Tabu: Home ou Office
Sabe,... seja alugada, da família, emprestada, compartilhada ou adquirida...aquele lugar que voltamos depois do trabalho, depois das festas, depois de ir ao hospital, da escola, é sagrado.
Aquele lugar que nos sentimos bem. Seja com quem for ou sem ninguém...
Com o cenário atual de distanciamento, o que era bendito está virando maldito. Chegarei lá.
Costumo ler, de certa forma, bastante. E ler bastante, não se resume a livros cultos e inspiradores, mas também muito do mundo cotidiano: noticias gerais, a área no qual eu sou profissional (TI), lazer/entretenimento, negócios/mercado e ficção.
Temos três pontas bem longe uma das outras: uma ponta dos que estão sem renda e tem tempo de viver. Outra ponta dos que possuem renda, mas não vivem. E uma terceira ponta das celebridades tediosas que é um assunto pra depois.
Sem renda: Pelas pesquisas, sobre mercado global, deveremos ter um encolhimento de 25% a 35% em 2020. Tenho amigos e familiares que estão por um fio de teia de aranha (aquelas no cantinho da sua parede, bem fina) de fecharem as portas de seus comércios e negócios. Trata-se de um assunto sério, mas não vou abordá-lo neste momento.
Com renda: Tem gente que perdeu o sentindo das horas e até dos dias. Acreditem! Não há mais hora para trabalhar. E estou falando dos setores que obviamente se encaixam neste perfil. Minha mãe trabalha confeccionando roupas para pets e agora máscaras. Descansa somente das 2 às 6 da manhã, pois as 6:15 está trabalhando tomando café preto dela.
Tenho amigos, que saem do computador às 4 da manhã, em crises de TI. Outros amigos que trabalham das 9 às 2 da manhã, pois possuem muitas responsabilidades que o cargo lhe dá. Parentes que recebem comida no quarto enquanto trabalham, pois se a agenda está vaga, significa que você está tranquilo, correto? Ou só acontece nas melhoras famílias?
Não há outro relato dos que eu conheço, que não seja: ansiedade e estresse. Ombros tensos, dentes forçando uns contra os outros, dores de cabeça, nervoso, irritação, falta de ar, palpitações, apreensão, angustia, agonia, pensamentos negativos e um orvalho de otimismo, fé e oração. A nossa HOME, virou Office.
Estamos lotados de vídeos de "n" setores no front end, que dizem para tomarmos cuidado, termos disciplina com horários, alimentação, postura, etc. No entanto, no back end, a realidade é outra. Se minha mãe não produz, ela não come. Se meu amigo não resolve os diversos problemas de TI, ele é demitido. Se meu outro amigo não assumir a responsabilidade do cargo dele, ele afetará a vida dos seus colaboradores. Se meus parentes pararem de trabalhar para comer, eles são fracos.
De certa forma, grande parte do planeta e de nossa mente, vai adaptar-se aos novos conceitos. O que será o novo normal? Não sei responder, mas vejo diversas opiniões de leigos e os que se dizem especialistas de algo. Um coisa que tenho certeza, vamos nos adaptar, como sempre aconteceu ao longo de milhões de anos. Desde aquele homo eretus que ao lutar com um animal maior que ele, acabou se cortando por acaso em uma rocha. Assim, ele teve o insight de usar essa rocha afiada para seu próximo embate, como forma de obter vantagem e facilidade na vida que levava.
Em todos os momentos, o humano conseguiu se adaptar e não importa o nível de criticidade que exija dele. Ele sempre se teve êxito.
Agora, tem uma coisa que ninguém está se dando conta. O cérebro humano consegue se adaptar em tudo, menos em uma coisa: "A casa é um lugar sagrado".
Seja nos tempos do Homo Eretus ou na era moderna. Sempre voltamos para casa para descansar depois de um embate contra um animal de 2 metros de altura, seja na colonização de uma terra ou depois de uma venda de bilhões bem sucedida na empresa.
