Um empreendedor brasileiro em Portugal
Eventualmente gosto de dividir minhas experiências profissionais nas redes e ultimamente quem me acompanha de perto, sabe que eu sou um homem em uma missão. Sim, eu sou empreendedor fundador da Startup Convert.Rocks, e após amargurar 10 anos empreendendo em um dos países mais hostis para qualquer empresário, resolvi em setembro de 2019 abraçar a oportunidade de participar do maior evento de inovação do mundo, o Web Summit, que acontece em Lisboa uma vez por ano.
Até então tudo bem, eventos é algo que se faz ao longo da vida profissional com certa frequência e com o passar do tempo passamos a nos habituar e criar estratégias para que este nos dê mais retorno, seja melhor planejado e etc. O que não estava nos planos, foi toda a riqueza cultural e experiência de vida que a partir daquele momento eu passaria a experimentar. Lisboa começou para mim, com 70.000 pessoas a mais pronunciando idiomas distintos, tentando compreender e trocando experiências, explicando seus negócios de maneira quase que mímica em uma sintonia harmoniosa que variava entre gestos, sotaques, idiomas completamente diferentes e com um mesmo objetivo: Absorver tudo o que podiam.
Eram ideias geniais, que variavam desde um marketplace para artistas, passando por inovações na área de moda, software, calçados, esportes e por aí vai. Algo que notei de imediato é a facilidade que tivemos de expor nossas idéias, uma vez que trabalhamos com uma ideia inovadora e as pessoas nos escutavam sem dizer o famoso: "Ah vocês são tipo aqueles caras lá?", tudo bem foi nesse momento que percebi que o Brasil não esta acostumado com inovação e tem pouca educação em enxergar o que é novo, pois condicionamos toda a visão de negócio para empresas já testadas, mesmo que com pouca idade (grande erro). Foi incrível perceber presenças de grandes influenciadores, presidentes de países, fundadores de empresas gigantescas de todos os segmentos, pessoas que em um momento abraçaram com fome, um propósito de mudança.
Tomei conhecimento que diversos países do mundo, estavam oferecendo programas de incentivo a empreendedores interessados a migrar suas empresas para estas regiões, e tinha de tudo, desde bolsas, aportes financeiros pontuais, empréstimos com taxas de juros negativos entre outras maluquices maravilhosas que nunca me foram oferecidas antes em minha terra natal (e duvido que seja em um futuro breve, médio ou longo, e não venham me falar de BNDES e etc, oferecer crédito a empresas que possuem tração não é investimento seed, ou early stage, e se você diz que é: Apenas pare.). "Mas qual o sentido de oferecer estes benefícios todos? o que o governo ganha com isso?". Ora, novos moradores e profissionais produtivos, mais negócios, dinheiro circulando, mais gente consumindo e no caso de startups com modelos escaláveis, a possível tributação do faturamento da empresa em diversas outras regiões. Isso sim, se chama incentivo. É fazer um sacrifício ou abrir mão de algo para que depois possa capitalizar com mais pessoas presentes em suas regiões, seja um governo, um fundo ou investidor anjo. E não estrangulando o empresário como estamos acostumados.
O velho continente me surpreendeu sim. A cada dia em que levantei eu ouvia uma voz dentro de mim dizendo: "Por que raios eu nunca visitei este lugar?". Nesta primeira etapa da viagem, foram 10 dias incríveis onde conheci muitas pessoas, algumas mais do que especiais, outras que se tornaram grandes parceiros de negócios, pessoas que são muito famosas em nosso território tupiniquim, algumas conhecidas globalmente, estrangeiros diversos, e muitas outras ávidas por conhecimento e embasbacados por algo que não nos era tão explicito e preciso, em meio ao turbilhão de eventos acontecendo simultaneamente.
E era a própria Lisboa.
Me despedi das pessoas que conheci ali, e prometi para alguns e para mim, que voltaria em breve. Pois bem, cheguei ao Brasil, contando com a ajuda e conselhos de algumas pessoas que me são muito queridas, simplesmente segui o meu sexto sentido, arrumei as malas e em poucos dias, desembarcava em Portugal novamente. Eu tinha uma estratégia, nos foi ofertado durante o evento, através dos próprios programas de incentivo a oportunidade de nos inscrevermos e participarmos de alguns destes programas. Para isso, era necessário participarmos de um programa de seleção em algumas incubadoras e se eles topassem, nós poderíamos ter mais chances em ser aceitos. E foi então que percorri muitas destas instituições, e tive todo o tipo de experiência, desde "Ei, nós não atuamos mais neste segmento" (Obs* Neste dia eu estava andando a pé durante a depressão Elsa, uma espécie de tufão) à, "Me manda um e-mail.." (Boooring), até nos depararmos com o Richard (Nice guy) de uma destas incubadoras, a ImpactHub, e em uma conversa muito produtiva (em inglês, embora fosse Portugal) ele me disse. "Muito bacana a ideia da solução de vocês mas tenta se aprofundar mais em qual problema social você pretende resolver ou causar impacto" (Booom) Eu mal sabia mas a quantidade de conteúdo que me foi ofertado a partir daquele momento mudariam a minha vida, e eu jamais tinha ouvido falar a respeito no Brasil. E olha que eu conheço toda a sopa de letrinhas ta? (BP, PitchDeck, Kit investidor, ROI, Roas, bla bla bla... ) E nesse caso era "Theory of Change" a Teoria da mudança.
