Tudo o que você disser será usado contra você

Dia 1º, presenciamos à posse pacífica de um presidente num país partido. A aliteração aqui é coincidência, mas não é aleatório seu significado.

O que isso tem a ver com o Linkedin ou com carreira profissional? Antes de dar a resposta, é demasiado importante notar, por favor, a segunda parte desta frase: “num país partido”.

A resposta será: TUDO.

O que pretendo dizer é que, neste país partido em que estamos vivendo, é extremamente perigoso você se manifestar politicamente, por todas as vias: desde redes sociais até o velho e bom comentário que entrega toda a sua opção ideológica no meio do escritório, a poucas pessoas.

Há pelo menos 50% de chance de você irritar alguém que, se virou a cara para o pai, para o irmão e para o tio neste Natal, por questões políticas, por que não pode passar a minar a sua trajetória ao lado dela na empresa em que vocês juntos trabalham?

Lembre-se: muito fala quem quieto fica, diz o famoso apotegma. Por mais que seja visceral e convidativo, expressar suas opiniões políticas de maneira igualmente pública não tende, nesse período taciturno em que estamos vivendo, a ser a melhor das alternativas.

É sempre importante, quando pensamos em direitos e deveres, que todos admitamos que o seu direito é igual ao do outro. A mesma regra se aplica aos tão esquecidos deveres. Afinal, se eu pensar que, simplesmente porque eu sou eu, que eu tenho mais direitos do que você, “está tudo perdido”, como diria Voltaire.

Ora, se o direito é o mesmo, a aversão que você tem por quem passou dá o direito a outro alguém de ter tal sentimento por aquele que está. O contrário também é verdadeiro. A mesma adoração que você nutria por quem se foi permite que alguém que está seja adorado por quem quer que o queira.

Em termos miúdos, se você ama ou odeia Dilma ou Bolsonaro, seus parceiros, asseclas e “quetais”, melhor passar agachado nesses dias.

Isso, claro, não significa que você não possa, não deva e/ou não tenha sua própria opinião. Isso é do jogo, é o esperado e qualquer que seja a sua opinião, deve ser celebrada (por simplesmente existir) e respeitada. Mas eu não recomendo compartilhar, em especial, no ambiente profissional ou em redes que podem levar a opinião aos ambientes profissionais.

O país está altamente polarizado hoje e qualquer comentário inocente parece abrir a caixa de Pandora, que, na mitologia grega, continha todos os males do mundo. Ademais, cicatrizes foram abertas em ambos os lados, e o cenário que se avizinha remete muito mais à faixa de Gaza do que ao civilizado Speakers Corners do Hyde Park, em Londres.

Para quem não sabe, no Speakers Corner discursaram (na vida real), de Karl Marx a George Orwell. Um teorizou sobre os benefícios de um Estado forte, que pudesse interferir nos desígnios da humanidade. O outro descreveu de maneira sombria o que aconteceria num ano específico (1984), quando o Estado totalitário se tornaria o Grande Irmão e vigiaria a todos (sim, ele mesmo: o Big Brother que deu origem àquele programa de verão de teor discutível na TV Globo). Um é tido aos olhos da história como o teórico do socialismo, e o outro é um dos grandes algozes do primeiro.

Ademais, mais recentemente, as pessoas parecem ter perdido um pouco da compostura no tratar político. Insultos, vitupérios, ultrajes, agressões verbais e até físicas, algumas delas resultando no pior dos acontecimento: a morte, são tão comuns hoje quanto um post de Facebook mal ajambrado em favor desta ou daquela causa.

Aliás, tenho uma amiga que participou de um processo seletivo no qual o entrevistador apareceu com as páginas do Facebook da candidata em questão impressas no momento da conversa!!!

Como diria Jesus, afasta-te deste cálice. E/ou como diria Chico Buarque: Cale-se! É para a sua própria sobrevivência social e paz de espírito num país cindido. Isso não acrescentará por ora nada. Fale e discuta em modo privado com seus amigos, de preferência sem deixar rastros digitais que podem ser usados contra você a posteriori. Não faça nada publicamente de maneira que possa te causar problemas e rivalidades. Feliz 2019!