Termômetro da biotecnologia na desconstrução do envelhecimento: mercúrio ascendente

Compreendendo a Biologia do Envelhecimento e o Potencial de Intervenções no Setor de Saúde

A compreensão básica da biologia do envelhecimento, a unificação entre teoria e experimentos, e o recente investimento de venture capital em empresas de biotecnologia em estágio pré-clínico e clínico sugerem que o ecossistema está saindo da adolescência. E por que isso é importante? Porque, como sociedade, temos uma abordagem reativa para a saúde, treinando nossos médicos e farmacêuticos para reagirem em vez de prevenirem doenças. E o envelhecimento é, de longe, o maior facilitador de lesões e doenças.

Ao abordar a saúde celular, tecidual e dos órgãos e melhorar a resiliência, teoricamente seremos capazes de viver mais saudáveis por mais tempo. Isso também reduziria o custo oneroso dos cuidados de saúde reativos. Como exemplo, apenas 5% das pessoas desenvolvem câncer até os 75 anos, mas 100% sofrerão de alguma doença crônica relacionada ao envelhecimento. Paradoxalmente, há 20 vezes menos investimento destinado a intervenções para longevidade e saúde do que para oncologia.

Desde o papel dos metabólitos, expansão clonal celular, até os relógios biológicos, epigenéticos e outros que regulam o ritmo de envelhecimento dos tecidos e órgãos, parece haver um conjunto crescente de ferramentas para abordar múltiplos aspectos do envelhecimento. O campo expandiu-se além das primeiras escolas de pensamento, agora redesenhado como gerociência, dominado por rapamicina, resveratrol, metformina, o limite de Hayflick e a erosão dos telômeros.

Projetos como o Interventions Testing Program (ITP) do NIA, que testa diferentes intervenções em camundongos, são exemplos interessantes. Enquanto isso, muitos laboratórios acadêmicos investigam as causas do envelhecimento, apresentando teorias intrigantes baseadas em física, bioquímica e biologia que são fundamentais para entender o processo de envelhecimento. Antes de tudo, precisamos concordar com uma definição para o envelhecimento – ele é celular, orgânico, cronológico, replicativo, perda de aptidão ou aumento da probabilidade de morte? Em seguida, precisamos buscar dados que nos permitam testar hipóteses e aprender sobre biomarcadores que possam ser traduzidos para a clínica, possibilitando ensaios clínicos de curta duração para avaliar a eficácia de intervenções de longevidade.

Empresas de Biotecnologia em Estágio Inicial e Descobertas Acadêmicas: Uma Perspectiva do Investidor

Ao contrário do que foi publicado recentemente (Implausibility of Radical Lifespan Extension), os avanços apresentados no ARDD 2024 em IA, Genética, Proteômica e compreensão da biologia do envelhecimento sugerem que podemos alcançar um aumento significativo da saúde e longevidade ainda neste século. Algumas empresas de biotecnologia exemplificam esse ponto de virada na gerociência:

• Nanotics: usa nanotecnologia para absorver elementos solúveis que impulsionam doenças e o envelhecimento;
• Accelerated Biosciences: usa células-tronco derivadas de trofoblastos para promover regeneração tecidual e modulação imunológica;
• AniBiome: com uma compreensão profunda dos microbiomas para melhorar a saúde tecidual e orgânica;
• Aptah: restaura a produção de RNAs longos, aliviando o estresse proteotóxico e aumentando a saúde celular e tecidual;
• Deciduous Therapeutics: desenvolve terapias que reativam o sistema imunológico para a eliminação seletiva de células senescentes;
• Maxwell Biosciences: regula a disbiose derivada de patógenos para melhorar a aptidão tecidual e retardar o envelhecimento.

Essas abordagens provavelmente terão implicações significativas na saúde e longevidade. O futuro do investimento em longevidade é promissor.

