Tópicos em EaD - 07 Como uma IE pode ofertar o EaD no Brasil?
Vimos que o EaD pode ser efetivado para diversos níveis no tópico onde foi tratada a visão sobre o EaD no sistema de ensino brasileiro. Vamos ampliar um pouco este conhecimento, falando um pouco mais sobre como uma IE pode ofertar o EaD, com uma proposta de qualidade total em educação (QTE).
1.1 À guisa de preparação necessária
A resposta ao questionamento pode ser tão simples quanto se queira. A resposta curta seria: obedecendo à legislação que existe (que será tratada no tópico 08). Por outro lado, ela também pode ser tão complexa quanto se queira, com diversas considerações importantes que devem ser levadas em conta. Preferimos esta segunda vertente.
Em primeiro lugar é preciso que a IE crie uma cultura institucional voltada para o EaD. Isto precisa levar em consideração que há uma tendência para que não haja, em um futuro próximo, uma diferenciação e separação entre as diversas formas de educação em nosso país. Isto quer dizer que educação presencial, semipresencial ou não presencial, serão enfeixadas em um único tipo de oferta. A forma de oferta candidata a assumir a posição é a que atualmente é chamada b-learning: aprendizagem mista. Ainda se espera que a educação aberta, que ganha corpo com os MOOCs – Massive Open Online Courses e com a criação de repositórios REA – Recursos Educacionais Abertos, venha a democratizar de vez as atividades de ensino e aprendizagem em nosso país.
Existem diversas técnicas tidas como ideias pedagógicas que devem receber atenção. O uso de clickers na metodologias T-P-S (Think, Pair, Share), One Minute Paper e Peer instruction (voltada para cursos tecnológicos) caracterizadas pela utilização de sistemas de resposta interativa que reúne os alunos em uma proposta de avaliação e aprendizagem comum aos pares acadêmicos, deve ganhar destaque. Revisitar antigas teorias, adequando-as à penetração da tecnologia no ambiente educacional ganham corpo. Assim vemos um retorno da taxonomia de Bloom, utilizada em processos de avaliação e na orientação para desenvolvimento diferenciado de conteúdo. As hierarquias educacionais de Gagné, ganham novas cores. Há toda uma ebulição que coloca o ambiente educacional em agitação e que traz possibilidades de aumento da qualidade e da participação do aluno de forma ativa. De forma geral a soma destas iniciativas recebe o nome de aprendizagens ativas, em destaque na atualidade.
Em segundo lugar é preciso a consciência que além de ambientes centrados no aluno, a mediação tecnológica entra em cena. Nestes ambientes se troca o privilégio dado até pouco tempo atrás para o conteúdo, por uma nova visão, voltada para um atendimento particular ao aluno, nos moldes em que se desenvolve a atividade coaching executivo, renomeada no ambiente acadêmico como coaching educacional.
Novas metodologias devem ser conhecidas. Assim não deve ser novidade para a IE falar em aprendizagem baseada em problemas; salas de aula invertida, conectivismo como teoria de aprendizagem de suporte; gamificação; uso de agentes inteligentes; sistema especialistas; realidade virtual; realidade aumentada; aprendizagem adaptativa que leva aos APA – Ambientes Personalizados de Aprendizagem no lugar dos AVA – Ambientes virtuais de aprendizagem; inteligência artificial em educação e; docência digital.
Sobre este último tópico é importante fazer um destaque especial. Docentes que tragam propostas similares as que hoje adotam no ambiente tradicional de ensino e aprendizagem, não devem ter vida fácil. A eles será ser colocado o desafio de mudar ou mudar, sem outra alternativa que não os elimine do mercado de trabalho. Professores nunca deveriam ter medo da tecnologia, ela nunca os substituirá, em nenhuma ótica sobre a qual o assunto seja analisado, mas é possível que aqueles que não utilizarem a tecnologia em suas salas de aula, estes sim, venham a ser eliminados.
Novas formas de comunicação, com o professor assumindo papel de liderança, que sabe trabalhar a inteligência emocional e desenvolver uma proposta de relacionamento empático, se tornam o objetivo a ser atingido para que a docência digital tenha lugar. Ela exige conhecimentos tecnológicos acima da média. O professor comunicador; o professor coletivo; o professor orientador; o professor que aprende junto com o aluno, são paradigmas vivenciados com intensidade na sociedade atual.
