Taxa de Juros é Consequência
Repitam comigo: Taxa de Juros é Consequência
“Se me perguntassem sobre o nível do debate econômico do país, eu diria que é uma razoável aproximação do Q.I. das amebas”. Roberto de Oliveira Campos (1917-2001)
Ao ver as manifestações contra a taxa de juros elevada, parece que o presidente do banco central é um sádico que faz o possível para prejudicar os brasileiros. Um malvado exercendo seu poder sobre todos aqueles obrigados a usar o tão maltratado real.
Outra leitura possível é que faz parte da natureza de qualquer governo criar inimigos úteis para justificar suas incompetências. O inimigo atual é a taxa de juros. Todos do governo falam que os juros estão elevados impedindo-os de realizar as promessas da campanha eleitoral. Considero isso algo normal.
O que não faz sentido são empresários calejados se associarem a esse discurso, mostrando que, ou são ignorantes em economia, ou oportunistas ou ambos. Esta semana, foi a vez da varejista Luiza Helena Trajano e do industrial Benjamin Steinbruch reforçarem o coro contra os juros abusivos.
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Não sei se Roberto Campos Neto é perverso. Não o conheço. Quem sabe se torne meu malvado favorito? O que sei é que taxa de juros é consequência e nunca a causa. Ela representa o quanto estamos dispostos a postergar nosso consumo de hoje para o futuro. O que os economistas chamam de preferência temporal. É preferível ter algo hoje do que este algo amanhã. Quanto mais incerto é o futuro, maior será a taxa de juros. A taxa de juros é formada por diversos fatores, desde a preferência pelo hoje, pelo agora, mas também pela expectativa de risco, de inflação e tudo aquilo que pode afetar nossa decisão de postergar o que se pode ter hoje para um futuro qualquer, um dia ou vários anos. Essa é a visão de quem tem o recurso. Mas também, podemos ver a taxa de juros pelo lado de quem não o tem, mas precisa ou quer ele para antecipar um gasto. Então estará disposto a pagar para alguém antecipar esse recurso e pelo qual se comprometerá a pagar, em um dia ou vários anos.
Como qualquer preço, quando são muitas pessoas querendo algo, a taxa de juros se eleva, assim como se reduz quando diminui o interesse. O papel do banco central e do seu malvado presidente não é estabelecer a taxa de juros como se fosse uma revelação divina ou resultado dos seus gostos ou arbitrariedade. Mas descobrir qual é a taxa de juros que melhor representa aquilo que o mercado irá praticar de forma natural. Dito de outra maneira: o banco central deve identificar o que o mercado pratica. Se assim não o fizer teremos duas inevitáveis consequências. Ao estabelecer uma taxa de juros abaixo do que o mercado demanda (e aqui mercado é um coletivo das preferências temporais de cada indivíduo na sociedade) teremos um uso dos recursos, não só dinheiro, ineficiente, gerando investimentos não sustentáveis no longo prazo e um consumo além da capacidade de pagamento das pessoas. Empresas e indivíduos se endividarão. Por outro lado, se estabelecer uma taxa de juros acima do requerido pelo mercado, teremos uma redução do consumo e dos investimentos, eventualmente criando uma depressão. Penso que seria melhor deixar isso para o próprio mercado resolver e cada um, nas suas transações diárias, negociar a taxa de juros adequada àquela transação em particular e que satisfizesse as partes envolvidas. Assim não teríamos um banco central, nem seu malvado presidente.
Por outro lado, surpreende que os mesmos que entoam o mantra “os juros estão elevados” são os que querem que o governo gaste mais, não apenas nas áreas prioritárias como segurança e saúde, mas em todas. No caso dos empresários desenvolvimentistas, como os citados, em subsídios para as empresas. Ora, sabemos que os gastos públicos geram inflação, pela emissão de moeda. Então, fica difícil entender a coerência entre o refrão que critica os juros altos, do grito por mais verbas para tudo.
Se há algo que o mercado não perdoa é falta de coerência. Forçar uma taxa de juros mais baixa num ambiente global inflacionário e com um governo que fomenta a incerteza é a receita perfeita para desestabilizar a economia que, aos solavancos, passou razoavelmente pela crise da pandemia.
Não precisamos ir muito longe no tempo para ver o que acontece quando políticos e economistas confundem causa e consequência. Basta olhar o último governo sob a presidência do PT.
CEO | Chief Executive Officer | CFO | Chief Financial Officer | Conselheiro de Administração e Fiscal | Consultor de Estratégia, Finanças e Controladoria | Diretor Executivo | Diretor Financeiro.
1 aPerfeito Andre! A primeira preocupacao do Governo deveria ser com a politica fiscal, especialmente no que concerne gastar melhor. Passou da hora de melhorarmos a eficiencia do Estado e dos gastos publicos! Passou da hora de repensarmos o dimensionamento da "maquina publica".
Socio Diretor Comercial na Uniflex Persianas e Tradesign
1 a🎯