Tecnologia de aplicação, ferramentas e cuidados para alcançar excelência produtiva
A agricultura moderna proporciona o cultivo de alimentos em escala, capazes de fornecer energia e suprimentos necessários para manutenção da vida. Uma lavoura eficiente e produtiva requer: planejamento, atenção na tomada de decisões e cuidado constante nas diversas fases da cultura. A viabilidade econômica de grãos e cereais é possível graças ao incremento tecnológico dos produtos fitossanitários, tais como herbicidas, fungicidas e inseticidas.
Os fitossanitários estão presentes, em dessecações antes do plantio, na conservação da semente no solo, como principal método de controle das plantas invasoras, no combate as populações de insetos praga e também no controle de doenças microbiológicas, como fungos e bactérias. Boa parcela dos produtos são manuseados no formato de caldas, em aplicações aérea ou tratorizada, e sempre atentamos às condições básicas para aplicações:
- Umidade relativa (UR) não inferior a 50%
- Velocidade do vento entre 2-10 km/h
- Temperaturas inferior a 30°C
É necessário ter em mente que cada produto possuí especificidades, na qual podem variar um pouco as condições básicas de aplicação, portanto, devemos realizar a consulta agronômica de cada produto em particular.
De forma geral, os fitossanitários podem ser classificados em virtude de sua recomendação para a aplicação em relação a cultura a ser protegida, sejam administrados em pré-emergência ou em pós-emergência, garantindo que o manejo fitossanitário não afetará significativamente o desempenho da cultura, se usado sob condições prescritas. O método de translocação deve ser conhecido, se o produto é sistêmico ou de contato, além do tempo necessário para que haja o efeito desejado. Podemos destacar pelo menos duas situações externas que podem afetar o desempenho dos produtos:
- A radiação solar: O efeito luminoso do sol, é capaz de modificar estruturas orgânicas e inorgânicas, tendo o poder de alterar as características dos produtos, a exemplo, ocasiona a diminuição efetiva de um ingrediente ativo (i.a.), fazendo com que uma aplicação tenha a qualidade prejudicada.
- Lixiviação: Com frequência, após ou durante operações de aplicações, ocorrem chuvas ou chuviscos, que tem o potencial de reduzir a eficiência do produto, em virtude da ultra diluição, ocorrendo o "efeito lavagem", impedindo a ação do produto no alvo em questão.
Conhecendo as situações que tem o poder de interferir na qualidade das aplicações, torna-nos capaz de buscar meios a minimizar tais efeitos. Outra questão importante sobre os produtos fitossanitários, é a formulação, que podemos encontrar comercialmente mais de oitenta variações delas e praticamente um terço é solúvel em água, variando conforme o fabricante estabiliza e dispõe o i.a. para uso. Algumas dessas formulações podem apresentar maior instabilidade quando realizada a mistura em calda.
Abaixo podemos diferenciar características de sete formulações encontradas no mercado, com suas respectivas siglas, observadas na bula de cada produto comercial:
- SA - solução aquosa: O produto comercial apresenta uma proporção de solvente (água), no qual objetiva-se manter o soluto (i.a) dissolvido, apresentando boa capacidade de mistura em tanque.
- WG - grânulos dispersíveis: Nesta modalidade o i.a. é disposto em no formato sólido, em grânulos facilmente diluvieis em água.
- SC - suspenção concentrada: Os produtos comerciais neste tipo de formulação, há casos que encontramos na configuração sólida, contudo, podemos diferenciar aqui a diluição em solvente (água), que melhora o desempenho em calda.
- EC - concentrado emulsionável: Nesse caso, além do i.a. estar dissolvido em água, também há presença de adjuvantes, com a finalidade de estabilizar o concentrado, facilitando a produção da calda.
- SP - pó solúvel: Resulta no produto comercial em formato de pó, que apresenta pouca resistência de solubilidade, quando feito seu uso em formação da calda fitossanitária.
- WP - pó molhável: Provavelmente o tipo de formulação que mais acarretam em problemas de uso, devido a sua instabilidade quando misturado em tanque, não se dissolvendo por completo, acarretando no entupimento de bicos e mangueiras, é muito necessário realizar boa agitação anteriormente ao uso.
