SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS A PASTO NA SECA

SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS A PASTO NA SECA

SUPLEMETAÇÃO DE BOVINOS A PASTO NA SECA

Dados relativo à oferta agregada da pecuária de corte tem tido registros de forte crescimento. Em 2023 o abate total, segundo o site Farmnews, foi de 34,06 MM de cabeças. A observação da evolução dos dados de abates de vacas e de fêmeas, importante separar, pois no abate de fêmeas estão somados vacas e novilhas jovens que nunca entraram em serviço de reprodução. O abate de fêmeas registrou 11,19 MM em 2022 e 14,17 MM em 2023.  Em termos percentuais houve um crescimento de 19,8% de 2021 para 2022 e de 14,17% de 2022 para 2023.  Estes abates chegam a um patamar de 41,6% de Taxa de Abate de Fêmeas (TAF) sobre o abate total em 2023. Este percentual de TAF em 2023 foi o segundo maior percentual desde 2010, perdendo apenas para o ano de 2012, quando a TAB ficou em 41,9%. Sabemos que a TAF é bastante influenciada pelos preços na pecuária, tanto do boi gordo quanto do bezerro, mas em especial do bezerro, onde o criador, para compensar a queda de receita pela queda dos preços, acaba vendendo mais fêmeas para compensar no seu faturamento total.

Como já mostramos em outro artigo, a taxa de abate de novilhas, cresceu muito nos últimos 10 anos. Então, além dos movimentos de reação ao preço, é certo que o aspecto da produtividade, com incrementos no ganho de peso dos rebanhos tem sido fator fundamental para o crescimento da oferta agregada. Além de maior produtividade em peso, e na redução da idade de abate, o aumento da eficiência da atividade de cria, gerando mais desmamas para o mesmo número de vacas permite o aumento da oferta agregada de novilhas, contribuindo assim para um aumento da oferta agregada de animais para o abate, sem redução da oferta de bezerros,  ocasionado por aumento da produtividade e não somente uma reação de venda ante a queda de preços, movimento clássico que gera os ciclos plurianuais de preço na pecuária.

A incorporação de tecnologias modernas nas fazendas de pecuária de corte e leite contribuíram muito para o aumento da oferta agregada de carne bovina e lácteos, tornando o país um dos maiores produtores e exportadores global.

São várias tecnologias como o manejo de pasto, manejo do rebanho, nutrição, genética e gestão. O foco deste artigo é uma das mais eficazes e competitivas tecnologias, a suplementação a pasto do rebanho no inverno para desmamas. Em especial na recria, esta técnica permite as desmamas se desenvolverem de forma acelerada, com retornos produtivos e econômico importantes. Na fase do crescimento corporal a conversão alimentar é muito eficiente pois os animais estão “fazendo musculo e ossatura”. Essa fase de crescimento comparada a fase de engorda, caracterizada pela deposição de gordura, a literatura mostra claramente que a exigência de energia na dieta 2,5 maior que a energia na fase de recria.  Por isso a suplementação de desmamas a pasto no inverno é muito competitiva levando, em menor tempo possível, os animais para a fase de engorda ou reprodução.

O INVERNO OU PERÍODO DE “SECA”

Importante caracterizar a técnica de suplementação a pasto em cada fazenda e seus aspectos regionais. De maneira geral as regiões centro oeste e sudeste tem um inverno tipicamente seco. Por outro lado, independente da região, a produção de todas forrageiras usadas a pasto no Brasil expressam entre 70 a 80% de sua produção anual no chamado verão agrostológico que compreende a primavera e o verão.

Logo, a disponibilidade de pastagem na seca deve ser bem avaliada. Uma técnica bastante comum é o diferimento de pastagens no final do verão para ser utilizado no inverno associado a suplementação. De forma geral, como a qualidade das pastagens cai bastante em termos nutricionais e energéticos no inverno, uma técnica bastante usada é uma baixa lotação neste período, 0,5 a 1 UA/há associada a suplementação com sal mineral proteico. No verão, a qualidade média das pastagens, segundo a literatura, é de 60% de NDT e de 8 até 12% de proteína. Já no inverno, a queda de qualidade é muito forte, com níveis proteicos ao redor de 4 a 6% de PB na MS, nível que pode limitar o ganho de peso ou até a mantença de peso corporal dos animais. Neste cenário, no verão, o ganho de peso diário (GPD) pode ser de 0,6 a 0,8 kg/dia. Porém no inverno, sem suplementação proteica pode até haver perda de peso.

TIPOS DE SUPLEMENTAÇÃO A PASTO

Foram desenvolvidas nos últimos anos várias técnicas de suplementação, em especial para a seca ou inverno. As primícias destas técnicas vêm do uso da suplementação de sal mineral+ureia+volumoso, em geral a cana de açúcar. Estas técnicas evoluíram bastante em fazendas com maior planejamento estratégico incluindo o acervo de pastagens mais produtivo e, definitivamente, perene, o que confere muita produtividade e competitividade econômica a pecuária. Alguns suplementos, além do fornecimento de todos os macro e micro minerais e nutrientes como a PB, podem ser também funcionais. A tabela 1 trás os suplementos mais usados a pasto e seu perfil geral.

