A tolice da felicidade

A tolice da felicidade

Ou por que devemos considerar o FIB tão importante quanto o PIB?

Garanto que você quer ser o melhor, conquistar o 1º lugar, ser destaque e estar à frente dos seus concorrentes. Com o Brasil é a mesma coisa, queremos que o País esteja sempre entre os primeiros e nós conseguimos, mas em duas listas nada interessantes. Infelizmente estamos em 1º lugar quando o assunto é ansiedade: segundo a OMS, O Brasil é o país mais ansioso do mundo e o 5º mais deprimido(1). Onde está aquela alegria de viver dos brasileiros que ganhou fama mundial?

Nos dias 2 e 3 de novembro eu participei do IV Congresso Internacional da Felicidade. Ao comentar com algumas pessoas que eu iria nesse evento, a reação delas me chamou a atenção e eu percebi que  todos queremos ser felizes, mas estudar a felicidade ainda é besteira para a maioria dos brasileiros. Com este texto eu quero reforçar que, além de ser estudada pela ciência, a felicidade é entendida como um assunto sério, de necessária discussão e comprovado cientificamente. Para você ter uma ideia da evolução dos estudos acadêmicos sobre a felicidade, no início dos anos 1980, em um período de 5 anos, apenas 200 artigos acadêmicos sobre felicidade foram publicados; em 18 meses entre 2010 e 2011 foram publicados mais de 27.3002 estudos.

Você sabia que o Butão é mais preocupado com o FIB do que com o PIB? O FIB - Felicidade Interna Bruta - é um indicador interessante: estudos realizados em países como o EUA apontam a relação entre o aumento da renda per capita e a queda na felicidade, como mostra o gráfico abaixo. O resultado do estudo indica que dinheiro não traz felicidade e, pode, inclusive, levar em uma direção oposta. 

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Outro dado interessante: pesquisa publicada pela revista Negócios mostrou que, 12 anos atrás, 84% dos altos executivos diziam ser infelizes no trabalho. Na época da pesquisa, realizada antes do lançamento do iPhone, 76% dos entrevistados já acessavam o e-mail fora do horário de trabalho(3). Imagine como estão esses números hoje... 


O que cientistas vêm fazendo para entender o problema e reverter a situação?

Sim, temos boas notícias. Uma delas é que a ciência vem quebrando alguns paradigmas e fazendo descobertas simples, mas incríveis, em relação à felicidade. 

Até poucos anos os cientistas afirmavam que ser feliz era algo relacionado aos nossos genes e o geneticista David Lykken, da Universidade de Minnessota (EUA), declarou “tentar ser feliz pode ser algo tão fútil como tentar ser mais alto”. Recentemente ele se arrependeu e disse “dei uma declaração tola, está claro que podemos mudar amplamente os níveis de felicidade, tanto para cima como para baixo. Se você quiser ser mais feliz do que os seus avós legaram aos seus genes, você precisa aprender a fazer coisas no dia-a-dia”. 

Ou seja, não existe fórmula milagrosa, existe constância. Então, o que devemos fazer com assiduidade? E o que fazer com os 84% de altos executivos que não estão felizes? De que forma isso afeta na produtividade? Vou trazer mais alguns exemplos para a nossa conversa.

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Teste(4) realizado na MetLife (uma das maiores seguradoras do mundo) revelou que os vendedores de seguro de vida que eram otimistas vendiam 37% mais do que os pessimistas; já os mais otimistas vendiam até 88% mais. Além disso, os otimistas apresentavam metade da probabilidade de pedir demissão. Imagina a representatividade financeira! Outro estudo(4) revelou que projetos com gestores encorajadores obtém um desempenho 31% melhor que as equipes cujos gestores são menos positivos. 

E tem mais: um elogio específico feito pela liderança pode ser mais motivador que um reconhecimento em dinheiro. A Linha de Losada sugere que, para cada interação negativa mantida com a equipe, o gestor ou líder deve ter três interações positivas para manter o bom relacionamento e seis interações positivas para aumentar o nível de felicidade, confiança e de desempenho. 

Agora, eu pergunto a você: quantos elogios sinceros e específicos você deu para cada um da sua equipe hoje? Sim, liderança é baseada em relacionamento, em olhar cada membro como único e isso dá trabalho. Para ajudar na sua prática profissional, vou citar algumas dicas descobertas em diferentes pesquisas.


Cinco dicas para aumentar o nível de felicidade da sua equipe(4): 

  1. Passe 20 minutos ao ar livre e encoraje a sua equipe a sair do escritório ao menos uma vez ao dia.
  2. Medite. Se tomamos banho todos os dias para limpar o nosso corpo, por que esquecemos de limpar a nossa mente? A meditação aumenta o córtex pré-frontal esquerdo, que é a principal parte do cérebro responsável pelo sentimento de felicidade. 
  3. Tenha desejos e sonhos. Um estudo revelou que as pessoas que simplesmente pensavam em assistir a seu filme preferido aumentavam seus níveis de endorfina em 27%. Imagine o impacto dessa sensação em relação a outras metas positivas que temos para as nossas vida?
  4. Seja altruísta. Pesquisa conduzida por Sonja Lyubomirsky descobriu que as pessoas que realizavam cinco atos de gentileza no dia se sentiam muito mais felizes que as demais. E não era uma satisfação momentânea, pois esse sentimento durava muitos dias. Então, lembre-se de agradecer e elogiar.
  5. Exercite-se. Um estudo separou três grupos de pacientes deprimidos. Um tomou antidepressivos, o outro se exercitou por 45 minutos três vezes na semana e o terceiro grupo utilizou as duas estratégias. Quatro meses depois, os três grupos apresentaram melhorias similares no nível de felicidade. No entanto, seis meses depois eles verificaram que o grupo que usou medicamento teve uma recaída em 38%, o grupo de estratégias combinadas recaiu em 31% e o grupo que apenas se exercitou teve uma recaída de só 9%!

Lembre-se: não existe mágica nem um grande segredo a ser revelado. A felicidade está nas coisas mais simples. Organize a sua vida e a sua agenda para colocar essas cinco dicas em prática diariamente. Seja o líder de si mesmo. 

E se você acredita que a felicidade é o caminho para o crescimento de todos, mas tem dúvidas e quer entender melhor como trabalhar essas questões com a sua equipe, fale comigo. Nossa metodologia te ensina a desenvolver a cultura de liderança mais humana e você desenvolverá as habilidades exigidas de um líder atualmente. Atuamos pontualmente com as lideranças e com a sua equipe, em um processo de mentoria e treinamentos.


Referências:

(1) Conforme OMS 2019.

(2) Dra. Susan Andrews em A Ciência de Ser Feliz.

(3) Conduzido pela psicóloga Betania Tanure

(4) Informações extraídas do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz, de Shawn Achor.


Texto publicado originalmente em Schell Coaching e disponível aqui.

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