NÃO SEI COMO ME PERDI
Abriram-se as cortinas, então a vida apareceu entre olhos emocionados, estes estavam em toda volta fixados como em um palco em algum teatro.
Agora é pra valer…
Terra de gigantes, homens que disputam servos para seus aparelhamentos.
Eu me sentia cativo de pensamentos sombrios, atormentado desde o ventre onde ouvia coisas como um fim que estava próximo, um apocalipse das vidas, um pedido para desistir esperando pelo porvir.
Não tive escolha, eram muitas vozes, homens sábios dizendo palavras que não compreendia, mas temia, justamente por não entender.
Propagandas, mais evidências, mais papeleta, números, traços e Deus.
Hoje estou velho, uma culpa assola meus pensamentos enquanto a morte sei que está me espreitando pelo caminho. Uma pergunta na alma atormenta meus últimos dias: será que acreditei no texto certo para que não seja atormentado por toda minha eternidade?
Deram-me algum dinheiro para meus remédios, também posso comprar comida, no entanto, já não tenho mais vontade de comer.
Sinto Deus distante embora tenho procurado insistentemente para que possa me perdoar. Não sei bem naquilo que errei, no entanto, não poderia terminar a vida dessa maneira se tivesse acertado, deveria estar feliz.
Estou com medo.
Olho a Lua e por um pouco me distraio, vejam como é linda…
Se tivesse mais coragem, uma certeza acima de qualquer questionamento diria para meus filhos: não ouçam eles, sigam com suas vidas despreocupados para onde devem ir, apenas vão. Completaria dizendo: deixe o fim das coisas para o fim das coisas.
No entanto, tenho medo. E se por um escorregão meu, acabar por condená-los a sei la o que.
Deixei de viver para servir e com o pouco que recebi, juntei tesouros em um dos lugares que escolhi por entender que poderia ser certo, agora, espero que armazenaram.
As cortinas estão se fechando e não vejo Deus.
Será…
Não! Mil vezes não. Eu nunca fui contra nada, como poderia ter errado? Chefe, sistema, religião, sal grosso, diabo, bruxas e calabouços, tudo isso quieto como pediram sempre: tenha resiliência.
Se alguém errou foram eles!
Eu apenas sou culpado por passar pela vida sem viver.
Assumo meus pecados, mas que ninguém me culpe, afinal enterrei meus mortos.
No entanto, assumo que ainda respirando, acabei por me enterrar também.
Um brinde a mediocridade.
Amém.
Anderson Caum