A tirania de pensamento positivo – o seu fundo do poço tem molas?

Quantas vezes você ouviu frases como: Pensamento positivo guria, bola pra frente! Oh, não, sai desta bad trip! Enxuga as lágrimas e vamos fazer acontecer!?

Acontece que é da natureza humana termos todos os tipos de sentimento e só não sente emoção negativa quem está morto ou é psicopata. E quando você não está bem e alguém, mesmo que por amor, recrimina o seu estado emocional isto só vai gerar mais culpa e frustração. É a mesma coisa se eu pedir para você observar ao seu redor todos os objetos brancos e segundos depois pedir pra você não pensar nesta COR. Ou seja, seu cérebro vai continuar observando com mais intensidade todo o branco ao redor.

Mas, o que fazer quando a tristeza nos assola com força?

Comece com a aceitação. Permita-se senti-la. Se for preciso, recolha-se. Não finja estar feliz e não negue para si mesmo o que está sentindo. Você é um SER Humano e tem permissão para experimentar todos os tipos de sentimento: ódio, inveja, insegurança entram nesta lista. Mas todos os dias você pode escolher onde vai colocar o seu foco. Sinta tudo, perdoe-se e use a consciência para mesmo frente à tristeza avassaladora encontrar um propósito ou cultivar outros sentimentos.

Você tem direito de chorar por um amor não correspondido, ficar um tempo apático depois de sua demissão traumática ou ainda passar dias sem produzir nada. Não se culpe por isso.

Mas todo dia você pode encontrar beleza até mesmo nas “badtrips” que embarcou sem perceber.

Se tudo que você conseguiu no dia de hoje foi colocar a coleira no seu cachorro e dar uma volta no quarteirão, ok, isto já é um bom começo. Aprecie o ar puro, volte para casa e sinta prazer por esta pequena vitória. Amanhã é outro dia e talvez você consiga ir até a padaria e sorrir para alguém.

Me recolhi por uns dias. O meu cansaço era tanto que me isolei de todos. No entanto, por amor ao meu filho fui dar uma volta no bairro. E mesmo quando eu me sentia esvaziada, pude ver beleza naquele passeio. Observei três pessoas que desencardiam as grades do meu condomínio e sorri para elas. Dei parabéns pelo excelente trabalho e mostrei ao meu filho a diferença entre as grades sujas e limpas. Pude falar para ele que são estas pessoas (invisíveis para muitos) que fazem a nossa vida acontecer e esta foi a melhor parte do meu dia. Aquele pequeno passo já me deu mais energia para andar na esteira no outro dia.

Conto no meu último livro como já estive no fundo do poço e saí de uma depressão. Muitos inclusive, acham que após isso a vida é só sucesso e alegria. Te digo que não é. Eventualmente entro sozinha no poço e passo uns dias lá no escuro. Encaro minhas sombras e busco as respostas dentro de mim.

Gosto de dizer que o fundo do poço tem molas, pois geralmente saio de uma badtrip mais fortalecida e inspirada. As vezes as molas são outras pessoas, um profissional que te ajuda, um amigo de whatssap e ou até mesmo alguém que você nem conhece. Porém, cada vez que uso as molas, a minhas pernas se fortalecem e já estou arriscando a escalar sozinha este poço, no meu ritmo, na minha velocidade. Talvez chegue a hora em que a força vai estar nas minhas pernas e braços. Será isto resiliência? Não sei.

Só sei que depois que aceitei a minha vulnerabilidade e me permiti SER HUMANO consigo viver uma vida melhor. Pratico a gratidão diária e através desta ação consigo entender que também sou LUZ e que mesmo num dia ruim, bençãos acontecem na minha vida. Agradeço inclusive pelos sentimentos não tão nobres que fazem parte de mim. Por vezes, é a tristeza que me inspira a ser melhor e a exercer mais compaixão.

Afinal, SOU humana e se estou aqui neste mundo junto com você é porque somos todos seres em evolução.

#LinkedinTopvoices Taís Targa - Psicóloga, Coach, Mestre em Educação, Job Hunter, Especialista em Recolocação e Carreira. Reconhecida como uma das 15 brasileiras que mais influenciaram o LinkedIn em 2016 – LinkedIn Top Voices. Vlogueira, palestrante, escritora, viciada em redes sociais e empreendedora. Diretora da empresa TTarga Carreira e Recolocação. Autora do livro "Você de Emprego Novo" - Editora Évora.