A uberização do trabalho te pega em quanto tempo?
Quem ainda não pensou em fazer uma renda por meio dos aplicativos? O número de empregados informais aumentou pelo terceiro ano consecutivo, atualmente 40 milhões de brasileiros ocupam essas funções
Quem não tem um parente próximo ou um amigo dirigindo carros ou bicicletas para tampar aquele buraco que não fecha?
Como diria o finado vampirão, Michel "não reclame, trabalhe".
Hoje me deparei com um dado que me assustou, vejam:
- 40 milhões na informalidade
- 13 milhões de desempregados
- 4 milhões de desalentados
Há poucos dias escrevi um artigo sobre o porquê, a longo prazo, a taxa de desemprego continuará crescendo. Paralelo a isso, aqui, vou me ater sobre o número de desalentados e trabalhos informais.
Analogamente, se um paciente chega ao hospital procurando sanar alguma dor e o médico não pede um exame, não checa quais taxas estão destoando da normalidade, não procura saber o que ele fez de diferente e não investiga a causa, dificilmente ele administrará o remédio correto.
Hoje chegamos na emergência com sintomas de desemprego. Especialidade delicada, demora muito pra chamar e nem sempre tem vaga, quando tem. Funciona como se fossem veias, onde a transferência de renda e todo o sistema se interliga. Na receita, no dia primeiro de maio deste ano, o médico J.B receitou: vamos desburocratizar.
Até ai tudo bem, é como se tivessem nos receitado ingerir bastante líquido, melhora? sim, mas não resolve. Qual é o plano? o que dizem as taxas? já existiram casos assim em outro lugar do mundo? o que deu errado no Chile devemos praticar no Brasil? Segundo nosso Ministro da Economia, sim.
De volta à receita, estavam os seguintes remédios tarjados (só pega se mudar a constituição):
- PEC do teto de gastos - (efeito colateral: sem investimentos)
- Reforma trabalhista (efeito colateral: reduz o piso do salário e permitia até gestantes trabalharem em lugares insalubres)
- Reforma da previdência (efeito colateral: eliminar o caráter social da previdência)
- Congelamento do salário mínimo (efeito colateral: danos irreversíveis)
- PEC da Liberdade Econômica (Efeito colateral: trabalhar até aos domingos)
As medidas de austeridade estão amputando cada membro que para de funcionar ao invés de tratá-los. O resultado dessa lógica é a evazão das pessoas para o mercado informal de trabalho, e pior, para o desalento. Um efeito histórico do governo, em tão pouco tempo, Bauman define como "retrotopia" ou seja, a ausência de uma utopia no amanhã, a descrença na evolução, na igualdade e em mais oportunidades.
Recentemente, Eduardo Moreira, economista especialista em reforma da previdência, publicou: "No sertão, meu pai dizia para não dar nomes aos bois, porque na hora de matar, você não consegue. É isso que estão fazendo no Brasil, olhando para a planilha do Excel e esquecendo todo o contexto. Aplicar cortes olhando para a planilha é não dar nomes aos bois".
Para nós, que estamos dentro do curral, aqui vai meu conselho: apele para sua criatividade. Pense fora da caixa, estimule-se a fazer conexões diferentes e desengavete seus projetos: se não agirmos, todos nós vamos virar motoristas e não passageiros. É isso que o mercado tem chamado de uberização do trabalho, é evidente que as empresas facilitaram nossa vida, mas não justifica termos engenheiros, advogados e professores sendo motoristas. Quando é opcional é sempre bem-vindo, quando é regra, algo deve ser feito.
O remédio está errado, quando isso acontece só nos resta chamar por alguém mais experiente, que saiba o que está fazendo [Ciro]. Enquanto isso não acontece, pesquise soluções diferentes, se planeje e dê o seu melhor, quando isso acontecer, até a NASA vai nos estudar. Aqui conseguimos transformar em arte até o bagaço da laranja.
A história nos comprova isso, e ninguém pode incidir imposto sobre capital intelectual, ainda.