- GR - granulada: Formulação que não são usadas em aplicações, neste caso o i.a. está presente em porções sólidas que se fazem o manejo diretamente em função de seu desígnio.
Dificilmente as aplicações de produtos fitossanitários ocorrem com um único formulado, embora existam no mercado, agrotóxicos com mais de um i.a., nem sempre vamos encontrar um produto que contribua de maneira isolada, resolvendo os problemas identificados em uma lavoura, de forma que as misturas em tanque ocorrem com frequência. Devemos estar em alerta ao usar inúmeros tratamentos de uma única vez. A ordem de adição deve ser levada a sério, iniciando com o repositório cheio de água de qualidade, limpa, sem resíduos orgânicos e com o agitador ligado, seguindo os produtos de menor para maior solubilidade, conforme podemos exemplificar: WP>WG>SP>SC>EC. Os adjuvantes e fertilizantes líquidos, serão os últimos a serem adicionados, com ressalva, quando houver produtos de base oleosa, onde se é indicado acrescer ao final das demais formulações. Além dos cuidados com a sequência, sempre deve-se verificar a compatibilidade dos produtos, não é indicado realizar misturas sem o prévio conhecimento, tornando fundamental a consulta de um profissional habilitado.
Os aspectos que envolvem a tecnologia de aplicação devem ser conhecidos e monitorados, garantindo condições ideais de uso. Portanto, existem os adjuvantes, ferramentas tecnológicas, capazes de inibir algumas peculiaridades negativas em virtude da espécie do formulado e minimizar os efeitos das condições climáticas, tal como chuvas, temperatura elevada e umidade relativa baixa, quando ocorrido em seus limites. De forma geral, classificamos os adjuvantes em dois grupos:
- Adjuvantes Aditivos: Aqui podemos citar os óleos: mineral e vegetal; eles tem o objetivo de melhorar a absorção, reduzir a deriva, retardar a evaporação e também funcionam como espalhantes. Existem dois fertilizantes de base nitrogenada, o sulfato de amônio e a ureia, que consideramos adjuvantes aditivos, eles reduzem a tensão superficial da água e aumentam a absorção pelas folhas.
- Adjuvantes Surfactantes: Neste grupo podemos encontrar pelo menos cinco distinções: Espalhantes: quando pensamos em uma gota de água lembramos do formato quase esférico, esse comportamento é dado em virtude da tensão superficial que o solvente universal possuí, os aditivos espalhantes promovem a diminuição dessa tensão superficial, aumentando a área de contato das pulverizações; Aderentes: ao pulverizar a calda sobre a superfície vegetal, naturalmente o peso do líquido vai atuam em conjunto com o efeito da gravidade, escorrendo para o solo, este surfactante aumenta a fixação da aplicação e reduz tal fenômeno físico; Dispersantes: como já supracitado, alguns formulados possuem uma menor capacidade de solubilidade, podendo decantar em tanque e ainda ocorrer aglomerações de partículas sólidas, a ação dos dispersantes atua na homogeneização da calda, reduzindo os efeitos negativos de determinadas formulações, primariamente sólidas, a exemplo os WP's; Molhantes: necessária utilização quando trabalhado com gotas menores, afinal, possuí a capacidade de aumentar a vida útil das gotas, sendo importante para haver uma absorção e ação eficaz do produto fitossanitário; Detergentes: um fator que pode reduzir a qualidade das aplicações é a presença de partículas de argila (terra) no alvo das pulverizações ou ainda a própria cera natural das folhas, portanto este tipo de surfactante cumpre o papel de auxiliar a remoção das camadas de terra, melhorando a absorção das aplicações.
