Todo mundo. Menos "eu".

Todo mundo. Menos "eu".

Quero já pedir desculpa por - contraditoriamente - usar "eu" e outros termos intrinsecamente ligados a mim, Bruna, nesse artigo. Mas, juro que me esforçarei para usá-los minimamente, com a pretensão apenas de contextualizar a mensagem final.

Tudo começou com uma ida a um evento do qual o nome não vem ao caso, mas é igual a muitos em que já fui e que existem por aí no mercado. E o tudo a que me refiro é bem simples, mas indicador de que algo está errado: fiquei abismada com a quantidade de "eu" que escutei durante as palestras, que deveriam ser sobre determinado assunto, porém, todavia, entretanto, na verdade, foram sobre o palestrante e - tcharam - seu ego!

Não me entendam mal, mas o que vi foi necessidade constante de reafirmação e uma tentativa falha de adquirir influência sobre o outro inflando seu ego, falando o tempo todo - e durante MUITO tempo - de si mesmo.

Eu sou assim. Eu sou assado. Eu fiz isso. Eu conheci fulano. Eu sempre costumo dizer. Eu. Eu. Eu. Ouvi raramente um "nós" ou "você". Dentre seis palestrantes, apenas um usou o "eu" sabiamente, para dividir brevemente sua história e trazer insights valiosos.

Fizeram exatamente o que aconselham tanto outros a não fazer ao tentar criar um vínculo real e forte com um público e o que acusam como pecado capital das marcas e empresas: falaram de si mesmos e (se) venderam o tempo inteiro ao invés de construir um relacionamento baseado na troca verdadeira de informação, conhecimento, opinião e até vivência.

Por isso, a mensagem é: precisamos (eu, você, eles, NÓS) cuidar para não cair na tentação de centralizar o mundo na gente, seja quem formos: um palestrante, um profissional de conteúdo ou mesmo uma marca. A menos que esse seja nosso propósito final e nossa PROPOSTA DESDE O COMEÇO (e deixemos isso bem claro para quem nos escuta), e que façamos isso com o intuito de compartilhar experiência para agregar ao ouvinte alguma sugestão ou ideia que realmente irá o ajudar, é melhor delimitar nossa fala previamente a uma quantidade de vezes em que falaremos "eu" ou ao que interessa de fato contar sobre nós.

Não, não tem problema em fazermos nosso jabá, nosso marketing pessoal. Mas, deve ser no momento adequado e no contexto certo SE houver um momento adequado ou contexto certo. Inserir-se no conteúdo ou no seu discurso simplesmente para ganhar atenção é desnecessário: as pessoas já estão voltadas a você, estão lhe dando atenção, energia e tempo, os bens mais preciosos que poderiam oferecer. Porque você quer mais?

Não sei se isso me incomoda por algum complexo de inferioridade que não sei que tenho (tudo bem se você ficar com essa teoria) ou porque trabalho com marketing de conteúdo e sei o poder de um conteúdo descentralizado do "eu", que seja voltado para o "você", para a solução do "seu problema", ou o que for que seja adequado para a "sua realidade"... Aliás, deixa eu lhe perguntar: isso não incomoda você também?

Marketing de conteúdo é também marketing de relacionamento. E a lógica contrária também se aplica. Não precisamos falar de nós o tempo inteiro para nos vendermos. Precisamos é falar mais para o outro, pensando no outro. Entende a lógica? É inversa.

Mais "você". Mais "nós". Mais todo mundo. Menos "eu". A venda ou reconhecimento é consequência.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Bruna Tesch

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos