Tempos de #opentowork: que a perda do emprego não seja também a perda da saúde mental

Tempos de #opentowork: que a perda do emprego não seja também a perda da saúde mental

Sei que o LinkedIn costuma ser um espaço para exibir as conquistas profissionais, mas ultimamente vejo uma onda de demissões e precisamos sim falar sobre isso.

No final de 2015 encarei minha primeira demissão em um corte grande na empresa em que estava.

Amava trabalhar ali e também havia feito muitas amizades lá.

Não consigo nem mensurar o quanto isso me doeu - e o quanto também foi decisivo para complicar mais a minha depressão e transtorno de ansiedade.

Por um bom tempo vivi apenas de freelas - quando apareciam.

Sempre fui muito organizada financeiramente e consegui me manter com o dinheiro que havia guardado, além do apoio da minha família e namorado.


Mesmo não passando nenhuma necessidade (graças a Deus!), a sensação de impotência e até mesmo a indevida preocupação com a opinião alheia me destruíam aos poucos. Para alguém com um perfil de autocobrança elevada, isso não é incomum - e foi aí que tentei tirar a minha própria vida.

O desemprego não foi o único motivo, mas sem dúvida foi o principal para eu adoecer.


Foram anos de psicoterapia para entender que não fazia sentido eu me definir pelo desemprego - e nem mesmo por um emprego, afinal, somos muito mais que um trabalho.

Foram anos para perceber que eu não deveria me envergonhar de uma situação que não depende apenas de mim (e precisei relembrar isso ao sentir vergonha de publicar aqui que estou novamente no #opentowork).

E, por fim, foram anos para entender o clichê do "nenhum CNPJ vale um AVC" - e nem mesmo a falta de um.


Desde então, passei por diversas empresas e, em todas elas, eu é quem pedi demissão.

Os motivos foram diferentes e apenas uma vez eu fiz isso por conseguir uma oportunidade melhor. 


Enxergo que fui privilegiada por poder me dar ao luxo de pedir demissão ao priorizar a minha saúde mental.

Mais uma vez, recorri ao dinheiro guardado para pagar as contas.


Agora, neste ano, eu já estava com a sensação de encerramento de ciclo no trabalho atual.

Já não me identificava com muitas coisas e sabia que não iria longe.

Então, há 1 semana recebi a notícia da minha demissão. Ela já era não só totalmente esperada como também desejada, já que minha saúde mental vinha sendo prejudicada e eu havia até sido afastada temporariamente pelo meu psiquiatra. 

Também havia ficado doente, afinal, o corpo reage quando o emocional não vai bem.


Eu já estava acompanhando vagas aqui no LinkedIn, sites e grupos que faço parte.

Confesso que é sim desesperador me deparar com tantos "open to work", ainda mais quando sei que muitos estão passando necessidades assim.


Embora eu já não estivesse bem ali e prefira acreditar que quando "perdemos" algo é um livramento e uma chance de aproveitar o melhor (que só virá até nós com o nosso caminho aberto), não vou ser hipócrita de dizer que fiquei feliz com a demissão. Afinal, o mercado está extremamente difícil e tenho um medo gigantesco de demorar muito tempo para me recolocar e, mais uma vez, a depressão e a ansiedade me abraçarem com aquela força que me fez perder a vontade de viver. 


Apesar de não me encaixar mais, preciso reconhecer que também tive experiências positivas ali, assim como em todos os lugares que passei (inclusive, 2 dos chefes mais empáticos e justos que já tive, ainda faço questão de manter contato e reconhecer o quanto me ajudaram). Aproveitando o gancho de empatia: o mundo corporativo precisa de mais pessoas reconhecendo quem contribuiu para o seu crescimento, além de mais empatia com saúde mental também, mas isso fica para outra publicação.


Enfim, esse desabafo-reflexão tem um motivo: mostrar para as pessoas que estão passando por isso que elas não estão sozinhas.

Lembrá-las de que não é isso o que as define e que agora, mais do que nunca, é importante cuidarem da saúde mental para que não se percam de si mesmas junto com a perda de um emprego.


