Tamo Junto! Será?

Tamo Junto! Será?

Há quem diga que futebol é arte. Tenho cá minhas dúvidas. 

Para mim, já foi um dia. Hoje é negócio como um outro qualquer. Partes interessadas é o que não faltam: patrocinadores, dono (s) do passe, empresários, cartolas, assessorias de todo o tipo, torcidas uniformizadas, torcedores que ainda acreditam, imprensa, familiares, seguidores das redes sociais e até, pasme, o próprio atleta.

Outro aspecto que mudou bastante são as regras. E, eu ousaria dizer que o futebol atualmente tem regramento demais para ser considerado arte, mesmo incluindo os direitos trabalhistas que eu reputo muito justos uma vez que garantem o mínimo de dignidade ao atleta. E não estou querendo dizer que, no passado (e até hoje) a arte não expressasse a vontade do mecenas. Claro que sim, senão ela não se sustentaria.

O fato é que, na raiz, arte é uma forma da qual o ser humano se vale para expressar sua visão das coisas, seus sentimentos e convicções a respeito dos fatos que estão acontecendo. E, como tal, a arte deve refletir a época em que vive o seu autor.

Estou trazendo esse tema porque estamos em plena Copa FIFA 2022 de Futebol no Qatar. E o Brasil, nesse sentido, tem uma característica que já foi hegemônica e, hoje, não mais. Por aqui tudo para: lojas fecham, indústrias desligam máquinas, repartições públicas suspendem o expediente (com raras exceções) e por aí afora. "Cessa tudo quanto a antiga musa canta", diria Camões, em Os Lusíadas. Nada contra.

Agora é que vêm elas. Nesse momento, todos se tornam técnicos. Somos 215 milhões de Tite's. Tamo Junto? Sim, até a página dois,  como se costuma dizer no popular. Por que?

Na última sexta-feira (dia 2), jogamos contra a seleção de Camarões, país da África Central com população estimada de pouco mais de 27 milhões de habitantes em uma área pouco menor do que os estados do Paraná e Rio Grande do Sul juntos. 

Como a seleção do Brasil já estava matematicamente classificada para a fase seguinte e por razões que aqui não cabe discutir, nosso técnico oficial decidiu escalar o time reserva: poupar os titulares, promover o entrosamento, revelar talentos, sei lá os motivos que o levaram a essa decisão. Pois bem, se tivéssemos vencido o jogo, os comentários  seriam mais ou menos assim: 

-       Tá vendo, não te falei, até com um time reserva "nós" vencemos Camarões.

-       "Nossos" jogadores  são bons mesmo.

-       O futebol está no DNA da "nossa" gente. 

Acontece que deu ruim, perdemos. No dia seguinte, fui à feira como faço todos os sábados. Gosto de sentir a pulsação das pessoas sobre a vida de um modo geral. Olha só, os comentários que eu ouvi: 

-       "Eles (o time)" perderam para um timinho de segunda classe. 

-       "Ele (o técnico)" deveria ter colocado fulano, ciclano e beltrano em vez de escalar esses jogadores novatos e inexperientes.

-       Se eu fosse "ele (o técnico)" teria substituído o jogador X no intervalo.

-       "Fulano" perdeu muitos gols. Não deveria ter sido convocado.

Mas o nosso assunto é gestão, não é mesmo? 

 O que me chama atenção nesse comportamento dos "técnicos de plantão do nosso futebol" é um padrão que eu observei muitas vezes ao longo da minha vida profissional e que, ainda hoje, tenho encontrado nas empresas para as quais presto serviço de mentoria empresarial: o sucesso é de todos, mas o fracasso é sempre de alguém ou de algum fator externo à pessoa que está me relatando um certo resultado. 

A derrota é uma importante oportunidade de receber feedback e para a equipe fazer autocrítica. Como se não bastasse, é uma forma de ajudar no crescimento profissional, assim como alertar para um desalinhamento entre o planejado e o executado. Ao ser compartilhado, serve para refletir sobre  os pontos a serem melhorados e as ações que deverão ser tomadas para não reincidir nos mesmos erros. 

Ensinamento da semana:  Há sempre uma lição em todos os eventos.

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