As redes sociais, banidas de muitas iniciativas educacionais e divorciadas das IE por iniciativa destas últimas, deve voltar e ocupar lugar de destaque. A aprendizagem desenvolvida em grupos, de forma colaborativa, com alunos empoderados assumindo parte das responsabilidades dos professores, devem começar a serem vistos em tempo não distante. A inteligência coletiva prevista por Lévy (2003) e a cibercultura (Lévy, 2009) devem estar presentes nos ambientes em rede.
A preparação para desenvolvimento desta cultura passa a ser investimento que a IE deverá fazer, em curto prazo. A qualificação do professor e o nivelamento do aluno para que todos falem uma mesma linguagem, está posta como condição “sine qua non” para que o ambiente de ensino e aprendizagem se torne efetivo e atenda ao que o mercado de trabalho exige. Isto precisa ocorrer ainda que a pedagogia tecnicista venha a ser privilegiada em relação à uma pedagogia “pedagógica por excelência”, como muitos professores ainda querem desenvolver e que esquece a tecnologia como elemento indispensável.
1.2 É preciso Olhar para o próprio umbigo
Assim antes que qualquer medida seja tomada é preciso que a IE veja se tem as condições mínimas de atendimento às condições anteriormente expostas. Verificada esta condição. A IE deve fazer um levantamento da forma como pretende atuar. Ela deve:
- Analisar que cursos pretende oferecer. Antes de escolher seu catálogo de cursos é preciso ver se não está sendo repetitiva e oferecendo cursos simplesmente porque as profissões existem. Ser diferente, como a estratégia do oceano azul, proposta por Kim e Mauborgne (2005). Há todo um universo a explorar com a oferta de cursos sequenciais que trabalhem áreas de saber, candidatas a se tornarem áreas de conhecimento. Há propostas inovadoras para formação de tecnólogos. Há licenciaturas que necessitam qualidade.
- Verificar a demanda em locais nos quais pretende oferecer. De nada adianta oferecer um curso de formação se sorveteiro no Polo Norte e no Polo sul. Existem localidades onde existiram em um futuro próximo, plataformas de exploração de petróleo. Então que tal oferecer um curso de engenharia que trate do tema?
- Verificar possibilidade de oferecer bibliotecas, estágios e integração com o mercado, para os alunos dos cursos oferecidos. Existirão polos presenciais? A IE irá trabalhar apenas com polos virtuais e para eles há bibliotecas virtuais e materiais on-line suficientes?
- Verificar a sustentabilidade a médio e longo prazo que ela pode oferecer àqueles que confiarem em sua proposta, para evitar algumas aventuras.
- Analisar se terá qualidade suficiente para atender aos indicadores de qualidade (serão tratados no tópico 10).
Se a IE não desenvolveu as análises propostas melhor seria reiniciar o processo e pensar um pouco mais em sua missão. O trabalho em ambientes enriquecidos com a tecnologia, sejam presenciais, semipresenciais ou não presenciais, exige planejamento e ele deve ser desenvolvido de forma a buscar a QTE – Qualidade Total em Educação. A justificativa que ser “pequeno” pode impedir que ela seja atingida não é mais aceitável. Os novos avaliadores de curso estão orientados a utilizar o rigor que for necessário para aquelas instituições que pretendem criar novos cursos.
Somente então a IE deve se preocupar em mudar a sua estrutura de secretaria acadêmica para comportar novos procedimentos. Este é uma proposta mais séria que aquela de criar, dentro do mesmo ambiente, diferentes secretarias para atendimento do ensino presencial, semipresencial e não presencial, com toda a competição que envolve esta divisão incompreensível.
Caso não seja uma universidade, que tem alguns privilégios, o próximo passo será então desenvolver o seu projeto de credenciamento para oferta do EaD configurado como educação mista. Leia os três tópicos seguintes, onde a legislação, o credenciamento (para aquelas IE que não forem universidades ou centros universitários) e uma visão sobre os indicadores de qualidade, antes escritos de forma particular para o EaD, agora enxergados como uma proposta única.
Referências bibliográficas
KIM, C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2005.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2009.
______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. Ed. São Paulo: Loyola, 2003.