Como funciona?
Seu projeto permite que outros criem algo com base na sua ideia e que seja relevante para todo um ecossistema? É isso. Por exemplo: Você tem um problema. Possui muitas roupas e logo pensa: "Preciso de um armário ideal para a minha necessidade". Mas você sozinho não é capaz de montar um armário, e você faz um esboço do seu armário ideal, este esboço deve ser enviado a uma loja ou fábrica que demanda de pessoas diferentes a composição da pré montagem deste armário que será enviado "quase montado" para você com as tábuas cortadas da maneira como você precisa, e com um manual impresso (por outro setor ou empresa) para que você consiga com ferramentas comuns, montar o seu armário, dentro de uma caixa que foi confeccionada por uma outra companhia. E desta forma uma ideia não só resolve o seu problema como atende a necessidade de muitas outras pessoas que precisam de um armário e não sabem como monta-lo. O exemplo é simples, mas ilustra bem o quão enriquecedor esta ideia pode ser para toda uma nova cadeia.
Portugal oferece um custo de vida muito interessante, eu não sou muito de beber, mas não tem como não tomar um vinho em terras lusitanas, a média dos preços é muito baixa quando se compara com o Brasil. Um vinho Casal Garcia em São Paulo custa em torno de R$65,00. O mesmo vinho em Portugal custa dois euros e noventa e nove cêntimos (centavos). Sim 2,99. Peguei o hábito de dizer inclusive, "Não vou pagar este valor em tal coisa, com esse montante eu compro 5 garrafas de vinho" (Moedas tem valor e o dinheiro também não aceita desaforos na Europa). Alimentação nos restaurantes, além da gastronomia rica, os valores variam entre 5 a 10 euros, uma refeição bem feita, sendo que estão inclusos o prato principal, a bebida, a salada, o café e as vezes... a sobremesa.
A questão da segurança é uma sensação surreal, é difícil até de acostumar, em todo este tempo não vi ou fiquei sabendo de nenhum tipo de incidente envolvendo furtos ou qualquer tipo de contravenção. O idioma obviamente não é uma barreira e os transportes te levam a todo lugar, não tive muitos problemas de pontualidade, mas tive sim muito conforto o tempo todo a um preço justo. Cruzei o país em minha viagem para Porto, que durou em torno de quatro horas, custou em torno de 35 euros, e teve as comodidades de um serviço de bordo de avião, só que mais confortável e com um detalhe interessante: Não havia medo de cair (isso é bem importante).
Para os empreendedores como eu, este é um excelente acesso ao restante do continente europeu e com um custo de vida relativamente baixo em relação aos outros países. Então caso seu modelo seja escalável (que permite expandir ganhos sem aumentar as despesas na mesma proporção), Portugal é um ponto de presença perfeito para expandir seus negócios para França, Alemanha, Inglaterra, Espanha e outros países que são tradicionalmente mais ricos.
Importante! Não se deixe enganar pelos pontos positivos, dificuldades e um planejamento ruim, são negativos em qualquer lugar. Mas costumo dizer que o Brasil é a faixa de Gaza do empreendedorismo mundial. As mais complexas regras ficais, problemas sociais diversos e muitos gargalos em cada aspecto do país, por isso digo se seu negócio funciona no Brasil, ele funcionará com muito mais facilidade em qualquer lugar do mundo.
Ao visitar Portugal, recomendo fortemente a estadia em Hostels (fiquei um muito legal chamado Lisbon Hub), é uma excelente oportunidade para conectar-se com pessoas de todos os cantos com o mesmo objetivo que você, expandir os negócios e a mente.
E convenhamos, uma vista dessas também não é nada mal.
Caramba... Estava aí até bem pouco tempo!!! Mundinho pequeno!!!
Marketing Digital Smart Planner - Google AdWords and Facebook ADS | Digital Marketing Specialist at IKOEH
4 aParabéns e vá com tudo, Faccio!
Gestor de Serviços TI | Pessoas, Processos e Projetos | Transformação Digital | Inovação | Indústria 4.0
4 aTop seu artigo Felipe Faccio, Lisboa é fantástica, estou morando 1 ano aqui e curtindo muito. Pô estava no Web Summit cara, pena que não nos encontramos. Quando voltar da um toque! Sucesso brow!