TDAH - Uma análise crítica
O transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, também conhecido como TDAH acomete 5,3% da população mundial e aproximadamente 5% da população nacional de acordo com pesquisa feita pela Focus TDAH em 2019. Sua definição pode ser dada através do DSM – V que entende que esta é uma síndrome de desatenção, hiperatividade e impulsividade, categorizando-a em três tipos: predominante desatento, hiperativo/impulsivo e combinados, não tendo até hoje uma causa específica.
O DSM – V recebe crítica de diversos autores devido ao seu modelo que ignora a subjetividade do sujeito transformando o sofrimento psíquico em patologias do sistema biológico. De acordo com Insel (apud. MARTINHAGO; CAPONI, 2019, p. 12) “a fragilidade científica do DSM está na falta de validade, ou seja, falta de estudos em laboratório que possam validar os diagnósticos”. Tereza Pinto (2012 apud. MARTINHAGO; CAPONI, 2019, p. 13) “relata que os profissionais que seguem a lógica dos manuais, como o DSM, acreditam na relação direta entre um distúrbio e uma droga, conduzindo para o tratamento medicamentoso”. Sendo assim, muitos profissionais de saúde ao seguirem o DSM para o diagnóstico de TDAH acabam por prescrever o uso do Metilfenidato, conhecido pela comunidade em geral como Ritalina, sendo o Brasil o segundo país que mais consome esta droga, tornando-se um processo lucrativo para indústria farmacológica, uma vez que:
“No início da era psicofarmacológica, poucas eram as crianças diagnosticadas com transtornos mentais. As crianças eram consideradas travessas, inquietas, dispersas, mas não recebiam o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Já os adolescentes eram considerados tímidos, emocionalmente inconstantes, todavia a sociedade esperava que na idade adulta seriam pessoas aptas para assumir suas responsabilidades, ter uma profissão, enfim, serem sujeitos normais. O olhar sobre a infância começou a ser revisto a partir do momento em que a psiquiatria passou a tratar crianças e adolescentes com medicamentos psicotrópicos.” (Martinhago, 2018, p. 3328).
O diagnóstico do TDAH atualmente é apenas clínico, pois ainda não é possível identificar este transtorno através de exames, tornando assim mais fácil diagnosticar pessoas e medicalizá-las, passa assim ser possível falsos diagnósticos positivos. Atualmente muito se critica o diagnóstico e a medicalização desenfreada para crianças e jovens.
A escola costuma ser a primeira a notar as dificuldades da criança como agitação, desatenção e fazer diversas coisas ao mesmo tempo que não são relacionadas a aula, por isso, acaba-se rotulando a criança e muitas vezes pedindo aos pais que busquem ajuda médica. Ao ser diagnosticada com TDAH a criança se depara com a falta de preparo da escola e dos professores para lidar com ela, falta paciência e muitas vezes estas crianças são deixadas de lado, a comunidade escolar muitas vezes apoia o uso medicamentoso, pois facilita o convívio em sala de aula, sem muitas vezes pensar no quanto isto pode estar sendo prejudicial a ela.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ainda gera muita polêmica entre os profissionais de saúde que acabam por estar divididos em a favor da medicalização e os contra, porém a Organização Mundial de Saúde (OMS) não descarta o uso de remédios desde que haja um acompanhamento do paciente e um consentimento entre família e médico sobre o tratamento. O TDAH é uma desordem de origem neurológica de acordo com a OMS e deve ser avaliado a partir de uma equipe multidisciplinar que em conjunto com a família e/ou paciente encontrarão a melhor forma de tratamento para o sujeito. Muitos especialistas defendem a não medicalização a partir do viés de que toda criança é agitada e ativa, a administração deste comportamento deve ocorrer a partir de terapias. Outra critica comum seria a do diagnostico feito por apenas um profissional que não questiona se o sujeito tem realmente um dificuldade de concentração ou a forma de ensino que está estagnada e não consegue se adaptar as novas demandas, uma vez que as queixas costumam surgir a partir do momento em que a criança é inserida no contexto escolar.
Mantendo em vista este contexto deve-se concluir que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ainda necessita de muito estudo para compreender melhor seus fatores, precisando de um acompanhamento efetivo para o sujeito e sua família buscando sempre melhorar a qualidade de vida dos mesmos, deixando a medicalização como uma das formas de tratamento, mas não apenas a única, um tratamento multiprofissional seria o mais adequado para tal, assim como analisar o contexto da criança e utilizar diferentes atrativas antes de medica-la, uma vez que, toda e qualquer droga lícita tem por desenvolver efeitos colaterais e podem prejudicar quem a usa.
REFERÊNCIAS
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