Tapar o nariz ?
Helcio Estrella
Um balanço do primeiro ano do governo Bolsonaro mostra claramente uma recuperação na economia e na vida pública nacional. É preciso levar em conta a situação a que o País chegara em 2015, da qual resultou o impeachment de uma Presidente da República, polarizando esquerda e direita e dividindo a opinião pública. Enredado em um atoleiro caracterizado por duas faces cruéis, a corrupção em níveis assustadores na vida pública e a paralização econômica com queda na geração de riquezas, com o desemprego sem precedentes, atingindo mais de 11% da população economicamente ativa, o País parecia ter tomado a trilha para o precipício político.
Desviado dele por conta da solução constitucional adotada pelo Congresso Nacional e das eleições de 2018, o Brasil mostrou ser capaz de manter-se dentro da legalidade, com punição de boa parte da cúpula do poder, este controlado por vários partidos políticos, principalmente o PT, o PMDB e o PSDB. Essas punições levaram à barra dos tribunais os três últimos Presidentes da República, um condenado e que cumpriu preso parte de sua pena, uma ainda sob investigação de crimes contra a Administração Pública, e o último deles que chegou a ser preso.
O Presidente emergido das urnas em 2018 foi, em consequência do período anterior, herdeiro de um governo virtualmente falido, com enorme dívida financeira a ser saldada, além da enorme dívida social brasileira aumentada, de que são claros indicativos o desemprego e o aumento da concentração da renda brasileira. Aos prejuízos causados à PETROBRAS, que quase foi à lona por conta de contratos fraudulentos, os pagamentos de propinas ao Presidente da República e os empréstimos a governos de esquerda (“empréstimos” sem garantias efetivas e que dificilmente serão pagos) somam-se as dificuldades políticas por força de minoria que o Governo detém nas duas Casas do Congresso, tornando difícil governar o Brasil.
Assim, a vitória que foi a aprovação da reforma previdenciária brasileira, assunto extremamente sensível a muitos países europeus que lutam para equilibrar orçamentos, e a colocação do carro do governo nos trilhos no primeiro ano da nova gestão devem ser vistos como uma vitória e competência política na implantação de uma nova era na vida pública nacional. O novo Governo vem tateando, é verdade, mas no caminho minado que percorre, é quase impossível exigir que aja de outra forma. A democracia é um processo delicado e lento, uma espécie de jogo de xadrez político que para ser vencido exige paciência e estomago, já que nenhum gênio do direito não conseguiu criar um manual que ensine como ganhar esse jogo. Exige a prática da política, que se aprende a fazer todo dia e definida por Charles de Gaulle como a arte de se fazer coisas impossíveis.
Vamos tentar entender que o impossível vem sendo feito, e que estão sendo feitas coisas aparentemente impossíveis que estão fazendo o País trilhar no caminho da liberdade, o bem maior que a democracia nos oferece. Como já o fizemos em algumas ocasiões, vez ou outra estamos tapando o nariz, evitando o aroma desagradável de algumas concessões, para que o Brasil volte, quando condições sejam alcançadas no futuro, a trilhar o caminho de uma política que seja quase 100% ‘’ética.
Muita coisa, muita coisa mesmo, precisa ainda a ser feita, mas isso exige tempo, portanto paciência, para que se conserte o Brasil. Entre elas, a renovação política esperada nas eleições municipais deste ano, que, espera-se, venha a ter continuação no próximo pleito. A varrida nas eleições de 2018 precisa continuar nas próximas para bem da democracia, até que a corrupção na vida pública volte a ser exceção – ela vinha se tornando a regra.
O autor é jornalista. Doublehelcio@gmail.com