Tríade do sucesso corporativo - Ética, Cultura e Propósito - e a importância das Cadeias de Fornecimento
Em um mundo corporativo marcado por mudanças constantes, velocidade das informações e alta complexidade, a ética, a cultura e o propósito emergem como uma tríade estratégica para o sucesso e a sustentabilidade das empresas.
À medida que a sociedade evolui, também crescem as expectativas em relação às organizações, que agora são vistas não só por sua capacidade de gerar lucro, mas pelo impacto que causam no mundo.
A ética, a cultura organizacional e o propósito empresarial se entrelaçam para moldar práticas de governança corporativa que ressoam positivamente tanto interna quanto externamente.
1. A distinção entre ética e moral:
A distinção entre ética e moral serve como ponto de partida para estabelecer o terreno sobre o qual políticas e práticas empresariais são construídas.
Moral: Conjunto de normas, tabus e convenções estabelecidas por uma sociedade e que servem para orientar a maneira de agir das pessoas em um determinado tempo, espaço e contexto cultural, baseando-se em hábitos e costumes.
Ética: Diferentemente da moral, a ética é um conceito universal e que se fundamenta em princípios e valores, os quais orientam o comportamento humano dentro da sociedade. É mais associada com o "dever ser", sendo uma espécie de racionalização da moral através da reflexão sobre as ações humanas.
A ética e a moral representam os valores em uma sociedade e alicerçam os princípios fundamentais:
No âmbito empresarial, a ética e a moral possuem suma importância na determinação da cultura organizacional. Esta é, portanto, o conjunto de valores, crenças, missão e visão que definem como uma empresa opera e se comporta. Logo, as pessoas determinam o perfil e o caráter de uma organização.
Vale destacar que a cultura se apresenta de 2 formas:
Cabe à liderança estar próxima à cultura implícita, de forma a garantir os propósitos e objetivos estratégicos aos stakeholders. A cultura guia a organização no intuito de alinhar os colaboradores ao propósito da empresa.
Mas afinal, porque a moral e a ética são tão importantes no contexto organizacional? A cultura organizacional influencia diretamente na motivação, na eficiência e na satisfação dos funcionários, além de impactar na percepção externa e na reputação da empresa. A existência de uma cultura pautada em políticas sólidas de ética e conduta profissional nas empresas resulta em um ambiente de trabalho mais positivo, onde os colaboradores desenvolvem a habilidade de se relacionar harmoniosamente entre si – compartilhando um propósito, responsabilidades e metas no dia a dia – e com os diversos stakeholders – desenvolvendo uma relação de confiança e respeito e promovendo um olhar além do lucro, considerando o impacto de suas ações na sociedade e no meio ambiente.
A implementação de sistemas de compliance, liderada pelos níveis estratégicos da empresa, é essencial para reforçar o compromisso com a moral e a ética e envolve a criação de códigos de ética e de conduta, programas de treinamento, canais de denúncia, investigação de comportamentos inadequados, e a incorporação de práticas éticas nas decisões operacionais e estratégicas das empresas, as quais devem contemplar:
Há de se destacar que no contexto atual de mundo BANI e VUCA, a cultura organizacional é e deve ser dinâmica, refletindo a adaptabilidade da empresa para manutenção ou aumento da sua competitividade, relevância e sustentabilidade no mercado.
Os tipos de mudanças organizacionais:
As mudanças organizacionais podem ocorrer de 6 diferentes formas:
Evolução da cultura organizacional
Nos últimos anos, com a evolução do capitalismo de shareholders para stakeholders, as culturas organizacionais passaram a valorizar além do lucro, englobando um olhar para: diversidade e inclusão, flexibilidade no trabalho, sustentabilidade ambiental, e uma ênfase maior na saúde mental e bem-estar dos funcionários.
Neste contexto, os conselhos consultivos e de administração assumem um papel vital no monitoramento de melhores práticas de mercado e tendências para:
2. impulsionar a transformação cultural quando necessária para adaptar-se a novos desafios e garantir a sustentabilidade a longo prazo. A mudança é uma oportunidade para as empresas reafirmarem seu compromisso com valores éticos, promoverem uma cultura positiva (de alta performance) e alinharem-se com um propósito significativo.
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No que tange à transformação cultural, esta requer uma abordagem estratégica que envolva comunicação clara, liderança forte, e o envolvimento de todos os níveis da organização.
Neste contexto, a gestão da mudança desempenha um papel crucial para garantir que as alterações em uma organização sejam implementadas de forma bem-sucedida, sem causar interrupções desnecessárias e garantindo que os benefícios das mudanças sejam totalmente realizados. A gestão da mudança envolve o uso de métodos e técnicas para gerenciar o aspecto humano da mudança e pode ser aplicada a mudanças em processos, sistemas, tecnologia, estrutura organizacional ou cultura empresarial. Ela, nada mais é, do que uma maneira de apoiar as pessoas na sua individualidade para abraçar e engajar na mudança necessária (o “porquê” da mudança deve ser conhecido por todos os stakeholders envolvidos).
Existem várias abordagens e modelos para a gestão da mudança, incluindo o modelo ADKAR que enfoca as pessoas e suas necessidades através de cinco etapas:
A gestão de mudanças, como disciplina, tem evoluído significativamente ao longo dos anos, passando de abordagens mais prescritivas e lineares para modelos mais flexíveis e adaptativos, como o ADKAR, que reconhece a complexidade e a importância da dimensão humana em processos de mudança.
