Tecnologias emergentes e aplicações no setor público: lições da ficção científica e dos mangás para o futuro da governança

Tecnologias emergentes e aplicações no setor público: lições da ficção científica e dos mangás para o futuro da governança

As tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, IoT, Big Data, Blockchain, entre outras podem vir a transformar o setor público de maneiras antes inimagináveis. Porém, seu uso traz também questionamentos sobre implicações éticas e morais que precisam ser postas à mesa. Como dito por Tio Ben ao nosso querido Homem Aranha, com grande poder vem também grande responsabilidade. Nesse admirável mundo novo que se abre à nossa frente, como garantir que essas inovações realmente contribuam para o bem-estar da sociedade, sem comprometer valores éticos e humanos? Creio que esse seja um dos grande desafios da humanidade para o Século XXI.

A ficção científica tem explorado essas questões por décadas, oferecendo visões tanto de esperança quanto de advertência. Um dos exemplos mais icônicos é O Exterminador do Futuro (1984), dirigido por James Cameron. O filme nos apresenta a Skynet, uma inteligência artificial que, ao se tornar autoconsciente, decide eliminar a humanidade para garantir sua própria sobrevivência. Esta narrativa nos alerta para os perigos de tecnologias que, se não forem bem controladas, podem escapar ao nosso controle e se voltar contra nós.

No mundo dos mangás, os romances gráficos japoneses, a discussão sobre o desenvolvimento tecnológico e o futuro da humanidade também tem sido explorada há tempos. Ghost in the Shell (1989), de Masamune Shirow, por exemplo, nos leva a refletir sobre o que significa ser humano em um mundo onde a linha entre homem e máquina está cada vez mais borrada. A protagonista, Major Motoko Kusanagi (que, por sinal, eu adoro!), é um cyborg que luta contra criminosos cibernéticos enquanto questiona sua própria identidade em discussões filosóficas que dariam inveja a Sócrates. Essa obra nos faz pensar sobre as implicações éticas da integração cada vez maior da tecnologia em nossas vidas, algo que já estamos começando a vivenciar com a adoção de inteligência artificial e automação. Questões como uso de agentes inteligentes, chatbots de atendimento, robôs pregoeiros, toda a discussão sobre transformação digital, monitoramento em tempo real para identificação de indícios de irregularidades em processos de compra entre outas questões são exemplos dessa discussão no setor público.

Outro clássico dos mangás, Akira (1982), de Katsuhiro Otomo, explora um futuro distópico onde o avanço tecnológico descontrolado leva à destruição de Tóquio e ao surgimento de um regime autoritário. Esta narrativa destaca os perigos da corrupção política e da negligência com o impacto social das tecnologias, um lembrete importante para governos que estão na vanguarda da inovação tecnológica para que se atentem aos perigos éticos e as implicações para o futuro dos sistemas democráticos ao redor do mundo.

Essas histórias, embora fictícias, oferecem lições valiosas para o presente. O uso de tecnologias emergentes pode significar a automação de processos, a melhoria da transparência, e a eficiência na prestação de serviços. No entanto, é crucial que sejam implementadas com um olhar atento para os possíveis riscos e com um compromisso firme com a ética e os direitos humanos. Ao setor público cabe liderar e avançar nessa estrada para o futuro com prudência e responsabilidade, aproveitando o melhor que a tecnologia pode oferecer, enquanto se atenta aos potenciais perigos que ela carrega.

Nesse caminhar, nós, servidores públicos, devemos atuar de forma consciente e bem-informada, para que essas tecnologias sejam implementadas de forma ética e transparente, visando o bem comum e garantindo que sejam acessíveis e inclusivas, para todos os cidadãos, independente de suas condições. À medida que avançamos para um futuro cada vez mais digitalizado, podemos nos inspirar nessas obras para garantir o equilíbrio entre eficiência tecnológica e preservação da humanidade e da justiça social. Em última instância, ao fazer isso, ajudaremos a moldar um futuro em que a tecnologia serve ao público, e não o contrário. O momento é instigante e inspirador, o que vai acontecer eu não sei, só o tempo dirá ...

Josalba Ramalho Vieira

Doutora em Linguística Aplicada (UNICAMP)

7 m

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