Sucesso: A conexão entre gerações, legados, e a visão de futuro.
Nos últimos dias, nos tornamos especialistas em vários esportes. Quem não acorda e comenta uma prova de arco e flecha com maestria? Ou que fala o que a seleção de volei deve fazer no conforto do sofá? Ou que o saque do calderano é diferenciado? Sim! Tem muita gente assim!
Brincadeiras a parte, ontem o G4 Educação lançou mais um episódio do podcast extremos, que particularmente sou fã e ouvinte.
O papo trouxe ainda mais força em algumas reflexões que tive outro dia com alguns amigos, nas maravilhosas e democráticas mesas de bar.
O esporte definitivamente depende (talvez até mais que as empresas), da importância das gerações e das suas respectivas transições.
Antes de ontem tivemos um exemplo clássico disso que mencionei acima. De maneira brilhante o time feminino do Brasil trouxe pra casa a medalha de bronze na ginástica artística. Lideradas por Rebeca Andrade, e um time equilibrado entre experiência e juventude, a força de uma equipe foi consagrada.
Jade Barbosa, com 33 anos, participa da sua 3a Olimpíadas. Em Pequim, 2008, ficou em 8o com a seleção brasileira. Anos depois sofreria mais uma lesão no tornozelo que tiraria o gostinho de mais uma competição olímpica. Nada disso foi capaz de abalar o propósito da atleta que em uma entrevista recente, disse que só terminaria o seu papel no esporte quando se tornasse um exemplo para outras atletas. Ela conseguiu.
Por um outro lado, Julia Soares, com apenas 18 anos trouxe leveza e energia nova pra essa equipe. Com apenas 18 anos, ela teve um movimento nas barras batizado com o nome dela. Responsa, né?
Rebeca se mostra a líder técnica desse time. Além de talentosa, é de um carisma único. Se conecta com o público e encanta até as mais fantásticas das adversárias, não é mesmo, Simone Biles?
Hoje, Rebeca conquistou mais uma medalha. Enfrentou uma máquina. Simone continua sobressaindo, mas temos na terrinha (Alô Brasilzão) a segunda melhor atleta de ginástica do Mundo. O quanto isso representa? Quantas "Rebecas" surgirão depois dessas conquistas? Assim como surgiram "Ronaldos" seguidos do corte cascão, assim como "Raíssas", com várias fadinhas pelo Brasil, assim como "Gugas", que insistiram em desenhar corações no saibro pelo mundo.
Saindo da ginástica pro Volei. Giba protagonizou o último episódio, como mencionei no começo deste texto. Esse ano, fazem 20 anos que a equipe liderada por ele, e na companhia de Nalbert, Serginho, Giovani e companhia limitada, levou o ouro em Atenas. No banco, a figura de um dos maiores nomes do atleta Brasileiro: Bernardinho.
A seleção brasileira de Volei, continuou após essa geração, ganhando títulos, disputando olimpíadas e finais consecutivas. Os anos foram passando, a mescla entre experiência e juventude se fez presente. Serginho, no auge dos seus 40 anos, era o líbero com maior vigor da liga. Maurício, levantador habilidoso, deu espaço à Bruninho, que muito teve que provar por "ser o filho do treinador". Segue lá até hoje, jogando o fino da bola, como dizem por ai.
Giba no episódio menciona a falta de cuidado e carinho com as gerações passadas, a falta de cuidado na "passagem do bastão", no cuidado em transpor barreiras juntos e de transmitir o conhecimento. Quanto será que esse time campeão olímpico aprendeu ao tomar uma virada da Russia nas Olimpiadas de Tokio? 2 sets a zero, terceiro set 20 a 18 para o Brasil. O treinador Russo vê uma brecha. Muda o time. Vitória Russa. Brasil perdido dentro e fora das quadras. Todos ensinamentos desse dia, serão e foram levados para as outras gerações. Pode acontecer de novo? Sim! Mas por falta de aprendizado não.
E a batalha de Belgrado: Brasil x Sérvia e Montenegro - Final do Mundial de 2003.
A Seleção Brasileira protagonizou uma final de mundial eletrizante em 2003. A equipe enfrentou a Sérvia e Montenegro e conseguiu a vitória no tie-break, por inacreditáveis 31 a 29, fechando a partida em 3 sets a 2.
Segundo Giba, 31 a 29 foi um dos momentos mais extremos dele em quadra. Lembrando que o tie-break vai até 15. Loucura.
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O que serviu de exemplo para estes e outros esportes, faltou para a paixão nacional: A Seleção Brasileira de Futebol.
