TURISMO & DIPLOMACIA: Entrevista com o Delegado de Cabo Verde no Fórum Macau

TURISMO & DIPLOMACIA: Entrevista com o Delegado de Cabo Verde no Fórum Macau

Revista de Turismo de Cabo Verde TURIMAGAZINE nº 36, março 2020

Rubrica TURISMO & DIPLOMACIA por Elizandra Barbosa

www.turimagazine.com

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O Governo de Cabo Verde da IX Legislatura delineia, no seu PROGRAMA, uma “NOVA DIPLOMACIA” em que atribui especial ênfase à Diplomacia Económica, uma das vertentes mais expeditas da diplomacia contemporânea, virada para a promoção de atividades produtivas e atração de investimentos.

Dentro deste contexto, nasce esta rubrica de entrevistas exclusiva aos Diplomatas cabo-verdianos em mercados chave, visando dar a conhecer os resultados e as oportunidades para o turismo, frutos desta Nova Diplomacia.

A nossa primeira entrevista é com o Delegado de Cabo Verde no Fórum Macau, Dr. Nuno Furtado, analisando o impacto da parceria multilateral entre China, Macau e Cabo Verde, os investimentos em curso no sector do turismo e a crise mundial gerada pela pandemia do coronavírus, o COVID-19.

Breve Enquadramento:

O Fórum de Macau é um mecanismo multilateral de cooperação intergovernamental, sem carácter político, focado na promoção do desenvolvimento económico e comercial dos seus membros com o objectivo de consolidar o intercâmbio económico e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa utilizando e dinamizando o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação privilegiada entre a China e os Países de Língua Portuguesa. O mecanismo do Fórum de Macau procura assim fomentar o desenvolvimento comum entre o Interior da China, os Países de Língua Portuguesa e a Região Administrativa Especial de Macau.

Cabo Verde procura posicionar-se, neste mecanismo de cooperação, através de uma acção pragmática que já obteve resultados positivos em Macau em vários domínios, dos quais destacamos os sectores empresarial, educativo e cultural.

O Delegado de Cabo Verde no Fórum Macau, Dr. Nuno Furtado, tem procurado aproveitar todas as oportunidades resultantes desta parceria multilateral de excelência, posicionando-se como elo de ligação e agente facilitador dos contactos entre China, Macau e Cabo Verde.

1.     Começando diretamente pelo Turismo, como avalia o impacto desta parceria e das consequentes oportunidades para o desenvolvimento do sector turístico em Cabo Verde?

Permita-me, antes de mais, de aproveitar esta oportunidade para agradecer a Revista Turimagazine pelo interesse em abordar assuntos relativas à cooperação entre Cabo Verde e China a partir da Plataforma Macau nesta entrevista.

Começo por sublinhar que o papel principal do Secretariado Permanente do Fórum de Macau consiste na promoção do ambiente de negócios nos Países de Língua Portuguesa (PLP) e, consequentemente, na atração de investimentos para o nosso país.

Respondendo em seguida à questão colocada, apraz-me confirmar que o Turismo é, sem dúvidas um dos principais sectores prioritário na estratégia nacional de desenvolvimento de Cabo Verde e, é neste pressuposto e no quadro de orientações e directivas recebidas do Governo que procuramos orientar o nosso trabalho. Outrossim, informar que o Turismo está entre as 18 áreas prioritárias de cooperação plasmadas no Plano de Acção 2017-2019 do Fórum de Macau, e cuja execução e implementação compete aos PLP, com base nas linhas de orientação aprovadas no respectivo Plano. Assim, é do nosso entendimento que o impacto desta parceria será o melhor aproveitado através de uma política de aposta na qualificação dos nossos quadros em perfeita consonância com as politicas avançadas pelo Ministério do Turismo, principalmente no que respeita à diversificação dos produtos turísticos.

