Um olhar com o coração para o nosso “1” mês de isolamento social
Há 31 dias (23.04.2020) vivemos o isolamento social devido ao COVID19.
A vida é cheia de pontos e contrapontos e isso a torna rica. Esse momento de pandemia nos coloca para pensarmos sobre nossos vários papéis na sociedade. Nosso papel na família, entre amigos, na profissão e no trabalho, na simples convivência social. Esses papéis parecem estar mais definidos e intensos. O atual momento nos une em um fator comum - todos vivemos um momento histórico para a humanidade e a realidade nos impôs a contradição de conviver com proximidade ou afastamento quase absoluto das pessoas.
Eu ouso dizer que estamos num processo histórico de mutação e desenvolvimento de novos modelos para a convivência entre as pessoas.
A tecnologia tem se mostrado como um facilitador e um mecanismo de aproximação entre as pessoas, mas ela não encerra nossa necessidade.
Então, o que parece estar em evidência é a necessidade das pessoas estarem próximas (mesmo que virtualmente) e pertencentes a um grupo.
Uso de lives, aplicativos de reuniões, desenvolvimento de redes de ajuda e apoio, reconhecimento do valor de pessoas e processos, muitas vezes negligenciados, como o próprio setor da saúde e no centro de tudo isso – AS PESSOAS IMPORTANTES DE NOSSAS VIDAS.
Isso muda todo o conjunto do que temos vivido. Concordam? Não seremos como antes. Podemos escolher entre sermos melhores ou não, enquanto seres humanos. Mas o que é melhor ou pior? Cabe a cada um parar para pensar. Temos que considerar que o tempo histórico é diferente do tempo humano, que o planeta é vivo e sofre transformações por si mesmo. É visível nossa influência e interferência na vida e na harmonia do planeta. Somos seres dotados de inteligência, raciocínio, sentimentos, desejos. Todos os nossos dons poderiam ser utilizados para o bem comum. Mas não é exatamente assim que funcionamos. Temos muito a mudar e a melhorar.
As políticas públicas no Brasil e no mundo refletem hoje lutas passadas, em que visões mais amplas e abrangentes foram conquistadas ou não, em sua maioria com guerras e mortes. Agora nos defrontamos com uma guerra com um inimigo comum e invisível, que nos coloca para lutarmos lado a lado, mesmo com os nossos diferentes.
Ainda, como sociedade, somos reflexos de nós mesmos. Nada tem sido unânime e o livre arbítrio nos coloca em contradição e convivência com o nosso contrário. Sugiro pensarmos: qual é nosso desafio? Acharmos que somos diferentes, porém somos tão iguais.
Um vírus conseguiu unir e colocar o planeta todo (com raríssimas exceções) em luta por um bem comum: desenvolver testes de detecção do vírus, tratamentos eficazes, ações coletivas de isolamento social, ajuda mútua. Penso e reflito que esse ser invisível fez a façanha de inverter uma ordem mundial, em que não há diferença entre os povos.
Somos todos um só. Não é possível negarmos a ciência, as evidências, a vida, a morte. Temos que trabalhar juntos e em prol de todos. Não há “eu”. Há “nós”.
O vírus circula pelo mundo e tem sido nosso carrasco, mas também nosso professor. Reitero que se conseguirmos mudar nossos olhares, poderemos ultrapassar esse momento e sermos melhores seres humanos.
Não tenho a receita do bolo. Sinto que temos que tocar as mentes e os corações das pessoas para que as tomadas de decisões políticas, sejam em prol das pessoas, do planeta, da vida, de amor ao outro.
Creio piamente, que sairemos fortalecidos e melhores. Vibro nessa sintonia. Acredito nessa energia e proponho pensarmos no livre arbítrio. Teremos que fazer escolhas e as mesmas moldarão nosso futuro.