No cenário atual isso se misturou. O cérebro não identifica mais quando é o momento de relaxar ou de trabalhar. É sempre momento de trabalhar. Quando vamos ao quarto, lutamos contra um animal grande em nossos notebooks. Quando vamos na cozinha, temos que mastigar logo, pois o animal está na sala à espreita na máquina de costurar/confeccionar. Quando vamos ao banheiro, fazemos tudo em 1 min, iguais animais para não não serem atacados pelos seus predadores naturais.
Não relaxamos mais.
E isso vale para o trabalho formal ou informal, mas também para a escola ou para um problema em particular...
Claramente, estou generalizando. Deve ter gente nessa situação que passa o dia em reuniões e às 19 resolve trabalhar até as 2 da manhã publicando fotos em redes sociais e com sorriso no rosto. Ou pessoas que trabalham até às 21 e seu filho ou filha, chega no pai ou na mãe e fala: vamos brincar um pouco? E com o mesmo sorriso no rosto das redes sociais, respondem: "Vamos, sim. Só deixa o papai/mamãe terminar um relatório e já vou." Assim são 22:00/23:00 e o maior interessado(a) já está dormindo sem o sorriso nenhum no rosto, sem fotos em redes sociais, mas no Natal, ganhará um presente legal para "compensar".
Olhando de cima, eu posso estar equivocado, mas não creio que estou julgando, e sim me baseando em histórias do nosso atual cotidiano. Todo mundo sabe onde o calo dói mais. No entanto, vejo e sinto a insalubridade mental que grande parte de nós está vivenciando agora ou vivenciará no futuro. Não trata-se mais de um risco, é parte do que está acontecendo já há alguns meses. E assim como voltar ou não à antiga vida, só saberemos se foi letal, no futuro próximo.
Talvez, a profissão do futuro não seja TI, Cybersegurança, Logistica, ou outras promissoras. Talvez a profissão do futuro seja psicoterapeutas, psiquiatras e industria farmacêutica. Estes profissionais, terão de lidar e se adaptar a não mais com um desabafo do seus clientes ou equilíbrio químico em seus cérebros. Terão de lidar com traumas mais profundos, como: personalidade evitativa, histriônica, borderline, esquizotípico, insegurança demasiada (dependente), entre outros.
Não é mais sobre reações químicas em suas regiões cerebrais, mas também de falhas elétricas, cognitivas e até traumas visíveis a olho nu nos nossos cérebros, sem ao mesmo ter tido algum impacto externo.
E voltamos assim na adaptação humana. Isso tudo se deve a nossa evolução. O nosso corpo reage a essas mudanças ambientais e externas. Ele quer se adaptar. E para isso, fará o que for necessário, mesmo que traga consequência para nossa geração. Vidas serão afetadas e perdidas, e seremos cobaias de uma geração futura. Assim como nossos pais, avós e etc.
Uma falácia que quero expor aqui também é: "Uma vida não tem valor que se pague".
Uma grande bobagem. O ser humano troca e ignora vidas por trilhões, bilhões, milhões, milhares, centenas, dezenas, unidades e centavos de dólar. Ignoramos vidas, por não termos tempo para essas pessoas. Um momento de atenção, compartilhar. Mas temos tempo para atender uma solicitação de uma venda de 50 reais de uma roupa. Cedemos tempo para um ppt (!). Cedemos nosso tempo para os caprichos dos outros e que nem jantamos juntos. Às vezes encontramos (vida pré-covid) essas pessoas nos shoppings e elas não cruzam o olhar com você, mas quando estão interessadas em algo durante a semana, te chamam: "Oh Betão, beleza?"..."Oh Mari, tudo bom?"..."Então, sabe aquele bla bla bla? Vamos retomar e precisamos entregar hoje até às 23, belezinha?".
Note que não custou um centavo, para o exemplo citado ignorar sua vida. Se você está doente, se está com problemas e esse tipo de pessoa ficar sabendo, as seguintes palavras serão proferidas à você: "Faz parte, Betão/Mari! Ânimo!".
