TEORIA X PRÁTICA: UMA RELAÇÃO SIMBIÓTICA
Até pouco tempo atrás a maneira de analisar teoria e prática, aplicada a uma atividade, dava-se numa estrutura cronológica linear onde primeiro apreende-se um determinado conteúdo em base teórica (aulas, orientações, ensaios, leituras, etc) e depois parte-se para a aplicação em contexto prático. Com o tempo, a prática torna o profissional habilidoso na atividade e, frequentemente, passa-se a ignorar a teoria ou reduzi-la a um patamar de baixa importância. Bem, esse cenário clássico está em xeque, por duas razões importantes, primeiro pela necessidade latente de capacitação contínua (que explico melhor no artigo Capacitação contínua: um ato de sobrevivência no mercado) e segundo porque o bastião do conhecimento e da inovação está fisicamente nos espaços que emanam o ensino: nas academias, nas universidades, nos laboratórios, etc. Virar as costas para essas instituições e se colocar num pedestal onde a prática é uma religião e a teoria é um demônio que apenas consome tempo é uma atitude quase suicida nos tempos que virão. O caminho será reintegrar as duas ações em um processo único, cíclico e simbiótico.
O conhecimento teórico jamais deve ser negligenciado em qualquer tipo de negócio. É muito comum ouvir de um profissional que tenha algum tempo no mercado dizer o seguinte: “A faculdade não ensina nada do que a gente realmente faz aqui fora na vida real.” Ao analisar essa frase notamos que nela mora uma discussão interessante do conflito teoria x prática.
O primeiro impacto desse “dizer popular” no mundo profissional é que há uma desconexão entre a universidade e o mercado, entre a grade curricular e o trabalho a ser realizado, como se houvesse uma realidade utópica na orientação e instrumentação que a instituição de ensino oferece ao formando e uma realidade natural na sociedade e na vida fora das universidades. Apesar de concordar com alguns pontos desse entendimento, onde de fato acredito que haja ajustes a serem feitos, a totalidade dessa afirmação não é verdadeira. A formação de um profissional deve atacar duas frentes que são importantes na mesma medida: a capacitação técnica pra realizar a atividade e o debate do senso crítico para discutir o futuro daquela atividade. Talvez o desequilíbrio entre essas duas frentes é que traz essa sensação de desconexão, que é enganosa, porque de fato é nas universidades que está o limiar do conhecimento humano, apesar de várias corporações multibilionárias terem investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento, ainda assim é na academia que homóloga-se os novos conceitos, entendimentos, teorias, etc. O que quero dizer é que ao ter que pensar à frente haverá uma disruptura natural entre o que se faz no dia a dia (prática) e o que está por vir (teoria), isso em boa medida é saudável e necessário até para a profissão não se tornar obsoleta.
Um segundo ponto a ser analisado é o comportamento humano. Dentro da nossa inércia é natural criticarmos o que está fora dela, é confortável, a inércia traz essa sensação. Baseado nisso e de maneira subconsciente é que vem o comentário de que a teoria é uma perca de tempo. E nessa batalha entre teoria e prática com o tempero da inércia a prática sempre vai ganhar, por uma questão simples de matemática, você fica de 4 a 6 anos em média na universidade (teorizando) e passa 30, 40 anos exercendo a atividade profissionalmente (praticando). Esse é o ponto a que quero chegar, ao sair do período de preparação pra exercer uma atividade o profissional não deve encerrar seu relacionamento com a academia. Geralmente os defensores assíduos da prática são profissionais que de certa maneira se estabilizaram em suas profissões há alguns anos, nunca mais colocaram os pés na academia e “aprenderam” a trabalhar no dia a dia do mercado. Óbvio, eles usaram apenas o mercado como fonte de retroalimentação profissional.
Nessa simples reflexão, porém, o profissional que dedica anos à prática não leva em consideração que inovações que ele experimenta no mercado em seu dia a dia como: evoluções de método de trabalho, novos produtos que utiliza, novos softwares, etc, são invariavelmente produtos acabados de pesquisa e teorização em ambientes acadêmicos. Com isso em vista, o mais sensato é tomar a linha de atualização constante, olhar pra teoria vez ou outra, entender o que está sendo estudado fora da sua bolha de atividade diária.
Um exercício que proponho é o seguinte: Você que acredita apenas no caminho da prática para ser um bom profissional já perguntou para algum estagiário seu o que eles estão estudando na universidade? Quais ferramentas estão utilizando? O que estão discutindo? Quais são as referências de profissionais que são indicados a eles? Trago a minha experiência pessoal sobre isso, em conversas informais com estagiárias dentro da nossa empresa descobri softwares que melhoraram nosso método de trabalho, que deram velocidade pra entregar nossos projetos e que ressignificaram nossas apresentações. Tente vale a pena!
Esse é um primeiro passo importante para tornar teoria e prática atividades simbióticas. O profissional que de alguma maneira consegue se manter atualizado, se capacitando em novas habilidades, se reaproximando da academia, vai aos poucos tornando cíclica essa relação e logo estará em um ciclo virtuoso de evolução constante. E não é apenas isso, com a velocidade das mudanças é fundamental o profissional estar com um pé no mercado (na prática) e outro na academia (na teoria) para “vigiar” em tempo real o que está acontecendo. Acredite, a educação é a única ponte confiável para o que está por vir.