros participantes que também desejavam o prêmio final.

O retorno, que é o momento em que o herói se transforma, aprende uma lição valiosa e finalmente consegue solucionar algum problema, pode ser comparado ao pós BBB do Vigor, que mesmo não tendo vencido o prêmio final, ele ganhou o amor e admiração de milhares de pessoas, passou a ganhar muito dinheiro com publicidade e hoje faz doutorado nos Estados Unidos. Lembrando que o Gilberto veio de uma origem muito humilde. 

Arquétipo do herói em marcas  

Algumas marcas usam o arquétipo do herói em suas campanhas publicitárias para criar narrativas emocionantes e inspiradoras para o seu público-alvo. 

Pode-se dizer que as campanhas de marketing transmitem a sensação de “Chamada para a aventura”, ao tempo em que mostram os desafios a serem superados e de que forma eles poderiam ser superados por meio de seus produtos. 

Alguns exemplos de marcas que incorporam esse arquétipo em suas estratégias de branding: 

Nike “Just Do It” : ela inspira atletas a superar desafios e seus próprios limites, através de exemplos de outros atletas que superaram seus desafios e alcançaram sucesso através de trabalho duro. 

Red Bull “Red Bull te dá asas”: suas campanhas costumam celebrar a coragem, aventuras e superações de limites. Além disso, a marca patrocina vários atletas, justamente incentivando-os a terem coragem e perseverança.

Apple “Think Different”: também é possível identificar o arquétipo do “Criador”, pois é uma marca que incentiva alcançar seus objetivos e criar coisas novas e revolucionárias usando seus produtos.

Considerações finais 

O arquétipo do herói vai te ajudar a construir uma estrutura narrativa, justamente por ser algo universalmente conhecido, por alcançar o público devido a sua familiaridade e conexão emocional. E isso pode ser usado tanto na escrita de ficção, criação de filmes, publicidade ou em qualquer forma de comunicação narrativa. 

  • Identificação do público
  • Conflito e superação
  • Transformação pessoal
  • Universalidade
  • Facilidade de compreensão 


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📚 Referências Bibliográficas:

A jornada do escritor - Christopher Vogler


Sobre o Autor

Emanuella Barros, redatora freelancer e ghostwriter, formada em Direito, com expertise em escrita criativa, marketing, copywriting e SEO. Atualmente estou cursando roteiro na EBAC.

Mantém a newsletter Café sem Açúcar, explorando o mundo por meio da escrita criativa, abordando filmes, literatura e crônicas sobre o cotidiano.

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e-mail: emanuellabarro@gmail.com


Anita Perez

Presidente da INOVA EJ | Social Media da Executa.co

10 m

Que artigo maravilhoso! Entender os arquétipos é uma parte importantíssima do desenvolvimento de histórias e narrativas. É tão satisfatório ler, assistir e interagir com marcas em que é possível identificar essas jornadas. Só não supera a oportunidade de criar essas narrativas. 😍

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