Os surfactantes, são excelentes ferramentas da tecnologia de aplicação, possuem múltiplas finalidades conforme suas características acima elencadas, eles podem evitar variadas situações limitantes e danosas, sendo o fenômeno da deriva uma muito recorrente. Tal fenômeno ocorre quando não atingimos apenas o alvo das pulverizações, acarretando em danos no entorno dos cultivos; Há dois tipos: a deriva pelo vento, em situações de mal dimensionamento de tamanho de gota, desconhecimento da velocidade do vento e uso de pontas inadequada para as distintas situações, fará com que a calda pulverizada atinja outros cultivos; Também pode haver deriva por volatilização, em consequência de altas temperaturas e baixa umidade, assim como há determinados produtos com maior capacidade de volatilização, a exemplo herbicidas hormonais em determinadas composições são tendenciosos ao fato, a evaporação do produto ira devastar outras produções; Além do uso de adjuvantes, é indicado investir em pontas de pulverização, como as do tipo TTI (Turbo TeeJet Induction), que possuem sistema de indução de ar, para aumentar o espectro (µm) das gotas, produzindo gotas ultra grossas, reduzindo o efeito da deriva.
Como observado, há variadas condições capazes de interferir nas aplicações, podendo reduzir a eficiência desejada de uma operação ou mesmo evidenciar danos a cultura, denominado de fitotoxidade. Exemplificando, quando identificamos lesões necróticas, amarelamento, bronzeamento, enrugamento nas folhas ou partes da cultura, que não são oriundas de fungos, bactérias, insetos, dentre outros, são causadas pelo manejo sanitário inadequado, que despertam estresse elevado e possível redução da produtividade. Inclusivamente sobre condições ideais de aplicação, haverá algum tipo de estresse da cultura, ainda que mínimo, afinal, são vastos os protocolos de tratamentos aos vegetais.
Diante da ótica do estresse causado pelos fitossanitários, temos a disposição selecionados produtos com funções adjuvantes surfactantes e nutricionais, capazes de salvaguardar os efeitos das aplicações, dispondo a planta elementos minerais importantes ao desenvolvimento de seu ciclo. Essa reposição em pequenas porções de determinados nutrientes, podem ao final serem responsável por acrescentar em percentual produtivo.
Em uma operação de aplicação planejada, devemos conhecer todas as variantes, tal como o tipo de bico pulverizador, volume de calda, pressão e velocidade de trabalho, dimensionamento da máquina, situações de manutenção, a exemplo das mangueiras e bombas. Tais variantes, estão ligadas intimamente ao tipo de produto utilizado (herbicida, inseticida e fungicida), lançando mão também dos adjuvantes surfactantes, que maximizarão o manejo fitossanitário da lavoura.
Com êxito, concluímos que a tecnologia de aplicação é responsável pela excelência produtiva, permitindo que uma cultivar expresse seu potencial genético, quando respeitado o correto uso das múltiplas ferramentas em cada situação; seja na produção de grãos, frutos, fibras ou onde seu emprego for bem-vindo.
Agrônomo Pesquisador Especialista para Cultura do Milho na FITOLAB
4 aExcelente seu artigo meu amigo. Bem abrangente, de fácil entendimento, com pontos fundamentais e bem completo mesmo. Parabéns pela sua redação e iniciativa de trazer um assunto pouco abordado e de altíssima importância na agricultura. Show mesmo
Especialista em Recursos Humanos: Talent Acquisition, Recrutamento e Carreira | Influenciador de RH #1 MUNDO (Favikon) Top 5 Brasil (iBest) | Autor do Livro Atrair, Recrutar e Selecionar (Atlas/2025) | Professor e Mentor
4 aAgro é tech Agro é pop Agro é tudo Rsrs Um abraço, Erexauá Michalski de Almeida 😎🤘
Parabéns Erexauá Michalski de Almeida!! Qualidade da água, ordem de mistura de tanque e condição de temperatura e umidade. São o segredo de uma boa aplicação.
Diretor na Agrotis Agroinformatica
4 aÓtimo resumo da tecnologia de aplicação. Ótima didática.
Técnico de Campo, Engenheiro Agrônomo, Assistente Técnico de Campo Experimental, Pesquisa & Desenvolvimento, Assistente Técnico Comercial
4 aExcelente, Erexauá, seu artigo esta ótimo! Bem didatico e interativo, agrega muito conhecimento. Parabéns.