Transformação digital em SMB não é rápida, não é fácil, não é barata e não é paliativa

Quando eu ouvia alguém me dizer que meu produto ou serviço estava caro, em meu início de carreira em TI, isso me causava constrangimento. Hoje, depois de 20 anos de aprendizado, minha maneira de valorizar as coisas evoluiu e eu tenho uma frase pronta: "É o preço do sucesso!". Eu entendo que 'preço' e 'sucesso' têm pesos e significados diferentes para diferentes pessoas, mas tem uma palavra que alinha toda a conversa: VALOR.

Desde fevereiro deste ano (2020) o Brasil passa pela pandemia de COVID-19 e todas as formas de tratar esses cenários são novos para todo cidadão. Nesse período de isolamento social, quando converso sobre Transformação Digital com empresários de pequenos e médios negócios, ouço várias pessoas ansiosas por promoverem mudanças radicais com baixíssimos orçamentos e prazos extremamente curtos. Elas foram 'contaminadas' pelos títulos das notícias de empresas que "realizaram transformação digital em alguns meses", mas infelizmente estes mesmos empresários que conversaram comigo não leram as matérias inteiras. Outra palavra para nos concentrarmos: CONTEXTO.

Em minha casa, minha família teve o primeiro computador em 1992 (um PC montado 486-DX2, não me lembro dos detalhes). O que mais me impressionou no o computador foram os programas que vieram com ele: planilha eletrônica, editor de texto, programa para tratamento de áudio, programa para tratamento de fotos, “um CD de uma enciclopédia!”, e várias outras coisas... O que eu não tinha noção na época é que aquilo já era pirataria. Programas que eram entregues como parte de um conjunto de computadores e se perdiam de uma montagem para outra, eram entregues para pessoas que não pagaram por eles. Hoje quando um empresário compra um PC para sua empresa, não há o devido discernimento de que o Windows 10 ou o Office 2019, por exemplo, instalados em sua máquina têm seus respectivos preços. E quando um profissional ou empresa não preparados ou desqualificados promovem [hoje] para o empresário o que se fazia na década de 1990, é quando eu explico que Transformação Digital para essa empresa não será feita em meses.

Uma reflexão: Por que você estaria preocupado(a) com a LGPD na sua empresa hoje [Lei 13.709, aprovada em 2018] se nós já temos o Marco Civil da Internet [Lei 12.965, desde 2014] e a Lei do Software [Lei 9.609, desde 1998]? Minha opinião: "Porque na LGPD existe uma agência governamental para atuar diretamente frente às empresas, enquanto nas leis anteriores isso não estava formalizado". Sempre existiram os motivos para os empresários terem: RESPONSABILIDADE.

Eu sou extremamente apaixonado em atuar com tecnologia a serviço das pessoas. Ouvi ou li alguns executivos de empresas globais de tecnologia que "tecnologia não é fim, é meio" ou "tecnologia é ferramenta". É essa minha frente de atuação hoje ao promover produtividade e assertividade nas empresas. Eu aprecio muito a visão da Microsoft, quando promovem a Transformação Digital baseada em quatro pilares: Envolver clientes; Capacitar funcionários; Otimizar operações; e Transformar produtos e serviços.

Contextualizando a Transformação Digital, então... 1. Se o objetivo de uma empresa é prestar serviços [mesmo que serviço público ou serviço social] e/ou vender produtos, tecnologia tem de estar à disposição de atender seus clientes, seu público. Então a mudança tem que fazer a empresa evoluir envolvendo clientes. 2. Para atender bem clientes, fornecedores e parceiros as ferramentas tecnológicas devem ser domínio dos colaboradores. Logo, é claro para mim que a transformação esteja fundamentada em capacitar as pessoas da empresa. 3. Uma vez que a empresa cresce e se desenvolve, processos surgem e/ou aumentam, mais pessoas (internas ou externas) se envolvem com os processos da organização. É evidente que o objetivo da tecnologia seja promover facilidade e velocidade para que as operações melhorem. 4. Pessoas mais envolvidas, processos melhores e clientes mais engajados são elementos excelentes de um ambiente mais oportuno, onde oportunidades de negócios se tornam mais evidentes. É quando a tecnologia faz sua contribuição em fazer com que produtos e serviços sejam aperfeiçoados e até criados.

A. Se uma empresa sofre com um episódio de vírus corrompendo dados, tanto o operacional que não atualizou o programa antivírus quanto o diretor que autorizou a usar uma versão gratuita têm sua RESPONSABILIDADE, mas em relação à empresa o impacto não muda. B. Ao adotar uma solução de produtividade, uma escola que não usava ferramentas para promover aulas à distância pode estar sofrendo ainda com o impacto da pandemia de COVID-19. Porém CONTEXTOS mudam, e se a oferta da opção online tornar-se diferencial para o mercado? Gestores e professores deverão estar adaptados. C. Ao atender mil clientes de baixo ticket médio a exigência tecnológica é pequena, e um diretor pode insistir em não investir em tecnologia mesmo com a argumentação de sua equipe sobre o assunto. Mas uma oportunidade de atender um grande negócio pode se perder porque a exigência tecnológica mudou, mesmo que a capacidade técnica de sua equipe atendam as expectativas da nova oportunidade. Nesse caso não houve construção de VALOR.

A Transformação Digital vai levar o tempo necessário para que pessoas e processos se adequem. A Transformação Digital vai causar um impacto proporcional à maturidade em TI (ou à falta dela) na organização. A Transformação Digital vai exigir financeiramente da organização todos os valores correspondentes a tecnologias, pessoas, processos, certificações, equipamentos ou normas a que estiver relacionada. Transformação Digital só acontecerá se for algo que a empresa leve para si, que fará parte de "seu DNA". Por fim, em minha opinião, a dificuldade de encarar a mudança é que profissionais, gestores e empresários tentam buscar pesos diferentes para as palavras RESPONSABILIDADE, CONTEXTO e VALOR, quando todas elas fazem parte da equação da TRANSFORMAÇÃO DIGITAL de suas organizações. Para mim, respeitar a equação da instituição "é o preço do sucesso”.

Sucesso para TODOS nós!

Leandro de Abreu Mascarenhas.