No meu caso, é mais insalubre, pois o que era para ser "Satão", entra em meus ouvidos "Satã", às vezes. Mas isso é uma comédia que explicarei no meu livro.
É fácil para eu falar, mas difícil para executar. Sejamos corajosos, não troquemos nossos momentos de relaxamento, de sono, de interação com filhos, família em geral, lazer, alimentação,... E se você se encaixa no perfil das pessoas que ignoram as outras seja por causa de dinheiro ou por algum interesse seu, reflita um pouco. Eu também sei que são vítimas do acaso. E se vocês possuem poderes de empregar, reflita duas vezes.
Isso não é uma reclamação. É um pedido de ajuda, mesmo que tocando em feridas tão profundas no nosso comportamento como sociedade.
Eu, particularmente, não tenho opinião formada no assunto vida pessoal x profissional, mas uma coisa eu tenho 100% de certeza: se houvesse respeito e responsabilidade entre as pessoas, nada disso seria tão desgastante e perigoso mentalmente. E ainda arrisco dizer que o resultado seria até melhor, mas provavelmente morrerei com essa opinião.
Abaixo, um vídeo que muitos já viram, mas desenha melhor nas nossas cabeças e toca quem tem um pouco de valor.
Não se preocupem. Tem somente 3 minutos.
Bem, já é tarde e me veio um insight como do homo eretus: vou la na cama do meu filho beijá-lo, vê-lo suspirar e revisar minha vida.
NOTA Mental Alta: Acabei de assistir "VIDA", um filme de ficção. O personagem David Jordan possui um pensamento sobre os humanos. Claro que não contarei spoilers, mas espero que ele esteja errado de alguma maneira. Sejamos melhores!!!
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4 aOs pontos abordados fazem total sentido com o novo NOVO, se isso existe mesmo ou se está em construção, a cobrança desenfreada em nosso psicológio (ou nos de muitos) por entregas do trabalho, conhecimento, suporte a familia, etc... com certeza vai nos trazer algum tipo de consequencia que não foi mapeada ainda, e no meu caso tudo isso acontece sem válvula de escape que são 1 -Futebol - Ir ao estádio, jogar, assistir na TV (não gosto de reprise) e jogar video-game (isso dá pra fazer, SEMANA passada joguei quase uma hora) e 2- ir a academia. Sei que nossa vida anseia por rotina e ainda sinto necessidade da rotina pré-Covid, como vc disse que conseguimos nos adaptar e a história mostra isso, não gostaria que a gente se adaptasse a esse momento da maneira que está acontecendo, com muita falácia sobre preocupação com as pessoas. Parabéns pelo texto Will Abs
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4 aDiego Aparecido Irene vale a pena refletir e assistir o vídeo.
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4 aApenas pinçando um pequeno pedaço do seu texto (incrivelmente bom, aliás!). Concordo que seja insalubre, que seja um risco imenso essa grande mistura de “home” e de “office. Pensando isso e também avaliando pelo lado da evolução humana e nossa adaptabilidade, fiquei com o seguinte pensamento: será a hora de nossos cérebros romperem um pouco com a associação de paz, descanso, trabalho e stress aos locais em que estamos/ficamos e associarmos essas sensações com a atividade, a ação que estamos executando? Explico um pouco mais: nosso dia-a-dia no escritório era estressante, mas ao mesmo tempo divertido a ponto que querermos em certa medida estarmos lá é nos descontrair entre nós. Era nosso pequeno momento “fora do trabalho”. Em nossas casas, mesmo na correria do Home-Office, alguns podem encontrar instantes, minutos ou até horas para se afastar um pouco dos computadores e celulares e ver um programa, escutar uma música, fumar um cigarro olhando a paisagem... enfim, associa-se a paz e sentimentos parecidos com a atividade e não necessariamente com o lugar. Seria isso um ‘talvez’ para nosso processo evolutivo? Parabéns pelo texto meu caro! 👏🏻👏🏻👏🏻
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4 aExcelente reflexão!
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4 aMuito show a reflexão 👏👏👏 fico feliz que esteja preparando um livro. Sucesso 🙏