Macau diferencia-se de Cabo Verde por ser um destino de turismo de convenções e de lazer e não um turismo de sol e praia, pelo que pareceu-nos importante tomar por base, a experiência de Macau para a diversificação do nosso sector. É com base nesta linha que temos priorizado o intercâmbio e a formação de quadros, com vista a tirarem ilações sobre o sucesso de Macau no sector do turismo e transportar esta experiência para Cabo Verde.

Procura-se assim tirar o maior proveito do Protocolo existente entre a Direcção dos Serviços de Turismo de Macau e o Ministério do Turismo de Cabo Verde e nos últimos anos, em coordenação com o Ministério do Turismo, temos estendido a formação para outras entidades ligadas ao turismo, nomeadamente, a Escola de Hotelaria e Turismo de CV, as Câmaras Municipais, a Associação das Agências Nacionais de Viagens e Turismo de Cabo Verde, a Câmara de Turismo de Cabo Verde, o tecido empresarial, entre outros, com o objetivo de colocar todos os agentes a convergirem para a mesma visão e estarem em pé de igualdade na abordagem ao sector.

Justo também, seria destacar as acções de formação na capacitação e a participação dos nossos quadros em eventos internacionais organizadas pelo Fórum de Macau.

Recentemente, a Associação das Agências Nacionais de Viagens e Turismo de Cabo Verde assinou um Protocolo com a Associação das Agências de Turismo de Macau, que prevê acções importantes na troca de informações, fomento do intercâmbio de turistas e formações. Assim, terá a AAVTCV o importante papel de contribuir para a dinamização do sector entre Macau e Cabo Verde. Entendemos ainda que a cultura e o desporto são sectores que complementam o turismo, daí também haver uma forte aposta na qualificação de quadros na área do turismo cultural e turismo de montanha. Por consequente, e com esta missão, temos igualmente seguido no sentido de trabalhar na mobilização de parceiros para investirem no sector do turismo.

2.     Falando de Cabo Verde e das relações com China e Macau, é incontornável falar do Resort integrado do David Chow na Praia, o maior investimento de sempre em Cabo Verde, 250 milhões de dólares cerca de 15% do PIB cabo-verdiano. Como está a avançar este projeto e qual a perspetiva de término das obras?

Relativamente, ao Projecto do empresário David Chow, sem margens para dúvida, representa um investimento importante e estruturante para a cidade da Praia e para o país em geral. Mas, é importante esclarecer que o valor inicial do investimento de 250 milhões de USD foi reduzido para valores próximos dos 90 milhões de USD. Ao que se sabe, o Projecto sofreu várias alterações, por causa de dificuldades técnicas nas obras. Uma das principais alterações prende-se com a construção da unidade hoteleira no Ilhéu que, por razões de segurança nas fundações, teve que passar para o outro terreno do Gamboa, o que levou a um certo atraso nas obras devido à necessidade de redesenhar o projeto.

3.     Este investimento, abriu portas para vários acordos de cooperação nomeadamente na área de educação. Qual o impacto social que podemos esperar para a ilha de Santiago e em concreto para a cidade da Praia? 

Desde o anúncio do Projecto de construção do Resort na cidade da Praia, e tendo em consideração que o projeto prevê o funcionamento de casinos, foi possível avançar com a formação de quadros em Instituições de Ensino Superior de Macau que mais tarde serão integrados no Projeto. Desde de 2016, temos em Macau um grupo de estudantes que estarão este ano (2020) a terminar os primeiros cursos em Gestão de Jogos e Diversões e Língua Estrangeira ou seja a Língua Chinesa. Por um lado, prevê-se que através da formação destes estudantes, o país estará com maior capacidade de resposta para facilitar a comunicação com visitantes/turistas chineses, e por outro lado, prevê-se que o projeto irá criar vários postos de trabalho, sendo que o mercado de trabalho já dá sinais de ansiedade perante o avanço das obras.

4.     Na sua ótica, quais as oportunidades de negócios que este investimento poderá gerar para os operadores turísticos nacionais?

