Um futuro resiliente para a Construção Civil
Breve análise sobre os dados da construção civil e o ESG.
A construção civil é sim reconhecida por seu impacto ambiental significativo. Talvez um dos setores que mais contribui para o aquecimento climático do ponto de vista das emissões de carbono que ocorrem de forma associada. Do ponto de vista do ciclo de vida de uma construção, observamos um caminho longo e complexo, promovendo desde a extração de matéria-prima até atingir a integração com o seu proprietário.
No entanto, vale considerar o aspecto social disso tudo: constrói-se casas para morar e passar longos anos nela. Até então não se sabe outra forma de organizar nossas necessidades diárias, como dormir, a não ser no conforto de nossos lares.
Aliás, a maioria de nossos esforços e sonhos, do acordar ao dormir, estão a cerca de conseguirmos ter a liberdade e autonomia de conquistar a casa própria. Mesmo que essa condição esteja mudando nas novas gerações, onde muitos dizem não optar pela compra de um imóvel, ainda se tem a necessidade do conforto de qualquer que seja a forma de aquisição: seja ela, casa própria, alugada, ou cedida temporariamente por amigos e familiares.
No entanto, há uma crescente conscientização e esforços por construções mais sustentáveis, e a busca por selos e praticas que feche a conta do impacto ambiental.
Posso dizer, como engenheira, que ainda há muita inovação e tecnologia que precisam ser aplicados nesse tema, visto que a construção civil é um dos setores que menos avança em desenvolvimento, podendo afirmar que a forma de construir casas e prédios ainda é a mesmo dos tempos de nossos tataravós, se não com alguma pouca diferença.
Mas o que quero enfatizar aqui hoje, é, sobre algo que vem me chamando a atenção no que que tange as tão faladas ''construções alternativas ou sustentáveis''. Lembro muito bem do meu experimento no mestrado, na disciplina de analise de ciclo de vida ou ACV, onde estávamos tentando minimizar o cálculo do impacto da mobilização geradas no inicio da obra. Optamos em estudar e desenvolver alguma estratégia para os famosos tapumes que além de consumir grande parte do investimento ao longo da obra, são simplesmente descartados como ‘’lixo’’ no final.
Ao procuramos soluções para esse tema, optamos por comparar os tapumes de madeiras reflorestadas, e os de plástico reciclado. Fomos até uma recicladora local, e conversamos sobre recuperar determinados tipos de plásticos que vão perdendo sua reciclabilidade ao longo da reciclagem, mas que para essa finalidade poderia ser utilizado, com um menor custo.
Então, na primeira analise, seria mais vantajoso, utilizar a reciclagem como método alternativo, até pelo fato de utilizar mais de uma vez o mesmo tapume, e não a madeira de reflorestamento que na maioria das vezes não pode ser reaproveitada devido a sua capacidade de resistir aos interpéries.
Mas, vou resumir toda a analise: as entradas e saídas para que ocorra a reciclagem desses tapumes, são muitos superiores a própria produção inicial de qualquer tapume novo, até mesmo dos de madeiras. Porque isso? A necessidade da utilização de agua e energia depositada para que a reciclagem aconteça supera os esforços naturais de uma produção de eucalipto irrigado por fertirrigação por exemplo. O que se entende que nem sempre os métodos alternativos ou então classificados como mais limpos o são de fatos. E estamos apenas falando de tapumes. Imagina toda a caminhada de uma construção.
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Em resumo, encontramos uma longa discussão sem fim nessa pauta, pois ao avançarmos, ainda nos deparamos com a gestão dos resíduos da construção civil, que precisa urgente de uma fiscalização, sem contar com a aquisição de materiais ao longo da obra.
Chamo a atenção, para os dados numéricos: nem sempre eles podem ser a bússola para seguir numa decisão, visto que há muita informação que não é rotulada por trás de tanto algoritimo.
É preciso muita, mas muita resiliência e estratégia, do ponto de vista da construção. No Brasil, por exemplo, dependendo da localidade e do estado a se construir, do ponto de vista de um gerenciador de dados, como o do sistema SimaPRo, pode ser um tiro no pé, pois nem tudo é representando em uma única tabulação.
Penso muito na condição, de que residências envolvem tantos fatores, que vão desde a mão de obra local, no incentivo ao emprego, a mineração, como é o caso das olarias espalhadas pelo Brasil, na sua maioria familiares, e olhar apenas para um dado único e dizer que blocos de concreto podem ser mais eficientes, do que tijolos, mesmo sabendo o que significa eficiência nesse caso, é algo muito complexo que precisa além de uma analise numérica, uma analise humana.
Falo, pela economia do estado que eu morava, quando comparamos uma produção que pode valorizar muito mais a economia familiar e social de uma comunidade rural, como os mais de mil do interior do Paraná, se tratando de olarias, e falar que a indústria do cimento, em sua maioria localizadas no estado de São Paulo, poderá substituir de forma mais eficiente o mercado da construção no Brasil, é algo que me deixa incomodada, até mesmo valendo um certificado do mestrado. Só não posso deixar de questionar, ''eficiente'' para quem mesmo ?
O ESG é uma pauta sem fim na construção civil, ainda lembro como se fosse ontem, do dia em que fui solicitar um financiamento para a minha primeira casa própria. Alguns chamariam de humilhação documental, de tantas perguntas e evidencias que tive que demonstrar, além de dados e envio de provas, agora fico imaginando todo o acesso e facilidade de créditos por instituições financeiras a famílias de TODAS as diferentes rendas, como isso ainda é um bicho de sete cabeças.
Temas de métodos mais eficientes e certificações milionárias, como é o caso do novo termo ''luxo verde'', ou empreendimentos com forte compromisso com a responsabilidade ambiental, ainda ficam na trilha para novas discussões.
Algumas habilidades são indiscutíveis para organizar uma equipe resiliente para a formação de novos lares, cada vez mais preocupados com o sistema e integrados de forma colaborativa em todos os pilares. Deixo a reflexão.