Supermercados Sustentáveis: Lucro e Responsabilidade
Proponho iniciarmos um processo de reconciliação entre sustentabilidade, lucro e responsabilidade nos supermercados. Muitos varejistas de grande porte, instalados nos principais shoppings do país, têm abandonado a sustentabilidade e a responsabilidade a longo prazo em favor de lucros imediatos, resultando em consequências desastrosas. Atitudes insustentáveis e irresponsáveis os levaram à recuperação judicial. Exemplos notáveis de dificuldades incluem Americanas, Tok & Stok, Leader Magazine e Starbucks.
Em junho de 2023, a Americanas divulgou oficialmente a fraude nas informações contábeis, o que já não era uma surpresa para muitos envolvidos no mercado, que já falavam abertamente das irregularidades. A falta de transparência e a escassez de detalhes sobre os fatos ocorridos aumentam a preocupação em relação a esse escândalo. As práticas fraudulentas adotadas pela Americanas são chocantes e evidenciam escolhas conscientes, que vão além de simples erros contábeis. Estamos diante de uma fraude de transações alarmantes, possivelmente uma das maiores já registradas no Brasil. O gestor do Fundo Verde, Luis Stuhlberger, afirmou que se trata da “maior fraude da história corporativa do Brasil”1.
A proposta é ampliarmos o conceito de sustentabilidade: garantir a saúde financeira do seu supermercado, e que essa existência seja a mais benéfica possível também para seus colaboradores, para a natureza e para a sua comunidade.
O lucro será resultado do tamanho da sua responsabilidade. Quanto menos riscos de passivos judiciais houver, devido ao respeito à legislação trabalhista, mais sustentável será o seu negócio. A longevidade do seu mercado está diretamente relacionada à responsabilidade com que você gerencia sua contabilidade. À medida que você profissionaliza a gestão contábil, estará protegendo a sustentabilidade do seu empreendimento.
Começar pela sustentabilidade sem mencionar o meio ambiente foi apenas uma estratégia para manter sua atenção neste artigo. Afinal, nada é mais insustentável do que a natureza se voltar contra nossa cidade, nosso negócio ou nossa família. A ecologia nos ensina, como vimos em Porto Alegre – um abraço fraterno aos irmãos gaúchos – que "tudo vale a pena se a nossa cabeça não pensar pequeno".
Contra as forças da natureza, somos pequenos, frágeis e lentos, fazer a nossa parte é imperativo.
COMBUSTIVEIS: Torna-se urgente aumentar o uso de energias renováveis, e podemos fazer isso por meio de placas solares, que são benéficas para o planeta e reduzem o valor da conta de energia elétrica, ajudando também a saúde financeira. Além disso, devemos considerar aumentar o uso de etanol em substituição à gasolina e ao diesel, sempre que possível.
Incentivar o uso de bicicletas por clientes e funcionários, instalando bicicletários, trará benefícios estéticos à entrada da sua loja, reduzirá a quantidade de carros nas ruas, organizará as bikes e, pela segurança oferecida, pode atrair consumidores que pedalam para fazer suas compras.
Claro que sou otimista quanto à possibilidade de troca de combustíveis e à atração de consumidores ciclistas. Afinal, por que ser pessimista em um artigo sobre lucro e sustentabilidade dirigido a leitores empreendedores?
Empreendedorismo rima com otimismo, tanto na poesia quanto na vida de fé que mantém de pé o empresariado.
COMUNIDADE: Colaborar com campanhas de matrícula das crianças da sua cidade pode ser feito de forma simples, utilizando um QR Code nos caixas e orientando os funcionários a informar as mães/clientes sobre o prazo de matrícula na rede pública. Esta atitude empresarial, além de simpática, contribui para a educação pública da sua cidade.
A escolaridade de um povo está inversamente relacionada ao sofrimento em desastres ambientais, pois quanto mais estudamos, mais sabemos sobre mitigação, prevenção e preparação para eventos climáticos. Basta observar que, nas sociedades com mais horas de estudo, a proporção de perdas de vidas humanas é menor.
“Toda a indústria alimentícia enfrenta a necessidade emergente de se alinhar com práticas mais sustentáveis e socialmente responsáveis. É uma demanda que parte não apenas da sociedade, mas também do mercado”, Exame³.
A implantação de uma política de redução de resíduos pode gerar recursos por meio da reciclagem de embalagens, uma prática comum em lojas com logísticas bem organizadas. Além disso, podemos aproveitar aquelas frutas "feias" que os clientes não compram por questões estéticas, transformando-as em receitas lucrativas e/ou saudáveis, como pratos elaborados, bandejas com frutas já descascadas e saladas de frutas.
"O nutricionista atua para evidenciar o que pode ou não ser consumido, mostrando, inclusive, como podemos aproveitar de maneira mais integral determinadas partes dos alimentos", salienta Cilene, presidente do CRN.
Quem for criativo e articulado pode aproveitar o Dia Internacional da Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos, celebrado em 29 de setembro, para atrair professores e estudantes de nutrição às suas lojas. Este movimento pode promover vendas, reaproveitamento de alimentos, reeducação dos clientes e fortalecer o relacionamento do supermercado com marcas.
Existem indústrias de laticínios internacionais dispostas a investir para associar suas marcas a ações de sustentabilidade, utilizando o famoso Trade Marketing. O criativo varejista estará transformando o lixo ("alimentos machucados") em luxo (comida saudável), em uma grande ação de sustentabilidade: menos lixo, mais vida.
O lucro e a sustentabilidade de mãos dadas. Essa temática da sustentabilidade é uma exigência das sedes das companhias para suas filiais no Brasil.
“O nutricionista entra em ação, é possível reduzir todas essas perdas desnecessárias, seja perda na compra, no recebimento ou no processo produtivo”, afirma a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas do Paraná (CRN-8), Cilene da Silva Ribeiro².
Onde a maioria do empresariado reage contra a responsabilidade social e a sustentabilidade, vendo-as como opostas ao lucro, podemos desenvolver uma visão de oportunidades, com investimentos possíveis para mercados de todos os tamanhos.
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Ao pensarmos com responsabilidade sobre a natureza (da comida ao combustível), a comunidade (atuais clientes, fornecedores e futuros clientes) e a contabilidade, produziremos lucros e tornaremos nosso supermercado sustentável e perene, praticando o ESG.
Como uma ação ainda em baixa, mas com viés de alta, a pauta ESG – Environmental, Social, and Governance – está ganhando destaque entre os antenados e conectados com as tendências mundiais.
Não conhece essa sigla, ESG? Vale a pena pesquisar para entender como é possível um mercado de qualquer tamanho estar alinhado às melhores práticas de gestão mundial.
Referencias:
OBS.: ARTIGO PUBLICADO NA CAPA DA REVISTA NE SUPERMERCADOS, EDIÇÃO DE JUNHO DE 2024.
Mauricio Salkini é um renomado especialista em sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, com uma carreira de destaque no Franchising. Formado em Administração de Empresas e com pós-graduação em Pedagogia Social, Salkini é reconhecido por sua habilidade em integrar lucro e sustentabilidade em projetos inovadores. Ele é franqueado, franqueador, conselheiro e palestrante, e sua paixão por inovação e desenvolvimento sustentável o torna uma voz influente no meio empresarial. Como colaborador regular de revistas e sites especializados, Mauricio compartilha suas ideias e experiências, inspirando profissionais a adotarem práticas mais responsáveis e eficientes. Seu trabalho não apenas promove a conscientização, mas também transforma a forma como empresas enxergam e implementam a sustentabilidade.