A sua versão, a minha e a verdade

A sua versão, a minha e a verdade

"Todos os fatos têm três versões: a sua, a minha e a verdadeira." Provérbio chinês

Outro dia recebi a ligação de uma amiga dizendo que precisava desabafar sobre algo que estava acontecendo na empresa em que trabalha. Marquei um happy hour e sentamos para beber e conversar.

Durante algum tempo a ouvi relatando o desconforto que ela sentia com o atual clima na empresa: dois gerentes não estavam se entendendo, gerando ruídos e divisões. Um ela descreveu como arrogante e autoritário, o outro como humilde e conciliador. Com perfis tão distintos, não tardou para que as diferenças ficassem evidentes, o que contaminou negativamente as diversas áreas.

Eu expliquei que não entendia onde estava o problema, já que ela não era subordinada a nenhum dos dois e recebi a resposta que o dilema era como se posicionar a favor do gestor com o qual ela mais se identificava – o gerente conciliador. “Ele é tão simpático, conversa com todos independente do cargo”.

Perguntei o que a incomodava no outro gerente. “Ele é arrogante, não pede, impõe e soube que trata a equipe dele muito mal”. Fiquei ouvindo atenta, mas em certo momento lembrei da frase que um dia o presidente da empresa me disse: “Vilna, há sempre três versões – a sua, a do outro e a verdade”.

Mudei minha escuta e tentei identificar alguma crítica profissional, algum fato que qualificasse o trabalho daqueles dois gerentes e confesso que não consegui. A fala dela me passava a impressão de defesa de alguma causa, os argumentos pareciam coerentes, mas com o foco errado.

 Foi então que repeti para minha amiga a frase que aprendi com o presidente. Depois perguntei quais eram os resultados e entregas destes dois gestores. Expliquei que em um ambiente profissional, esse deve ser nosso foco. Há evidências de má gestão? Os resultados mostrados são os esperados pela empresa? Alguma evidência de desonestidade? Então ela me disse que não sabia dizer ao certo e ficou em silêncio. Pouco tempo depois, admitiu que não tinha pensado desta maneira e que realmente havia acertos e erros em ambos os lados.

Ficamos mais uma hora refletindo sobre o quanto nos deixamos influenciar por questões pessoais sem perceber, julgamos quem está certo ou errado por afinidade. Além disso, idealizar um colega de trabalho pode ser perigoso e injusto, pois todos temos defeitos e criar expectativas exageradas só transformará uma relação sadia em ruim.

Na vida - e no mundo corporativo não é diferente - não existe apenas uma versão. Cabe a cada um saber dar espaço necessário para que o profissionalismo não seja sufocado por percepções nem sempre reais.


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