Começando por ser o principal esporte do país, quando o assunto é futebol sempre temos uma comoção nacional. Vale lembrar: eram apenas 4 minutos. Já tinha esquecido né? Que o Fred subiu pro ataque e o Brasil estava ganhando com um golaço do Neymar. Era o roteiro perfeito. Muitos dizem que se passássemos o título era nosso. Apesar de que, final de copa... como dizem lá pelas minhas terras: o trem é diferente. É! A Croácia fez o gol... o resto é história.
A geração do penta, não transferiu o belo trabalho da família Scolari para as gerações seguintes. Não houve uma transição com nomes como Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, até o Vampeta seria uma figura de liderança, mesmo sendo de certo modo fanfarrão. E se Adriano Imperador tivesse continuado jogando aquele futebol maravilhoso? E se o Brasil pensasse no longo prazo?
Do dia pra noite, a seleção passou a contar com Neymar, para muitos, o novo Pelé. Além dos títulos pelo Mundo, incluindo a milionária Liga dos Campeões, além de uma medalha de ouro para o Brasil com a Seleção Olímpica, Neymar permitiu que sua vida pessoal sobressaísse ao futebol em alguns momentos. Se o bastão tivesse sido passado de maneira correta, dividindo responsabilidades com atletas mais experientes, será que já não teríamos o tão esperado Hexa? Quem nunca ouviu a frase:
A Amarelinha pesa!
E como meus amigos, e como!
Os exemplos de sucesso são muitos! A transição bem feita de gerações. Vide a Alemanha, que após a copa em seu país em 2006, já tinha iniciado um projeto para desenvolvimento dos times e da seleção nacional. O projeto foi tão bem sucedido, que tomamos um sacode de 7x1. Lembra, né? Dá até pesadelo: "E gol da Alemanha". O cronômetro ainda marcava 23 minutos, e a gente já não entendia mais nada. Não tinha "alegria nas pernas" que curassem a tristeza que ecoava num silêncio absoluto no Mineirão. Naquela seleção tinham as novas jóias do presente e os medalhões do passado (da Alemanha), que transferiram experiência, segurança e muita bagagem pra turma que chegava.
Como ouvi outro dia: "Sola de sapato e cabelo branco, tem que respeitar". Não que os jogadores alemães já tenham cabelos brancos e que as chuteiras estejam gastas. Muito pelo contrário. Mas o ponto é que experiência conta, investimento conta (e muito), planejamento conta.
Em um País continental como o Brasil, tantos talentos por ai, qual o potencial de investimentos feitos com uma visão de longo prazo? Quantas medalhas a mais viriam? Como disse mais um medalhista olímpico do Brasil, Caio Bonfim, prata na marcha atletica: "Tem que ter muita coragem pra viver de marcha atlética. E hoje eu sou medalhista olímpico."
Por fim, fecho como comecei, citando o Giba no podcast: "Não valorizamos nossos ídolos e nossas gerações, sempre à espera de que "daqui a pouco vem mais (talentos)".
Vamos em frente! A luta será árdua. Que possamos celebrar ainda mais medalhas e títulos, passando de geração em geração, e quando estivermos mais velhos, poder falar: "Senta aqui meu neto, vou te contar uma história..."
Texto escrito por Rodrigo Casagrande.
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4 mRodrigo, muito obrigado por compartilhar. Seu artigo traz à tona um ponto crucial no esporte e que também se aplica a muitas outras áreas da vida: a importância da transição entre gerações. Parabéns pelo texto instigante e por nos fazer refletir sobre a importância de valorizar nossas gerações esportivas.
Consistência, disciplina, dedicação. Não tem mágica. Todo ciclo importa. É uma sucessão, ou deveria ser. Assim como nas empresas, se desinvestimos em desenvolvimento de pessoas, comprometemos resultados. É lógico, é matemático. Ou deveria ser. Não se ganha sem treinar. Treinos sem investimentos não fazem milagre. Não existe fórmula mágica, mas uma fórmula sem investimento em pessoas e infraestrutura não se sustenta. O trabalho é diário, e o resultado é a soma de todos os estes fatores juntos e combinados 💛 .
Senior Director - Verum Partners
4 mExcelente texto Rodrigão! Baita reflexão... temos muito a aprender com o esporte... Belo ponto sobre conexão e geração! Vivenciamos também nessas olimpíadas uma sucessão entre gerações no tênis... o quanto que Nadal referência como um dos maiores de todos os tempos passa o bastão para um gênio Alcaraz... Que nosso Brasa copie esses bons exemplos!...
Project Management, Sales, Customer Success, Digital Transformation
4 mExcelente reflexão! Vale ressaltar que o sucesso da geração presente é fundamental para que mais pessoas se inspirem na conquista, busquem espaço, se dediquem, e formem a “geração futura”. Uma geração de esportistas sem conquistas em um país “do futebol e do esporte que estiver ganhando” (citando Caio Bonfim da Marcha Atletica) pode levar um país a demorar muito mais tempo a ter “outro Neymar”