Também aproveito a oportunidade para pedir encarecidamente que a rede de apoio de cada um de nós nos ajude a fortalecer, não só com envio de vagas e indicações, mas principalmente com apoio emocional.

São tempos sombrios em que não só empregos são perdidos, mas também a fé e, muitas vezes, a vontade de continuar. Infelizmente, me deparei aqui na semana passada mesmo com o relato de um homem que perdeu o emprego e tirou a própria vida.


Deixo aqui todo o meu apoio aos que, assim como eu, estão #opentowork e me disponibilizo a conversar se quiserem.

Não precisamos e nem merecemos passar por isso sozinhos. 

#opentowork #layoff #demissão #saúdemental #apoio

Renan Sena

CEO & Fundador da Upperfy com expertise em Growth Hacking e Inteligência Artificial

6 m

👍👏👏

Viviane Oliveira

Marketing | Branding | Comunicação | Estratégia | Experiência do cliente | Cultura da inovação

1 a

Parabéns pela coragem em expor sua vulnerabilidade, Bia! Porque precisamos sim de coragem, ao nosso redor vemos "heróis" e poucas pessoas que confessam suas limitações. Isso infelizmente reforça essa cultura do estigma em relação a saúde mental. Onde é fraco ou desconfortável quem fala sobre. Concordo com tudo o que você falou e sinto muito que tantas pessoas passem por isso e dessa forma, acredito que seja até mais gente do que realmente falam ou procuram ajuda. Pertencimento é sobre quem somos de verdade, apesar de estarmos empregados ou não. Tudo de bom na sua jornada :)

Eu já passei altos problemas, fiquei órfã de mãe aos 12 e pai aos 14, aos 16 estava casando, passei cada uma, mas me orgulhava da minha resiliência. Até que em 2017 perdi minha lojinha e começou a fase da pindaíba, tipo sortear o que pagar ou que comer. Com muito custo fiz o Enem e entrei para a faculdade em 2018, com a esperança de que assim que me formasse trabalharia na área.Só que não, vai indo para dois meses de formada e nada de emprego de farmacêutica, no último mês entre currículo físico, on LINE, sites , whatsapp entreguei em torno de 60.... Só meu marido trabalhando, o dinheiro não fecha o mês e sempre ou peço ajuda de uma amiga que é parceira ou da sogra, isso tá me consumindo de uma maneira que não durmo mais, tenho crises de choro e já falei que se não fosse minha filha, tinha pegado a bicicleta e caído no mundo...

Lory Nakahara

UX Writer Sênior no Mercado Livre

1 a

Como sempre muito assertiva. Amiga, como você mesma disse, não devemos nos definir pelo nosso emprego, somos MUITO MAIS que isso. Somos muitas versões. As coisas vão se encaixar, você vai ver. Um abraço apertado! ❤️

Fred Morgan

Consultor de Logística | Transporte | Especialista | Analista | Coordenador | Supervisor | Gerente | Green Belt | Projetos

1 a

Beatriz Zanzini , parabéns, nunca vi um texto tão honesto e brilhante sobre esse assunto quanto esse. Situações de desemprego te fazem questionar muitas coisas, inclusive a própria culpa, pelo sentimento de fracasso, quando na verdade não é. É um momentoonde  todos somos impelidos a repensar nossas vidas, a fazer um balanço de nossas ações. É um momento que chega trazendo uma espécie de cobrança interna para realizar algo urgente logo em seguida para que o que venha pela frente seja melhor do que o que passou. No momento da tristeza, do desespero, nos culpamos, mas você conseguiu perceber a tempo de não cair no círculo vicioso. Que seu exemplo sirva para que outras pessoas que passam ou conhecem alguém que está passando pelo que você passou sirva como um alerta para um olhar mais atento, mesmo em meio ao furacão de emoções. O furacão é avassalador, mas o olho do furacão é calmo e sem vento. Difícil é chegar lá e você chegou. Parabéns pela sua história e parabéns pelo seu texto tão brilhante e necessário. Eu te admiro!

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