Túnel do Tempo
Jornal/Revista: ISTO É
Data de Publicação: 27/04/1988
Autor/Repórter:
CASAL DOÇURA
De volta ao vídeo o charme de Tarcísio Meira e Glória Menezes
Um pilantra da alta sociedade vive metido nas enrascadas mais estapafúrdias, tentando seduzir mulheres lindas e milionárias. Uma extraterrestre, vinda de um planeta desconhecido onde só existem mulheres, desembarca na Terra para pesquisar uma alternativa de salvar sua espécie em extinção. Estes são Bruno e Ava, as duas novas personagens da televisão, interpretadas por Tarcísio Meira e Glória Menezes, que estreiam na Globo, no dia 28, com o seriado, Tarcísio e Glória. O programa é uma comédia quinzenal, levada ao ar às quintas-feiras, e vai revezar no horário das 21h30m com Armação Ilimitada, o preferido da juventude televisiva. Tarcísio e Glória traz de volta ao vídeo um de seus gêneros de maior sucesso, as histórias ligeiras e engraçadas em torno de um casal e seus convidados. O modelo vem da TV americana, de seriados como A Feiticeira, Jeannie é um Gênio ou, mais modernamente, A Gata e o Rato, um hit que quintuplicou o salário do ator Bruce Willis, equiparando-o aos astros de Hollywood. No Brasil, o mesmo modelo serviu às trapalhadas românticas de Eva Wilma e John Herbert em Alô Doçura nos anos 60, na extinta TV Tupi, e de Stênio Garcia e Clarice Piovesan em Kika e Xuxu, na década de 70. "Era uma proposta inconsequente que vivia sempre da piada maliciosa no final", lembra Stênio. "Nosso sucesso era devido à abertura universal de temas", define Eva.
RITMO DE COMÉDIA - Apesar da repetição do modelo, Glória e Tarcísio asseguram que o seriado é algo de inteiramente novo para os telespectadores. "Não temos nada a ver com o clima água-com-açúcar dos casais que nos antecederam", garante Glória. Menos romântico e muito mais sarcástico, o novo seriado promete seguir o mesmo ritmo frenético das comédias italianas. De um lado vai estar o machismo orgulhoso e empedernido de Bruno Lazarini, um viúvo trambiqueiro que gastou os últimos três anos de sua vida dilapidando o dinheiro de sua mulher, numa dispendiosa e trágica viagem de lua-de-mel. Do outro, a escandalizada alienígena Ava, na angústia de decidir se vale ou não a pena misturar a nobre estirpe feminina e feminista de seu planeta com uma chocante sub-raça masculina - a de Bruno. "Bem mais do que problemas de casal, vamos rir juntos deste cotidiano de falcatruas, que é o retrato do Brasil de hoje", considera Tarcísio.
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CONVIDADOS - No elenco fixo, consta ainda Natália Lage no papel de Mariana, uma afilhada adolescente que aparece para confundir o viúvo Lazarini, além de Zilka Salaberry, Ricardo Blat, Milton Moraes e Augusto Jr. O seriado vai contar com diversos convidados. Manieta Severo, que faz o papel de uma antiga namorada de Bruno, está no episódio de estreia. As aventuras vão depender da equipe de oito redatores, entre eles Euclides Marinho, Antônio Calmon, Denise Bandeira e Leopoldo Serran. A direção está a cargo de Roberto Talma e José Carlos Pieri. "Estas histórias são um presente para nós, que há muito tempo sonhávamos em fazer um trabalho juntos que explorasse nossa veia cômica na TV", comenta Glória, que apesar do sigilo deixa escapar o seu visual de extraterrestre: lentes de contato de um forte azul-celeste, uma rebuscada peruca loura (num penteado que lembra os anos 60), blusão e pantalonas azuis. em tons suaves, de corte japonês.
Este presente, aliás, vem comemorar justamente os 25 anos de celebrada parceria profissional e amorosa que Tarcísio e Glória completam em julho deste ano. Eles estrearam juntos em 25499 Ocupado, a primeira telenovela diária brasileira, na antiga TV Excelsior. Glória fez o papel de uma presidiária que trabalhava corno telefonista, e o galã Tarcísio, um apaixonado pela sua voz. Foram três meses de telefonemas que levaram à loucura o público e o proprietário real daquele número. Algum tempo depois vieram sucessos com novelas como Irmãos Coragem, Rosa Rebelde, Cavalo de Aço, O Semideus, Espelho Mágico, até chegar a Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu, quando a dupla mostrou que tinha talento de sobra para encarar uma comédia rasgada, gênero pastelão.
O seriado Tarcísio e Glória, no entanto, não se marca apenas pelo talento cômico da dupla de protagonistas. O programa inaugura a linha de coprodução na maior rede privada do país e executa, na prática, um velho sonho do diretor Walter Avancini. Neste seriado, Tarcísio e Glória viraram sócios de seus antigos patrões: negociam pessoalmente patrocínios e merchandising, mandam e desmandam na produção e, em vez de salários, dispõem de participações nos lucros do empreendimento, inclusive nas vendas do seriado para o exterior. O casal não fala em cifras, mas nos corredores da emissora cogita-se um custo de 40 mil dólares por episódio - em parte coberto por investimentos diretos da Globo e pelas permutas em troca de merchandising. Apenas para se ter uma ideia, sessenta segundos em horário nobre valem, na Globo, pela tabela de abril, 4,278 milhões de cruzados. "Fizemos um negócio inédito, na base da confiança, que é o começo de uma transformação radical na relação entre a emissora e seus artistas, técnicos e produtores", orgulha-se Tarcísio.
CO-PRODUÇÃO - Este esquema de produção, por sinal, é o mais frequente nas grandes redes de televisão americanas. E tem tamanho futuro nos planos da Globo que já foi criada uma coordenadoria especial, diretamente ligada ao vice-presidente José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o "Boni", sob a direção de Walter Avancini. Os dois próximos trabalhos de Avancini, as minisséries Abolição e República, para comemorar o centenário das duas datas históricas, já estão sendo realizados em regime de coprodução. Cada uma terá oito capítulos e a Globo vai investir apenas 20 mil dólares por capítulo, o que equivale a praticamente um quarto do custo total da produção. O resto fica a cargo de um patrocínio de 600 mil dólares da empresa Cininvest, uma captadora de incentivos fiscais da Lei Sarney, ligada ao Banco Multiplic. "A iniciativa privada está participando mais e melhor dos investimentos culturais na área de TV e isto ainda traz um campo novo para os produtores, controlando melhor o produto final e tendo meios de realizar seus sonhos mais ambiciosos", entusiasma-se Tarcísio.