Transtorno de acumulação: a conexão psicológica excessiva com os objetos

Transtorno de acumulação: a conexão psicológica excessiva com os objetos

Quem não conhece ou já teve contato com uma pessoa que está sempre acumulando objetos? Infelizmente, isso é um hábito muito comum. Essas pessoas são chamadas de acumuladores e sofrem com o chamado Transtorno de Acumulação. Ele surge devido a grande dificuldade em descartar ou se desfazer de posses, o que faz com que esse indivíduo acumule os objetos, desorganizando áreas de convívio e impossibilitando o seu uso. No entanto, não confunda acumulador com colecionador, pois a grande diferença entre os dois está no sofrimento envolvido na vida do acumulador, que possui um grande acervo de itens de pouco valor e os armazena de forma desorganizada.


Normalmente, esse comportamento se inicia na infância e adolescência, mas a progressão do acúmulo acontece ao longo da vida. Já o consequente aumento do volume de itens guardados só é realmente percebido na vida adulta. Estudos mostram que o Transtorno de Acumulação tende a afetar mais mulheres do que homens, e o início dos sintomas na terceira idade está relacionado a transtornos mentais orgânicos e demências. O Transtorno de Acumulação é uma doença de curso crônico e progressivo, comumente associada a comorbidades psiquiátricas. 

Psicanaliticamente falando, existe um sofrimento real no ato de acumular. Surge uma forte necessidade de guardar objetos e, assim, nasce a angústia no momento em que é preciso se desfazer ou apenas pensar em se desfazer deles. Com isso, as áreas de convívio ficam cheias e desorganizadas, causando total bagunça, com riscos de incêndios e possibilidade de infestação por pragas. O mais desesperador é que o acumulador não consegue perceber o quanto essa abundância é excessiva.


Muitos acumuladores são também compradores compulsivos. Adquirem objetos constantemente, independente de precisarem deles ou não. Isso, porque a compra em si proporciona satisfação instantânea e uma sensação de segurança ligada à ideia de posse. Os acumuladores juntam a nova aquisição à coleção de objetos conglomerados dando a ela, desde o início, uma conotação emocional. Dessa forma, não conseguem mais se livrar dessa peça. Assim, é gerado um círculo vicioso, onde o acumulador compra, sente satisfação, liga-se ao objeto e não pode deixá-lo. Mas, ele continua a experimentar um vazio emocional, resultando e substituindo a falta a  de interação com pessoas pela interação com objetos. Para suprir esse vazio, acaba comprando novamente. Essa é a dinâmica envolvida na acumulação.


Analisando friamente esse ciclo, podemos concluir que a sociedade tem grande responsabilidade na aplicação desse comportamento, pois o indivíduo de hoje vive em uma vitrine, onde é julgado e questionado a todo o tempo. Além disso, a internet despeja uma enxurrada de informações, induzindo as pessoas ao consumismo. O Transtorno de Acumulação é uma doença estimulada pelos hábitos de consumo excessivos do mundo contemporâneo. 


Quem padece desse mal, geralmente sofre de  uma ansiedade exagerada, possui tendências depressivas ou problemas para se socializar. Também sentem muita dificuldade de se desfazerem de  bens materiais, são enraizadas a seus lares e não conseguem se adaptar a mudanças. Além disso, criam vínculos emocionais com os objetos, semelhantes ao que as pessoas experimentam com outros seres humanos.Essa é a principal razão pela qual não conseguem simplesmente jogá-los fora. Portanto, justifica-se o fato da angústia ser evidenciada pelo desprendimento material, causando dor e, até mesmo, remorso.


Mas, quais são as reais causas do Transtorno de Acumulação? A verdade é que não existe uma causa específica que justifique o seu surgimento. No entanto, alguns comportamentos podem ser resultantes de problemas mentais, como: ansiedades, trauma, depressão, Transtorno de Déficit de Atenção ou Hiperatividade (TDAH), abuso de álcool, vivência em ambientes desorganizados, esquizofrenia, demência, compulsão excessiva, alterações de personalidade, entre outros. 


A melhor maneira de ajudar quem sofre com a acumulação é ter a consciência da doença e auxiliar a pessoa, de preferência através da ajuda de um profissional de saúde mental. Assim, ela vai começar a enxergar, com muito cuidado e responsabilidade, a devastação causada pela conexão emocional ou psicológica que  tem com os objetos. É muito importante se aproximar desse indivíduo e acolhê-lo, identificando e mostrando que ele tem um problema. Muitos acumuladores não conseguem perceber que estão passando por um transtorno. Eles não percebem seu comportamento como problemático,e, muitas vezes, nem veem o impacto que isso representa em sua vida pessoal e social. O acolhimento, a compaixão e a empatia são armas poderosas nessa luta.


Enfim, a busca de ajuda profissional é primordial para a cura desse transtorno. Uma vez diagnosticado e definido o problema, recomenda-se a busca de um tratamento específico para garantir um prognóstico positivo. Como os sinais são muito evidentes, seja pelo fato da pessoa se tornar antissocial ou mesmo pelo exagero na quantidade de objetos, trabalhar essas questões com o acumulador de forma cautelosa, sem agressões ou afrontas, pode facilitar no aceite de uma ajuda especializada. 


Lembrando que, quem sofre com esse transtorno dificilmente tomará a decisão de buscar ajuda sozinha. Inclusive, em casos mais graves, até a inclusão no contexto de um assistente social é muito importante, além do psiquiatra e do psicoterapeuta para que o acumulador sinta maior confiança na abordagem e aceite iniciar o tratamento o quanto antes. Todo o acompanhamento médico deve girar na busca do bem-estar, do equilíbrio físico e mental, além da eliminação dos excessos e identificação das faltas e falhas emocionais. 


Dra. Andréa Ladislau.


Psicanalista.

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