Veja, este investimento pela sua amplitude irá significativamente dinamizar o sector do turismo, mas irá também e sobretudo dinamizar o sector do comércio de serviços, nomeadamente as Agências de Turismo e Convenções e para além destes agentes económicos outros operadores comerciais também serão directos beneficiários como as agências de seguros, o sector da banca, as indústrias criativas, as indústrias alimentares, as industrias gráficas, as indústrias têxteis, e outros sectores que possam ser criativos em relação ao Projeto do Resort. O Resort além da vertente de jogos e restauração, deverá ter várias outras valências, como sala de conferências, espaços de lazer, shoppings, etc.

5.     O ano 2020 está a ser marcado por uma forte crise mundial, gerada pela pandemia do coronavírus, o COVID-19, que foi identificada em finais de 2019 na China. Os impactos deste surto têm sido desastrosos em todos os sectores. Quais as perspetivas futuras do Fórum de Macau e como os Países de Língua Portuguesa estão a reagir a esta crise? 

Pergunta muito pertinente. Ora veja bem, não há margem de dúvidas que a situação da pandemia que assola o planeta, terá impactos verdadeiramente catastróficos à escala mundial. Desde logo, os mais afectados serão os países mais pobres, sendo que os países mais desenvolvidos e as Organizações Internacionais terão a árdua tarefa de reconstruir ao nível mundial o sistema de governação e o tecido económico e social. A economia global entrará em crise e criará dificuldades de gestão externa e interna.

O Fórum de Macau vê com muita preocupação a situação do Covid-19, porque representa um impacto enorme nas acções de trabalho do Fórum. Além disso, esta situação de pandemia já levou ao adiamento de um importante evento do Fórum de Macau, que seria a VI Conferencia Ministerial para aprovar o próximo Plano de Acção Trienal. Ademais é um sentimento geral dos Países de Língua Portuguesa que este ano teremos grandes dificuldades de organizar e executar o Plano de Atividades para o ano 2020, que prevê, sobretudo, acções de promoção no interior da China e nos PLP.

Nesta perspetiva, analisando o caso de Cabo Verde, país vulnerável aos choques externos, diria que a economia nacional será fortemente afectada pela crise económica e financeira internacional pela sua forte dependência externa e dependência dos seus parceiros de desenvolvimento. O mundo viverá períodos de incerteza em toda a sua dimensão, principalmente na mobilidade das pessoas. Para destinos turísticos, levará tempo para as pessoas confiarem que determinado destino é seguro.

Igualmente, as metas do crescimento económico mundial para 2020 serão fortemente afectadas, aliás o FMI, o BAD, agências de rating internacionais e agências financeiras e bolsistas começam a fazer prognósticos negativos em resultado do impacto do Covid-19. Inevitavelmente todos os países serão afectados e sem alternativa para escapar a crise mundial. Cabo Verde enquanto destino turístico de excelência, onde o turismo contribui positivamente para o PIB, arrastará consigo todo o sector da aviação e do comércio de serviços para a crise. O apoio dos parceiros de desenvolvimento ficará em parte comprometido, uma vez que também se encontrarão engajados na luta contra o Covid-2019 e a crise económica e financeira internacional, a remessa dos emigrantes, outra importante fonte de receita, será reduzida pelas dificuldades de funcionamento de outras economias, o sector privado enfrentará dificuldades fruto da quebra da dinâmica da economia nacional e internacional fazendo aumentar o desemprego, a mobilização dos investimentos etc…. o que posicionará Cabo Verde em grandes dificuldades e desafios enormes.

Portanto neste contexto mundial difícil, deverão ser tomadas medidas temporárias para fazer face à epidemia, o que passa em primeiro lugar por salvar vidas e salvaguardar o bem-estar da população. No pós-crise, será necessário reajustar as politicas económicas e sociais, criar novos incentivos para a revigorização do mercado e criação de emprego, e um novo quadro de atração de investimentos com vista à retoma da normalização e da estabilidade da acção governativa.

Ouquié que caboverdianos podemos vender la em Macau? O Delegado trabalha pa' caverdianos de ilhas so', o caverdinaos de mundo? Bravo!

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