 

Tabela 2: Tipos de suplementação a pasto na seca.

SUPLEMENTO CARACTERÍSTICAS CONSUMO METRAGEM DE COCHO E MANEJO

Sal proteico

Fornecido para mineralizar e fornecer proteína adicional através de ureia e farelos proteicos. O proteico de seca tem 50% de PB1 a 2 gramas/ kg de peso corporal após a adaptação.Exige de 10 a 12 cm de cocho por cabeça. Fornecimento até dia sim dia não.Ganhos moderados de 0,2 a 4, kg/dia

Proteico energético

Semelhante ao proteico, porém também fornece energia. Em geral tem 25% de PB e 50% de NDT 5 a 10 gramas/kg de peso corporal após a adaptação.Exige 30 cm de cocho/cabeça.Preferencialmente fornecer no cocho diariamente.

Concentrado de Confinamento a pasto

Concentrados com 18 a 20% de PB, alto teor energético, macro e micro minerais, tamponantes e aditivos 2% do peso corporal.Exige pelo menos 30cm de cocho/cabeça e o fornecimento deve ser parcelado em duas vezes.

 

Destacamos que o confinamento é a técnica mais radical de uso de cocho, onde 100% da dieta vem dele. Num “projeto” mais agressivo e bem elaborado na pecuária, tanto de corte quanto de leite, o confinamento libera pasto, em especial no inverno, que pode ser utilizado com categorias menores e/ou baixas lotações associadas a suplementação proteica, em sistemas de produção com alta produtividade e competitividade econômica.

 

Como estamos falando em inverno ou seca, além da provável escassez de oferta de forragem, há a restrição de proteína. Nesse sentido os suplementos de inverno vão desde um acréscimo na oferta de PB via cocho, há uma melhora na digestão da fibra a pasto (macega) até aditivos funcionais como os inóforos que melhoram a fermentação ruminal ou gorduras especiais que melhoram a reprodução de matrizes. A suplementação proteica ou proteica energética também podem ser utilizadas nos mamotes, antecipando a desmama, aumentando o peso na desmama e também beneficiando as matrizes no seu balanço nutricional. A suplementação de bezerros(as) ainda mamando baseiam-se nas informações da literatura que afirma haver no 2º terço da gestação das matrizes a formação dos adipócitos o oócitos no desenvolvimento fetal, sendo a suplementação dos mamotes uma fonte de “economia” nutricional para as matrizes pela discreta substituição da mamada pelo consumo de suplemento no cocho.

BENEFÍCIO CUSTO

A avaliação do benefício custo da suplementação a pasto no inverno é bastante simples. No caso da recria, em especial nas desmamas, o benefício é muito alto pois nesta fase os animais tem alta conversão alimentar, em média 6 kg de MS/kg de ganho e consumo relativamente baixo em função do peso corporal leve. Portanto no inverno, e em especial na seca a suplementação proteica leva as recrias a um patamar superior ade desempenho, acelerando a entrada dos animais jovens na fase de engorda ou reprodução. A tabela 2 abaixo mostra uma simulação de beneficio custo na recria, com sal proteico. O preço da @ considerado foi de R$222,05 e o consumo de 2g/kg de peso corporal para uma desmama de 200 kg de peso.

Tabela 2: Estimativa do benefício custo da suplementação com sal proteico.

preço R$/sc30KG R$/KG CONSUMO/DIA CONSUMO /MÊS custo R$/mês

R$ 81,00 2,70 0,4 KG 12KG R$ 32,40

 

ganho dia/Kg ganho mês/kg ganho@/mês50%Rc GANHO R$/mês RESULTADO

0,4 12 0,4 R$ 88,82 Benefício R$ 56,42/mes

 

Os dados da tabela 2 estimam um benefício de R$ 56,42 em 30 dias de suplementação devido ao ganho de peso no período estimado em 0,4 @. O prosseguimento da suplementação com certeza irá aumentar o custo devido ao aumento do consumo derivado do aumento do peso, porém incorporando mais peso corporal, tornando os animais mais pesados, o benefício se expressara da mesma forma da tabela 2 mesmo que com margem menor. A realização deste benefício, em termos financeiros, pode se dar com a venda dos animais após a suplementação para invernistas ou a continuidade do processo de engorda no verão e venda dos animais para o abate.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A suplementação a pasto no período de inverno como mostrado aqui tem alta possibilidades de benefício com manejo e custo acessível, podendo se adicionar ainda, caso a caso, aspectos funcionais de acordo com o suplemento escolhido. É muito importante contar com ajuda de assistência técnica especializada para fazer a melhor escolha do suplemento e das categorias a serem suplementadas para maior sucesso na suplementação a pasto.

Ari José Fernandes Lacôrte

Msc Engenheiro Agrônomo

Piracicaba, junho de 2024

 

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