Quais serão essas escolhas? Dependerá de nos reconstruirmos e nos repensarmos enquanto seres pertencentes a esse planeta e que somos seres globais. Sendo globais, não haverá espaço para tangenciarmos ou ignorarmos que os limites territoriais, econômicos, políticos também deverão ser globais, mas com a visão para o bem de todos e não para alguns. Não tenho nenhuma pretensão de “Poliana”. Isso será mágico? Não. Não será. Exigirá trabalho, empenho, construção, evolução e algumas vezes haverá retrocesso. Novamente, o tempo histórico não é o tempo humano. Pode ser que nem estejamos aqui para partilharmos o mundo diferente que irá se criar.
Recentemente, ao ver um vídeo do Leandro Karnal me coloquei a pensar no processo de transição da Idade Média para o Renascimento. Como será que as pessoas que participaram do período se sentiam, se relacionavam, trabalhavam. Me deparo todos os dias, pensando em filmes, músicas e outras expressões artísticas como “Os 12 macacos”, “Elisysium”, “Contágio”, “O dia em que a terra parou” de Raul Seixas: o homem cria na fantasia e ficção sua própria realidade. Não creio em determinismo, mas creio na capacidade do ser humano se tornar no que ele se propuser a ser. Precisamos inverter nosso propósito enquanto raça humana. Nosso “antes” será lembrado, mas não mais desejado. Teremos que construir nosso “depois”. Novos hábitos, novas relações políticas, novas expressões artísticas, novas relações familiares e de amizade. Novo, por si só, não significa melhor. Exigirá muito de todos nós.
Então, o convite é para seguirmos juntos. Superarmos as dificuldades e as encarar como oportunidades de vida. E assim, com calma, dia a dia, respirar, vibrar, meditar, orar, definir o uso do tempo e do espaço, para cuidar de mim e do outro, de quem amo e da comunidade a qual me propus servir como cidadã.
Como enfermeira, não posso deixar de valorizar, enaltecer e reconhecer os profissionais de saúde. Não podemos negar que os profissionais de saúde e dos serviços essenciais que estão na linha de frente são heróis mundiais. Veja: sem disparar uma bala. O cuidado ao outro faz hoje dos profissionais de saúde os heróis. Como faremos isso de forma ainda melhor? Cidadãos em geral – 1º respeitem os limites dados pelas autoridades sanitárias; 2º respeitem as medidas coletivas; 3º valorizem a ciência; 4º cuidem de vocês e de quem vocês amam. Órgãos governamentais e políticos – 1º valorizem os profissionais de saúde de forma concreta: tomem ações baseadas em evidências científicas; 2º não politizem a pandemia; 3º criem esforços mundiais para garantir a fabricação de EPI´s, equipamentos e infraestrutura para todos e em todo o mundo (não há um país melhor que o outro); 4º reconheçam financeiramente o trabalho dos profissionais de saúde; 5º melhorem a capacidade instalada das unidades de saúde; 6º usem o momento para criar novas cadeias de produção, tornando-as mais sustentáveis, duradouras, inclusivas.
O momento exige uma fraternidade genuína. Somos capazes disso. Então, vamos juntos. Pensemos como “NÓS” podemos superar e vencer mais esse desafio imposto pelo fato de estarmos vivos nessa nossa casa chamada TERRA.
Rosa Colombrini - MS. Enfermeira / Consultora da AtosInova Saúde
Executiva de Gente e Gestão em Saúde | Palestrante, Consultora, Mentora em Gestão de Pessoas | Assessora LinkedIn | Doutora em Mundo do Trabalho e Saúde Mental na FCM Unicamp | Enfermeira | Professora pós-graduação
4 aExcelente artigo e reflexão para revermos nossos conceitos e valores. Com certeza, tudo já mudou!
Nurse at HC/Unicamp
4 aRosa Colombrini minha fonte de inspiração sempre!!! Sábias palavras sempre, que possamos realmente ser melhores nessa nova realidade que se apresenta, que nossos comportamentos de fato sejam pensados para o "nós" e não somente no "eu"! É evidente neste momento que o "eu" apenas, não é sustentável, nem o melhor caminho. Que essa reflexão ecoe em muitas mentes e nosso futuro se melhor e não apenas novo. Beijo grande, parabéns pelo artigo! 👏👏👏