Foco e Networking no ARDD 2024: A Perspectiva de um Estudante

O ARDD 2024 começou com uma atmosfera formal, onde apresentações estruturadas e discussões científicas dominaram o dia. Inicialmente, os participantes se engajaram em interações mais profissionais e focadas dentro do auditório. No entanto, à medida que o evento avançava, ele se transformou em um centro vibrante, impulsionado por eventos sociais, como o bar aberto à noite. Esses ambientes informais incentivaram uma atmosfera mais descontraída, onde os participantes puderam criar laços tanto pessoais quanto profissionais. Os espaços sociais animados facilitaram a criação de conexões significativas para todos.

Um dos grandes pontos fortes do ARDD foi seu foco na pesquisa sobre longevidade e envelhecimento, atraindo um grupo alinhado de participantes com o compromisso compartilhado de avançar na área. O evento reuniu uma diversidade de participantes — cientistas, pesquisadores, acadêmicos, profissionais da indústria, investidores e até políticos — unidos por objetivos comuns. Alguns estavam focados apenas em avançar a pesquisa, enquanto outros eram motivados por benefícios pessoais, como melhorar sua longevidade saudável ou ampliar sua expectativa de vida.

Essa abordagem direcionada permitiu que o ARDD bridasse efetivamente a lacuna entre a pesquisa científica e a compreensão pública, diferenciando-o de conferências de saúde mais amplas. O evento não só atendeu aos comprometidos com o campo da longevidade, mas também fomentou um ambiente onde os participantes podiam se conectar mais profundamente, compartilhar sua expertise e alinhar esforços. Esse ambiente garantiu que cada interação fosse intencional, permitindo que cientistas, investidores ou inovadores encontrassem pontos em comum em sua busca por estender a expectativa de vida saudável. O resultado foi uma comunidade onde conversas envolventes e relevantes puderam florescer, contribuindo para uma visão coesa e orientada para o futuro da pesquisa em longevidade.

A "monk cellar" (adega dos monges) foi uma área menos lotada da conferência, oferecendo uma atmosfera única. Fiel ao seu nome, era uma antiga e sombria adega onde cientistas e outras mentes brilhantes se reuniam, muitas vezes com um copo de uísque na mão, para participar de workshops. Este espaço promoveu um ambiente informal, interativo e inclusivo, onde os participantes podiam explorar ideias que desafiassem o campo. Ele proporcionou um refrescante intervalo das monótonas apresentações formais, permitindo que os participantes aprendessem por meio de trocas criativas e lúdicas.

Palestras e Apresentações Envolventes no ARDD 2024: A Visão do Empreendedor

O ARDD 2024 foi rico em palestras e apresentações envolventes que cativaram os participantes, oferecendo insights sobre o que há de mais avançado na ciência da longevidade. Durante a semana, houve muitas apresentações interessantes, mas as conversas e a interação fora do auditório também chamaram a atenção. Equilibrar isso foi difícil, pois muitas vezes você queria estar em vários lugares ao mesmo tempo. Entre as palestras de destaque, estava a apresentação de Anders Naar, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, que apresentou descobertas sobre o mRNA-128 e sua contribuição para disfunções mitocondriais. Usando um inibidor de mRNA-128, ele conseguiu aumentar o metabolismo mitocondrial e reduzir a inflamação simultaneamente. Esta pesquisa destacou o potencial de melhorar a função muscular e a saúde cardiovascular, demonstrando o avanço científico aprofundado apresentado no evento.

Outras sessões notáveis abordaram tecnologias emergentes, como a rápida evolução e o uso amplo dos relógios biológicos. A apresentação de Raghav Sehgal enfatizou a capacidade dessas ferramentas não apenas de estimar a idade biológica de um indivíduo, mas também a idade biológica de órgãos específicos. Esse tema ecoou ao longo do evento, refletindo o entusiasmo em torno de suas potenciais aplicações tanto na pesquisa quanto na clínica. Brian Kennedy enfatizou ainda que, com grandes conjuntos de dados focados em epigenética, metabolitos ou proteômica, em breve será possível construir relógios biológicos altamente precisos.

