Transição de carreira para o Terceiro Setor, uma possibilidade real

Transição de carreira para o Terceiro Setor, uma possibilidade real

Em 2021 eu completo 10 anos oficialmente no Terceiro Setor. Digo oficial, pois minha atuação como voluntária já é bem mais antiga.

Desde meu primeiro emprego aos 15 anos até migrar para essa área, minha renda principal sempre esteve relacionada à área comercial. Trabalhei em vendas de materiais para construção civil, autopeças, roupas e serviços (de forma interna, externa, autônoma, técnica etc.). Atuei ainda em banco e licitações. Todas as oportunidades que tive, tenho certeza, foram me dando subsídios para eu chegar aonde estou. Os conhecimentos, as pessoas, as atividades, as trocas...tudo foi aprendizado.

Quando cheguei à faculdade, não foi fácil conciliar a rotina com o trabalho, somado ao fato de ter um filho. Quando temos um filho no meio do caminho de qualquer desafio, para nós mulheres, complica um pouquinho mais. Não pude em um primeiro momento me dedicar às atividades acadêmicas, pois precisava continuar trabalhando, pagando minhas contas e cuidando de um filho. Fui percebendo que desvencilhar de uma área profissional não era também tão simples.

Me formei em Ciências Sociais, na querida UFMG. Tudo o que eu queria desde que comecei a cursar a graduação era atuar de alguma forma na área social. Eu ainda não sabia como, mas pensava em apoiar pesquisas e lecionando também. Um tempo depois tive a oportunidade de fazer especialização em Políticas Públicas, na mesma faculdade. Um dos professores da graduação me indicou e deu tudo certo. Mais conhecimento e mais vontade de entrar para a área social.

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Passaram-se alguns anos e resolvi fazer um MBA em Gestão de Negócios em uma faculdade privada de BH. Tratava-se de uma instituição renomada e eu vislumbrava ali um crescimento na minha carreira. Pensava que quanto mais conhecimento, mais currículo, mais relacionamento iriam proporcionar meu crescimento e assim eu poderia encontrar oportunidades mais interessantes e consequentemente um salário melhor. Dentro de mim, no entanto, não estava nada bem. Eu não era feliz, eu não tinha encontrado verdadeiramente, o que hoje muito se fala: meu propósito.

Ótimos professores encontrei ali. Pessoas que até hoje sigo nas redes sociais. Profissionais que nos sacodem e fazem a gente enxergar além. Me fizeram perceber o que hoje pode parecer óbvio: se eu não trabalho com o que gosto, as chances de me sentir realizada profissionalmente são mínimas. Eu estava em um ótimo momento: em uma boa empresa, com um bom cargo, e respeitada! O que faltava, afinal? Demorei um pouco para perceber que apesar de tudo isso, ali não era o meu lugar.

Por mais que eu estivesse em uma faculdade voltada para o mundo corporativo, quando fui escrever meu TCC eu pedi ao meu orientador para abrir uma organização social – esse seria o meu negócio. Lembro que ele achou bem incomum, inclusive. Para realizar a pesquisa desse meu trabalho final, eu já comecei a ficar mais motivada. Comecei a refletir também o quanto eu gostava de estar presente nos projetos sociais, mesmo como voluntária. O quanto eu apreciava mais do que trabalhar, me sentir útil de alguma forma para o coletivo. Cooperar com mudanças, com transformações que afetam diretamente outras pessoas. Contribuir com a diminuição das desigualdades sociais de alguma forma.

Comecei a estudar mais o Terceiro Setor. Participava de tudo que era relacionado, principalmente os eventos que eram gratuitos. Tive a oportunidade de conhecer um projeto de perto no Rio de Janeiro e fui até lá numa espécie de “visita técnica” que também muito me agregou. Modifiquei meu currículo e deixei nele todas as atividades que eu já havia realizado na vida que me aproximavam mais da área social (muito voluntariado e aulas de sociologia por exemplo, me ajudaram a compor um novo perfil).

O Terceiro Setor vinha em uma crescente, empregando, se tornando mais profissional. A maioria das vagas, porém, estavam em São Paulo. Até que apareceu uma proposta para o IOS. Era para analista e eu precisaria me responsabilizar pela implantação da unidade na capital mineira. Eu vi ali uma oportunidade incrível! Muito desafiador e ao mesmo tempo muito instigante.

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Fui chamada de inconsequente em alguns momentos por amigos mais próximos e familiares. Eu estava retrocedendo na minha carreira, dando um passo para trás, eles diziam. Mas cada vez que eu passava em uma etapa do processo seletivo, mais entusiasmada eu ficava. Foi uma experiência tão boa que antes do IOS me dizer sim ou não, eu já havia me decidido por atuar nessa área. Eu finalmente descobrira o que me fazia feliz e quando chegamos nesse lugar, nada, ninguém mais nos segura.

O IOS é um projeto voltado para a formação profissional de jovens e pessoas com deficiência. Aqui, tenho participado de muitas histórias. Uma caminhada cheia de obstáculos sim, mas também cheia de surpresas boas e realizações. Continuei buscando mais conhecimento seja de forma acadêmica (MBA em Administração do Terceiro Setor e Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local), seja com as experiências do dia a dia (principalmente com as juventudes que são hoje nosso maior público atendido) seja com outros profissionais incríveis que passaram ou estão comigo até hoje, eu procurei não perder nenhuma oportunidade de troca e aprendizado. Hoje estou como Coordenadora de Responsabilidade Social, responsável não só pela unidade em BH, mas também pelas outras filiais da instituição.

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Algumas pessoas em transição de carreira (principalmente para o Terceiro Setor) me procuram no LinkedIn para conhecer um pouco da minha história. Eu sempre separo um tempo para essas conversas. Eu sei que infelizmente muitas pessoas não conseguem trabalhar com o que amam por diversos motivos. Mas acredito que quando é possível, é isso que devemos fazer! Falo com muita paixão da minha transição, do meu encontro profissional e dos meus planos para o futuro...sabe por quê? Porque quando a gente é feliz, a gente quer que o mundo seja também! Por isso escrevo também. Que esse artigo possa encontrar as pessoas que estão em dúvida, as pessoas que ainda não sabem por onde começar...Se eu conseguir contribuir um pouquinho para esse “estalo” na vida de uma só pessoa, eu já ficarei satisfeita!

Eu não sei quais outros momentos ainda vou encontrar na minha vida profissional. Sei que tudo é dinâmico e fluido, e tudo continua contribuindo para minha trajetória. O mais importante é ter em mente que tudo vale a pena quando trabalhamos com aquilo que genuinamente nos inspira!


Flavio Marques

Software Engineer, 2x AWS Certified Cloud® , systems integration, Cloud computing

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História de vida fascinante e inspiradora.

Ana Carolina Prado

Woman that build Awards Globant 2024 (Tech Leader) | Gerente de Produto | Gerente de Serviços de Tecnologia | Especialista de Gestão do Conhecimento e Universidade Corporativa | Digital Education Advocate

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Eu, no futuro, com certeza!!!

Caroline Nery Salomão Momm

Analista de Recrutamento e Seleção

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Uma mulher e uma história que são incríveis. 💜

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