Tudo o que você cria alguém copia. E essa não é uma notícia ruim
O preço do pioneirismo está em certa cota de “imitões”. A parte importante disso tudo é simplesmente perder o medo de ser copiado para virar agente da transformação
Quem nunca ouviu o velho ditado “Nada se cria, tudo se copia”? Na contramão dessa frase, proponho uma reflexão sobre o poder de ser o criador do que será copiado. Afinal, virar referência pode ser algo muito potente e inovador para o seu negócio.
Quer um exemplo? Há pouco mais de uma década, a indústria automotiva chinesa patinava com suas marcas de carros para imitar o que fabricantes de veículos tradicionais ofereciam. Lembra do Lifan 320? O carrinho era uma cópia descarada e, digamos, bem mais pobre, do Mini Cooper.
Nos últimos anos, no entanto, as montadoras do gigante asiático parecem ter chegado ao consenso de que só vão ganhar o jogo se fizerem melhor do que as concorrentes. Com apoio governamental, essas empresas deram uma guinada pela eletrificação e agora começam a ganhar mercado ao oferecer uma experiência nova aos consumidores. No Brasil, vemos o burburinho gerado por BYD e GWM.
Cópia ou validação?
Quantas vezes você imaginou ter tido uma ideia incrível e, quando foi pesquisar, ela já existia? Chamo isso de validação. Diferente de cópia, que é quando replicamos descaradamente algo já existente, sem agregar valor ao cliente ou evoluir com a proposta.
A validação surge para empoderar um conceito já pré-estabelecido por nós e fazer com que ele evolua na direção certa. É diferente de uma réplica. Além da validação e da cópia, existe também a boa e velha inspiração. Isso ocorre quando encontramos algo interessante e adaptamos aos nossos interesses e necessidades de mercado.
A pergunta-chave é: quando você olha para o seu negócio, qual desses conceitos prevalece?
Se você respondeu que tem a cópia como conceito central na sua empresa, tenha certeza de que terá muitos problemas no curto prazo. Copiar um negócio, um produto e até mesmo um discurso, raramente vai evidenciar os valores, cultura e posicionamento da sua empresa.
Antes de procurar fora, olhe para dentro
A cópia, aliás, é prevalente em empresas que sequer passaram da etapa de entender e lapidar a própria essência. Seria mais interessante investir tempo em fazer essa lição de casa primeiro, desenhar o motivo de existir, o propósito da organização. A partir disso, os próximos passos estratégicos, como o desenvolvimento de produtos e serviços, serão mais simples.
E, não se engane: a cópia não acontece em pequenas ou novas empresas. Tem gigantes tradicionais que investem nesse caminho. Tenho visto isso acontecer muito em organizações que, por exemplo, falam sobre diversidade apenas em algumas datas, na toada de ir na linha do que a concorrência faz, sem sustentar o discurso genuinamente.
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Por quê? Porque não está no DNA dessas organizações. As consequências trazer prejuízos incalculáveis. Levantar o diálogo sobre empoderamento feminino na semana da mulher e não ter qualquer boa prática para a inclusão de talentos femininos é mentir para seus colaboradores, parceiros e clientes. Na prática, é transformar o que poderia ser um diferencial competitivo em um pesadelo ameaçador. Os clientes se afastam, o time se desmotiva e os parceiros desaparecem.
O perigo mora ao seu lado, nas empresas em que você está mirando e copiando. Cuidado ao correr atrás do que o seu concorrente faz sem antes se perguntar se isso faz sentido para o seu negócio, se isso está alinhado à sua estratégia, aos seus valores, à sua cultura.
Validação X MVP
A validação também traz alertas às empresas. Muitas vezes as nossas grandes ideias já existem e foram executadas por outras companhias e entrar nesse negócio pode representar uma ameaça ao que você já tem. É nessa hora que vale uma pesquisa aprofundada para evitar riscos desnecessários. Lembrando que há também a chance de você ter encontrado algo valioso. E é nessa hora que o tempo pode ser seu inimigo e, para fazer primeiro, será preciso correr.
Por isso, muitas empresas têm se apropriado do modelo MVP (Minimum Viable Product – ou Mínimo Produto Viável). Em empreendedorismo, principalmente no contexto de startups, trata-se da versão mais simples de um produto que pode ser lançada com uma quantidade mínima de esforço e desenvolvimento. Ela permite que você faça ajustes ao longo da jornada, reduzindo riscos e permitindo entender o potencial da solução no mercado sem um enorme investimento logo de cara.
Inspiração como a alma do negócio
Se a sua resposta foi inspiração como prática prevalente em seu negócio, parabéns! Devemos buscar referências e repertório o tempo todo. O segredo do sucesso, é saber adaptá-las à realidade da sua empresa. É como o encaixe das peças no jogo Tetris, em que você precisa encontrar a melhor solução para que seja perfeito e seguir no jogo.
Para dar certo, é essencial que você entenda profundamente seu propósito, a promessa da sua marca, posicionamento, forças, fraquezas, valores e cultura. Essa é a alma da sua empresa. É ela que deve influenciar suas decisões. Se ela não existe, você não consegue usar sua inspiração para tomar decisões estratégicas. Assim, há grande chance de fracassar ao correr atrás do que os outros fazem, sem entender como evoluir com esses referências externas dentro da sua empresa.
A grande lição é: fuja das cópias, analise com cuidado suas ideias e mergulhe em inspirações. Uma carta de amor só tem potência, quando há verdade. Discursos copiados perdem o efeito e podem ser uma grande armadilha.
Tudo o que você cria, alguém copia. Entenda como um elogio
Por fim, algo incrível que pode acontecer com você: ser copiado, ser inspiração e agente de transformação. A maioria das empresas ainda tem medo de compartilhar seus aprendizados e jornada. Ao contrário do que muitos pensam, não há o que temer. Se seu negócio chegou nesse lugar é porque você está preparado para seguir inovando e crescendo.
Ser copiado é sinônimo de sucesso. É a cereja do bolo, o mais alto elogio. Perca o medo de ser copiado e seja agente da transformação positiva nos negócios e na sociedade.
Trainer, advisor and mentor for your leadership in technology
1 aOs limites são tão tênues, que facilita os discursos vazios. Certamente a cultura corporativa, que você chamou de DNA, é a pedra angular de tudo isto. O pensamento estratégico é devorado no café da manhã como dizia Peter Drucker - gosto muito desta frase. Uma vez devorado, sobra apenas a rotina, o tático e estes, de curto prazo, são vulneráveis à cópia, imitação, diversos "washings" (social, Green etc).
Editor da coluna semanal sobre automóveis que leva o seu nome
1 aÓtimo artigo, Paulinha!
RUMO CERTO BRASIL
1 aParabéns pela reflexão! Sempre muito pontual e com propriedade Paula Braga. Uma ótima semana!
Editora-chefe na Automotive Business
1 aAutenticidade é sempre a alma do negócio. Adorei!
CEO | Chief Executive Officer | Co-Founder | Advisor
1 aParabéns, conteúdo incrível!!