Teletrabalho: O solitário cockpit da rotina remota

Teletrabalho: O solitário cockpit da rotina remota

Ola passageiros, aqui quem vos fala é o redator desses artigos. Estamos nos aproximando do final do ano e considero importante a reflexão a seguir.

É um período de confraternização em que aproveitamos para estreitar relacionamentos na vida pessoal e profissional.

No primeiro artigo iniciamos a nossa analogia do teletrabalho com o mundo da aviação. Leia aqui.

Tivemos uma escala em nossa viagem. Entre um artigo e outro, postei falando que o teletrabalho pode estar afetando a inflação no país, porém deixei algumas considerações bem relevantes. Considero uma importante leitura prévia para este artigo. Leia aqui a postagem.

No segundo, falamos sobre o preparo que os profissionais precisam ter para almejar e aderirem no teletrabalho. Leia aqui.

No terceiro artigo, falamos da importância e da complexidade do planejamento das entregas e do monitoramento feito por parte da instituição. Leia aqui.

Durante o voo, fomos comunicados de tubulência no país vizinho e que possivelmente os aeroportos públicos de nossos hermanos serão fechados por um tempo. Leia a notícia aqui.

Neste quarto artigo falaremos da saúde mental e emocial do servidor e do quanto o teletrabalho pode ter um forte impacto negativo.


O Corpo Fala!

Aviadores devem se submeter frequentemente a exames médicos e psicológicos rigorosos para avaliar sua saúde física e mental. Eles precisam estar aptos para enfrentar situações que outras pessoas comuns não enfrentariam. Estar em condições para ficar isolados na cabine e ser capaz de tomar uma decisão em segundos que pode representar vida ou morte.

Todos nós estamos sujeitos a uma série de fatores que afetam nossa saúde física e mental. Quando estamos trabalhando presencialmente, dificilmente conseguimos esconder de colegas e gestores que há algo afetando nossas vidas fora do ambiente profissional.

Um dos primeiros livros que li de psicologia, O Corpo Fala, me ajudou a ler o cenário à minha volta! Quantas vezes encontramos com colegas que estavam sorrindo, mas todo seu corpo estava representando outra coisa? Ou que estavam agitados durante a reunião e que não paravam de olhar para o celular?

Confesso que sinto muita falta desse contato com colegas de trabalho que estão 100% no remoto. Pois muitos dos sinais da linguagem corporal que emitimos não podem ser lidos no virtual, mesmo com câmeras ligadas.

Quantos colegas estão enfrentando depressão e não sabemos? Dificuldade com álcool ou drogas? Agressões? Para eles, o presencial, apesar da vergonha ou dificuldade de ir para o trabalho, é o local onde podem encontrar algum tipo de socorro, pois essas situações dificilmente ficam ocultas ao olhar humano.

Pilotos precisam ser monitorados constantemente pois é uma profissão que exige muito do profissional: longos períodos de tempo longe da família, tomadas de decisão, responsabilidade por outras vidas. Não podemos fechar os olhos para as centenas de casos, como o voo U2 9225 da Germanwings, que ocorrem no mundo (clique aqui e entenda o caso)

Sem falar que, preocupado em colocar os profissionais no centro do debate sobre saúde pública, recentemente o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças ocupacionais.

O teletrabalho pode auxiliar na qualidade de vida, alguns afirmam. Concordo!

Mas, quero provocar vocês a refletirem que o teletrabalho pode gerar um isolamento para alguns que não estejam preparados para enfrentar! E as instituições? Estão prontas para ajudar?

Nos primeiros pilotos de implementação do teletrabalho na administração pública, antes da pandemia, havia entrevista e acompanhamento dos servidores que desejavam aderir a essa modalidade. A administração acompanhava o servidor!

Encontros presenciais no ambiente de trabalho possibilitam criar vínculos e amizades. Quebrar barreiras de baias e organogramas. Quantas pausas para o café e almoços não formaram vínculos que ajudaram a resolver situações no trabalho?

Sejamos sinceros. Quem aqui experimentou mudar de instituição e executando atribuições completamente diferentes e de forma remota? Como foi a adaptação? Aposto que sua resposta vai variar a partir de alguns fatores, dentre eles, o quanto você queria o teletrabalho, o grau de maturidade da instituição e o grau de maturidade da equipe.

Agora, a adaptação seria bem mais rápida e fácil se tivesse contato presencial com a equipe e a instituição. Não porque o presencial/híbrido é melhor, mas porque estaríamos mergulhados no ambiente. A ambientação é um fator que precisamos levar em consideração!


Conclusão

Finalizo destacando a importância crítica de uma avaliação realista do cenário do teletrabalho.

Utilizando analogias com a aviação, ressalto a necessidade de registros históricos, avaliações contínuas e efetivas e sinceras. Para o teletrabalho, é fundamental a maturidade tanto da instituição quanto dos servidores. Ele funciona, mas não é para todos!

Considero, por fim, de suma importância o contato presencial para fortalecer vínculos, o senso de pertencimento, facilitar a adaptação de novos empregados na empresa/setor e o fortalecimento da cultura institucional.

Um avião não pode permanecer em voo o tempo todo! Independentemente de sua autonomia e modelo, precisa fazer paradas nos aeroportos periodicamente. Da mesma forma, considero importante, de tempos em tempos, que um profissional tenha contato presencial com seus colegas de trabalho.

O teletrabalho de fato é como um avião que nem todos estão preparados para pilotar!!



Contribuição

Revisão técnica Bernardo Rossi

Revisão Alessandra Caixeta S. Prado e Daniel Oliveira Silva

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