Além das apresentações, as sessões interativas do ARDD se destacaram, oferecendo oportunidades para os participantes fazerem perguntas diretamente aos palestrantes após suas apresentações. Isso frequentemente levava a debates significativos que adicionavam profundidade às apresentações. Essas trocas permitiram que os participantes explorassem temas complexos, transformando as sessões em um espaço para troca de conhecimento e discussões desafiadoras. Essas interações garantiram que os participantes saíssem com uma compreensão mais rica dos avanços científicos apresentados no ARDD 2024.

Colaboração Global

A diversidade de origens, com participantes de regiões como América Latina, Europa, Rússia, China, Japão e Estados Unidos, trouxe novas perspectivas e ressaltou o caráter global do evento. Seja em ambientes formais ou em espaços mais descontraídos, como o jardim ao ar livre, os participantes puderam facilmente se conectar, promovendo colaboração intercultural e ideias inovadoras. Essa mistura internacional adicionou riqueza às discussões e criou oportunidades para colaboração entre diferentes culturas. O evento também destacou esforços globais como o “XPrize de $101 milhões para longevidade”, que atraiu mais de 400 equipes de todo o mundo, evidenciando a escala do interesse e do investimento internacional em pesquisa de longevidade. O ARDD 2024 demonstrou como uma comunidade global e conectada pode trabalhar em conjunto para avançar a ciência do envelhecimento, trazendo novas perspectivas e esperança para a extensão da vida saudável.

Futuro da Pesquisa sobre Envelhecimento

O futuro da pesquisa sobre envelhecimento está prestes a se tornar mais inclusivo e interdisciplinar, exigindo colaboração entre diversos setores. Esse campo deve envolver um público mais amplo, abrangendo cientistas, líderes da indústria e o público em geral. O ARDD 2024 destacou a importância dessa abordagem, mostrando a necessidade de esforços interdisciplinares para enfrentar os complexos desafios do envelhecimento. Com uma enorme quantidade de pesquisa necessária para lidar com os desafios multifacetados do envelhecimento, eventos como o ARDD desempenham um papel fundamental ao reunir especialistas para compartilhar seus insights e alinhar seus esforços.

Os palestrantes da conferência enfatizaram a importância de avançar em ferramentas científicas como os relógios biológicos e integrar grandes conjuntos de dados de áreas como epigenética e proteômica, o que poderia impulsionar o campo. Como demonstrado pelo ARDD, fomentar uma comunidade coesa de especialistas através de encontros focados pode ajudar a acelerar o progresso e impulsionar inovações que um dia possam prolongar radicalmente a saúde e a longevidade.

Em termos práticos, para traduzir descobertas científicas para a clínica, precisamos definir e validar desfechos clínicos além da fragilidade, envolvendo agências reguladoras, a indústria farmacêutica e médicos nessa discussão. Também é necessário identificar biomarcadores relacionados ao envelhecimento ou à saúde que possam informar e reduzir a duração dos ensaios clínicos em humanos. Intervenções focadas em reduzir a entropia nos sistemas biológicos, como a resiliência e/ou rejuvenescimento celular, tecidual ou orgânico, provavelmente beneficiarão toda a população humana — desde que sejam seguras e amplamente acessíveis. Estamos ansiosos para ver como a comunidade avançará nesse aspecto, ganhando impulso enquanto enfrenta os desafios científicos e regulatórios e mudando a forma como a medicina é praticada: de uma abordagem interventiva para uma preventiva.

Autores:

• Alvaro Luis Valdivia, Fundador da Join Longevity | Estudante
• Peter H. Mathiesen, Managing Partner na Mana Capital
• Ricardo di Lazzaro Filho, MD PhD, Empreendedor em saúde e biotecnologia