Um conto de fadas chamado Liderança
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Um conto de fadas chamado Liderança

(originalmente publicado em myprofessionalcoaching.com)

“ Uma boa liderança é sobre experiências humanas. Não é uma fórmula ou programa, é uma atividade humana que vem do coração e leva em consideração os corações de outras pessoas. É uma atitude, não uma rotina. ”

Lance Secretan, professor e especialista em liderança.

Será que tudo o que aprendemos sobre liderança está errado? Deveríamos rotular os inúmeros livros e treinamentos sobre liderança disponíveis como simples contos de fada? Essa é a principal linha de argumentação do Prof. Jeffrey Pfeffer em seu mais novo livro, “Leadership BS”, ainda não traduzido para o Português. Já no prefácio, o Prof. Pfeffer dá o tom do que virá pelas próximas 257 páginas:

“ Mitos e estórias inspiradoras podem ser reconfortantes, mas são completamente inúteis como agentes de mudança. ”

Afirma, ainda, que muito do que se prega sobre liderança está mais baseado em esperança que em realidade, em desejos ao invés de dados, em crenças ao invés da ciência. Estaria ele certo?

Qual o preparo oferecido aos líderes de nossas empresas, e quantos são os líderes empresariais que realmente se destacam entre seus pares? Tive a sorte de trabalhar em empresas lideradas por profissionais brilhantes, e aqui uso a palavra “sorte” porque tenho consciência de que essa não é a regra, mas exceção. Basta conversar com amigos e ver que a realidade não é bem assim. Bons líderes ainda são exceção à regra, apesar da vasta gama de treinamentos em liderança oferecida pelas empresas a seus altos executivos e média gerência. O que estaria errado, então?

Um estudo da McKinsey indica que apenas 7% dos executivos britânicos entrevistados entendem que suas empresas são capazes de formar líderes de forma efetiva, enquanto cerca de 30% das empresas norte-americanas participantes da pesquisa admitem ter perdido oportunidades de negócio no exterior por não terem suficiente número de líderes com as qualificações requeridas para tais missões.

Dentre as possíveis falhas no processo de treinar executivos em liderança, podemos começar com um termo de uso comum no mundo da consultoria empresarial: “conflito de interesses”. Dê uma busca no Google pelo termo “Liderança Servidora” e descubra que “liderar é servir”. Segundo essa vertente da liderança, um líder deve ser capaz de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando determinados objetivos. Conceitualmente correto, desde que as métricas de avaliação da performance do líder estejam alinhadas com os objetivos de engajamento de pessoal. Portanto, se utilizamos as métricas equivocadas, com foco em resultados de curto prazo e sem quaisquer considerações acerca do desenvolvimento de um pipelinede talentos e outras metas de longo prazo, como podemos esperar que o líder esteja genuinamente empenhado em servir?

Temos então a questão acerca de quem treina quem. Em algumas empresas, treinamentos sobre liderança são ministrados por um gerente médio, sem traquejos acerca do tema, seguindo um roteiro definido por Recursos Humanos. Grandes são as chances, nesse cenário, que o facilitador venha a desenvolver suas técnicas de apresentação em público, mas que o objetivo de formar líderes não passe de um bem-estar momentâneo, gerado pela “boa onda” das discussões em grupo e do clima de atingimento de metas. Outra opção bastante comum é a contratação de empresa especializada em treinamentos sobre liderança, sendo que o risco está nas credenciais. Por vezes treinamentos sobre lideranças são ministrados por profissionais com formação específica, mas absolutamente nenhuma prática em liderança empresarial. Ou ainda, em suas “vidas profissionais passadas”, podem ter sido péssimos líderes, não tendo posto em prática metade daquilo que apresentam em treinamento. Busque por “treinamento em coaching no Brasil” no Google e veja o número de links disponibilizado. Agora acesse alguns links, de forma aleatória, e veja quais centros de treinamento em coaching requerem de seus alunos algum tipo de experiência prévia em liderança de equipes ou gestão de carreiras.

Por fim, diferentes empresas, em diferentes mercados e estágios de maturidade, atuando em diferentes geografias e lidando com diferentes stakeholders, podem precisar de diferentes perfis de liderança. Compare Steve Jobs, Jack Welch, Carlos Ghosn, Mark Zuckerberg e Richard Branson, apenas para citar alguns nomes. Pode haver uma ou outra semelhança, mas provavelmente haverá mais pontos de discordância que pontos em comum entre seus estilos de liderança. Se houvesse uma única fórmula para liderança, esperaria ver tal fórmula refletida no comportamento de cada um dos cinco executivos aqui citados, o que certamente não é o caso.

Voltando a frase de Lance Secretan que abre este post, “Uma boa liderança é sobre experiências humanas”.

E então, você concorda com o Prof. Pfeffer? Quase tudo o que temos a nossa disposição sobre liderança não passa de conto de fadas? Deixe seu comentário abaixo, terei o maior prazer em debater este tema com você.

Andre L. Braga é coach profissional com certificação internacional pelo Instituto Holos, embora não exerça profissionalmente tal função. Atua em Finanças para uma multinacional de bens de consumo. Foi liderado por excelentes profissionais ao longo de sua carreira, de forma que uma lista de agradecimentos seria longa demais para este espaço. Quanto aos poucos chefes terríveis com os quais conviveu, citá-los aqui seria uma completa perda de tempo.

Tradução do original em Inglês: “Myths and inspiring stories can be comforting, but they are worse than useless for creating change.”

Excelente abordagem Braga. Ser mais humano significa simplificar. Concordo também ser importante um coach ter experiência corporativa (e ser coach da equipe é uma das principais habilidades de um líder).

Marcos Minoru Nakatsugawa M.Sc.

Consultor organizacional e de RH, especializado em carreiras, desenvolvimento, sistemas de gestão e administração enxuta

8 a

Como bom japonês, adoro histórias inspiradoras e metáforas e julgo que elas são ilustrativas e, dependendo do contexto, ao estimularem a reflexão. pelo menos fazem as pessoas saírem de seu estado catártico e conforme. Todavia, também concordo que inspiração e ação são coisas totalmente diferentes e, aí, o tal 'walk the talk' faz toda a diferença. Costuma-se estigmatizar os "professores" como "aqueles que sabem inspirar, mas não sabem fazer", mas se, realmente, entre a teoria e a prática há uma distância tão enorme que a relação de causa e efeito se esvai, como comprovar as bonitas "teses de mestrado e doutorado", nessa "dura realidade de mercado"? Difícil definir uma regra, uma "fórmula mágica" que possa ser replicada, como se fosse um algoritmo, para o desenvolvimento de lideranças. Até mesmo seu componente situacional se torna mais uma complexidade a se administrar, em sua aplicação efetiva. Observando minha própria experiência - que, mantendo a linha de raciocínio acima, pode ser muito particular, não escalável -, percebo que tipo de "líderes" me inspiraram, e como isso ocorreu. E vejo que, até mesmo "chefetes" [e eu tive alguns, embora o privilégio maior tenha sido o de ter me subordinado a grandes líderes] me ensinaram algo de útil. Então, chego à conclusão de que é a capacidade de escolha do indivíduo que pode fazer a diferença. Ou seja, talvez o problema não seja apenas dos líderes, mas dos liderados também. Das competências [ou incompetências] destes últimos em filtrar o bom do ruim, o bem do mal, em se tornarem resilientes [tema explorado recentemente por mim, numa postagem recente, aqui] e em serem contínuos aprendizes de mentes e corações abertos. Como se isso fosse tarefa fácil. Não é. Mãos à obra, pois.

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