Transtorno da Personalidade Borderline II

VIOLÊNCIA, ABUSO E NEGLIGÊNCIA:

A EPIGENÉTICA DO TRAUMA

Infelizmente, mais do que imaginaríamos, as fantasias de abuso sexual não são a regra. A violência física é mais objetiva, pode deixar marcas, além das sequelas emocionais. O abuso sexual é frequente em crianças, pode variar desde uma sedução maliciosa e invasiva até um estupro. Não é uma fantasia infantil. Os valores de ética e moral que utilizamos para julgar nossas atitudes e condutas não são homogêneos. Temos que conviver com a ideia de que nem toda criança é desejada, que nem todos os pais sentem aquilo que chamamos de amor aos nossos filhos (e que podemos ver, inclusive, em animais que cuidam da sua prole com um zelo que reflete bilhões de anos de evolução). O ser humano transcende também nos seus valores, que podem ser distorcidos em algumas famílias ou pessoas. Não uso a palavra “normal”, pois a normalidade é estética. Mas os cuidados aos descendentes seguem certo padrão universal de proteção, zelo, afetividade, estímulos e preservação da cultura do grupo de origem.

O abuso pode partir de qualquer pessoa: dos pais, de familiares mais distantes, de agregados, da comunidade ou do ambiente escolar. Em algumas situações, não há negligência ou culpa dos pais, os quais podem sofrer juntamente com a criança numa situação de violência ou abuso perpetrada por um agregado ou alguém do ambiente de convívio social. Nestes casos, também, dependendo da forma como o trauma e o sofrimento são conduzidos, as ações parentais de apoio e busca por tratamentos podem funcionar como fatores protetores e evitarem prejuízos futuros, como um transtorno mental.

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