Um imenso desafio
Artigo publicado no Caderno Cidade do Jornal Mogi News em 28/11/2017
Nos últimos 20 anos, o tema da juventude ganhou projeção e complexidade no espaço público brasileiro. Embora a concepção dos jovens como um problema social permaneça forte, outra percepção vem se delineando. Cresce o reconhecimento de que a juventude vai além da adolescência e de que as ações e projetos a ela dirigidos exigem novos métodos e conteúdos.
Em que pese o crescente processo de envelhecimento da população brasileira, podemos dizer que o Brasil é ainda um país com muitos jovens. Quase 30% da nossa população têm até dezoito anos. É esta faixa que mais sofre com problemas como pobreza, assassinatos e abuso sexual. É o que nos mostra o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em um de seus últimos relatórios “Situação da Adolescência Brasileira”. Segundo o documento, a pobreza atinge 29% da população no Brasil, enquanto o porcentual de adolescentes em situação de miséria chega a 38%.
Temos aproximadamente 20% dos jovens brasileiros que não estudam nem trabalham. Por isso estão muito mais expostos ao álcool, droga e transgressão de normas. Consequentemente estão também mais expostos ao universo da violência. O resultado desta tragédia se reflete na distribuição da população brasileira quando se considera sexo e idade. Nascem mais homens do que mulheres no Brasil e a predominância da população masculina começa a perder força a partir dos 15 anos, justamente quando a violência mais tira a vida dos nossos jovens.
Em 2006 a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OIE) apresentou um estudo sobre a mortalidade de jovens no país e fez recomendações para ações públicas e privadas para combater as mortes de jovens.
Porém muito pouco foi feito de lá para cá. Carecemos de políticas públicas consistentes e articuladas para inverter tal lógica. Reconhecer nossos jovens como sujeitos de direitos e promover a cidadania dos adolescentes de baixa escolaridade e baixa renda, mediante políticas intersetoriais que articulem a elevação da escolaridade, a garantia de renda mínima, o acesso à educação profissional, à saúde e à assistência social, ao esporte, à cultura e ao lazer é o nosso grande desafio.
Se quisermos fazer do Brasil um país sustentavelmente desenvolvido, vencer tal desafio é condição sine qua non.
Afonso Pola é Sociólogo e Professor