Mais recentemente, o ADKAR tem sido integrado com outras metodologias de gestão de mudanças e desenvolvimento organizacional, como Agile e Lean, para criar abordagens mais holísticas e adaptáveis à mudança, nascendo o que chamamos atualmente de “tríade da mudança”.
A evolução do modelo ADKAR até o conceito de Tríade da Mudança reflete um movimento em direção a uma compreensão mais integrada e sistêmica da mudança organizacional. Enquanto o ADKAR fornece uma estrutura robusta para entender e facilitar a mudança no nível individual, a integração com metodologias Ágeis e Lean expande essa abordagem para abranger a adaptabilidade e eficiência do processo. O modelo da Tríade da Mudança envolve 3 fatores críticos com foco em resultado:
1. Maturidade em relação à mudança: este pilar foca na capacidade de uma organização de entender, iniciar, e gerir mudanças de forma eficaz. A maturidade relacionada à mudança não é apenas sobre a capacidade de executar um projeto de mudança específico, mas sobre a habilidade de fazer da mudança uma competência central, integrada à cultura e às operações da organização. Isso envolve:
2. Agilidade organizacional: a agilidade organizacional refere-se à capacidade de uma organização de responder rapidamente a mudanças no ambiente externo, mantendo a estabilidade interna e aproveitando oportunidades de forma proativa. Este pilar é crucial em um mundo onde a velocidade e a incerteza são a norma. Elementos chave incluem:
3. Qualidade das práticas de gestão da mudança: este pilar enfatiza a importância de práticas de gestão da mudança bem desenvolvidas e implementadas, que são essenciais para a eficácia da mudança. Isso inclui:
A Tríade da Mudança adiciona outra camada de complexidade, enfatizando a necessidade de alinhar estratégia, estrutura e cultura para garantir uma mudança sustentável e eficaz. Essa evolução reflete um reconhecimento de que a mudança bem-sucedida é multifacetada, envolvendo não apenas os indivíduos e seus comportamentos, mas também a forma como as organizações são estruturadas e operam, bem como os valores e normas culturais que as sustentam. Ao integrar essas diversas perspectivas, as organizações podem abordar a mudança de maneira mais holística e eficaz, aumentando as chances de sucesso em seus esforços de transformação. Esse modelo permite que as organizações entendam as suas capacidades de responder a qualquer tipo de mudança e, consequentemente, sejam mais ágeis.
É papel dos conselhos garantir com a Direção da empresa de que a gestão da mudança está sendo conduzida de maneira estratégica, eficaz e alinhada com os objetivos de longo prazo da organização, assegurando assim a sua sustentabilidade e sucesso no futuro. Ao integrar os três pilares da Tríade da Mudança - Maturidade em Relação à Mudança, Agilidade Organizacional e Qualidade das Práticas de Gestão da Mudança – em transformações necessárias, as empresas aumentam as chances de sucesso em esforços dispendidos, mas também ajudam a criar uma cultura onde a mudança é vista como uma oportunidade contínua para inovação e melhoria.
Qual a relação da ética, do papel dos conselhos e a Supply Chain das empresas?
No cenário atual, onde as expectativas em relação à responsabilidade social e ambiental das empresas nunca foram tão altas, a ética nas cadeias de fornecimento emerge como um pilar fundamental para a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo das organizações. Uma cadeia de fornecimento ética não apenas minimiza riscos legais e reputacionais, mas também contribui para a construção de relações de confiança com consumidores, investidores e a comunidade em geral.
A ética, neste contexto, refere-se à aplicação de práticas justas e responsáveis na condução de concorrências com o mercado, na utilização de IA consciente nos processos, bem como na seleção e gestão de fornecedores, incluindo aspectos como direitos humanos, trabalho justo, proteção ambiental e combate à corrupção. Empresas que priorizam a ética em suas cadeias de fornecimento reconhecem a importância de valores como:
O monitoramento das empresas em diretrizes e políticas que asseguram a integridade ética das cadeias de fornecimento é crucial e devem envolver:
A integração da ética nas cadeias de fornecimento e de metodologias de gestão da mudança não apenas fortalecem a resiliência e a competitividade da empresa, mas também contribui para o desenvolvimento sustentável e a justiça social em seu ecossistema. Neste contexto, os conselhos assumem um papel vital não apenas na governança corporativa das empresas, mas também como agentes de mudanças positivas na sociedade.
A Ethisphere é uma das organizações que medem a ética das empresas. No filtro de empresas de origem brasileira, apenas a Natura & Co. compõe essa lista (Fonte no Link), o que nos faz refletir sobre desafios e oportunidades para o Brasil, para as empresas e seus conselhos. Que tal melhorar este cenário?
REFERÊNCIAS:
Technology & Innovation Specialist | Founder & CEO at Loja Interativa | Co-Founder and CIO at TwinTech | Startup Advisor
6 mNatália, excelente reflexão sobre a integridade nas empresas. Como Thomas Macaulay disse: 'O verdadeiro teste do caráter de um homem é o que ele faz quando sabe que ninguém vai descobrir.' A ética e a transparência são pilares fundamentais para a construção de um ambiente corporativo sólido e confiável. Parabéns pelo conteúdo.
ESG | Corporate Governance | Organizational Culture and Leadership | Corporate Affairs | D&I | Women Leaders in Governance Network - IBGC MG
7 mNatália Petrucci obrigada pela sua participação na minha aula! Excelente artigo!
Diretor de Mercado e Governança | Conselheiro | SEEL Engenharia
7 mExcelente, Natália!!!! Parabéns! Boa menção ao modelo ADKAR!