Um olhar para o consumo em 2021

Todos nós sabemos que estes últimos meses foram atípicos e trouxeram um grau de complexidade para nossas vidas. Mas, ao mesmo tempo, surgiram inovações e grandes possibilidades de nos reinventarmos. Recentemente, li muitos materiais sobre as novas tendências de consumo. Resolvi então, escrever este texto para resumir o que achei mais interessante e que possa talvez nos fazer refletir. Tenho como base o material produzido em janeiro deste ano pela Euromonitor International. A cada ano, a Euromonitor International identifica as rápidas mudanças nas tendências mais impactantes previstas para o próximo ano. Estas tendências fornecem insights sobre as transformações nos valores e no comportamento dos consumidores e como deverão estimular a disrupção nos negócios no mundo todo.

Separei aqui as principais tendências globais de consumo para 2021 conforme a Euromonitor:

1.    Reconstruir melhor

2.    Desejo por conveniência

3.    Oásis ao ar livre

4.    Realidade Figital

5.    Otimizando o tempo

6.    Obsessão por segurança

7.    A ordem é pechinchar

8.    Novos espaços de trabalho

“Reconstruir melhor” significa uma nova oportunidade para criar um futuro melhor. Para os consumidores, as empresas não deveriam focar somente nos lucros. Deveriam ter um olhar voltado para a proteção da saúde, aos interesses da sociedade e do planeta a fim de reconstruir um mundo melhor. As empresas deveriam colaborar para um mundo mais sustentável baseado em valores. As marcas que se dedicarem à reconstrução de um mundo mais verde e mais justo ganharão não apenas uma vantagem competitiva, mas também a licença social necessária, ou a confiança da sociedade, para operar.

“Desejo por conveniência” - há uma grande pressão para que as empresas adaptem rapidamente suas operações, desenvolvendo uma experiência do cliente mais resiliente enquanto preserva os níveis de conveniência. As empresas devem manter a agilidade e a continuidade da jornada de compra em todos os canais. A pandemia acelerou a adoção digital. Os consumidores mais jovens preferem as interações digitais, enquanto os mais velhos costumam optar por falar com atendentes humanos. Novos métodos, como códigos QR sobre os marcadores de distanciamento social no chão, permitem que os consumidores consultem menus e pesquisem produtos enquanto esperam nas filas de entrada e de pagamento. Estima-se que, como os gastos dos consumidores diminuirão, acompanhando a crise econômica, a conveniência terá um grande peso nas decisões de compra. Produtos e serviços baseados em soluções impulsionarão a tendência do Desejo por Conveniência.

“Oásis ao ar livre” é o que os consumidores mais procuram para sua recreação. Percebe-se um movimento de mudança de grandes centros para áreas rurais. Locais abertos onde se pode comer, fazer exercícios, socializar e relaxar são essenciais para consumidores confinados. Os consumidores querem voltar às raízes, caso a tecnologia lhes permita manter contatos online e participar de experiências virtuais. Há uma forte demanda por opções de hospedagem como cabanas isoladas e glamping (acampamentos de luxo). Além disto, uma tendência ao “faça você mesmo” e um desejo de conexão com a natureza estão impulsionando a expansão de produtos e serviços de jardinagem no mundo todo. A adoção de modelos de negócios com alternativas para condições climáticas adversas e a abordagem dos riscos sanitários serão as principais táticas no atendimento aos consumidores do Oásis ao Ar Livre. A criação de estruturas em espaços fechados e abertos viabilizará a continuidade da operação.

“Realidade Figital” é um modelo híbrido formado pelos mundos físico e virtual, em que os consumidores podem viver, trabalhar, fazer compras e se divertir, fisicamente e online. Os consumidores estão passando mais tempo em casa e mantendo interações virtuais parecidas com as que ocorriam na realidade física. Eles agora dispõem de ferramentas digitais para realizar suas atividades dentro e fora de casa. Os consumidores, especialmente os grupos mais jovens, são indiferentes à escolha entre atividades físicas ou virtuais; eles já não distinguem uma da outra. Sistemas de reservas, códigos QR para menus, pagamentos sem contato e provadores virtuais são algumas das estratégias que as empresas vêm implementando para minimizar as interações humanas. As empresas estão oferecendo novos produtos via delivery, bem como serviços virtuais que replicam experiências do mundo exterior. Agendamento de consultorias de compras por videoconferência, experiências de viagens em RV e uso de inteligência artificial (IA) na produção de cosméticos, bebidas e outros itens personalizados. As ferramentas virtuais serão fatores determinantes nas operações. Integrar processos virtuais aos locais físicos é essencial para que os consumidores se sintam seguros quando voltarem a frequentar estes espaços. As empresas que oferecerem experiências seguras e incríveis através de vários métodos e plataformas atrairão clientes fiéis.

“Otimizando o tempo” é a potencialidade que temos em administrar nossas agendas e compromissos. As empresas devem propor soluções que atendam ao desejo do consumidor de otimizar seu tempo, oferecendo uma maior flexibilidade, especialmente com relação a produtos e serviços acessíveis a partir da casa do cliente ou nas proximidades. Estabelecer limites se tornou essencial, pois a maioria das atividades agora são realizadas em casa. Um exemplo são as empresas de alimentação. As empresas também estão repensando suas lojas físicas, aproveitando os espaços para atendimento de pedidos online ou retirada no local. A tendência Otimizando o Tempo seguirá em alta, pois os consumidores continuarão passando mais tempo em casa e viajando menos. Para aproveitar esta tendência, as empresas devem ser vistas como parceiras que ajudam os consumidores a se adaptarem a um novo estilo de vida, no qual as atividades serão programadas de forma não convencional para atender às especificidades de cada agenda. Este novo nível de flexibilidade mudará o modelo de operação das empresas, que precisarão adotar uma cultura de serviços disponíveis 24 horas.

“Obsessão por segurança” é o novo movimento pelo bem-estar. As empresas devem implementar inovações e medidas estritas de segurança voltadas para a mitigação das preocupações dos consumidores. Métodos de pagamento sem contato estão em alta devido ao medo de lidar com dinheiro sujo. A sociedade já estava adotando métodos de pagamento sem dinheiro em espécie ou cartões tradicionais, e a pandemia acelerou esta transição. Segurança e saúde nortearão o comportamento dos consumidores. Em todos os setores, as empresas devem desenvolver iniciativas robustas de higiene para lidar com a crescente preocupação nesta área. À medida que os consumidores recorrem às suas necessidades, uma marca com uma imagem confiável e que transmita segurança será um ativo intangível para as empresas.

“A ordem é pechinhar” é pensar com uma mentalidade de recessão. Os consumidores estão cautelosos e moderados. Os gastos com supérfluos estão diminuindo devido às incertezas no cenário econômico. A Ordem é Pechinchar e priorizar produtos e serviços de valor agregado e alinhados às medidas sanitárias vigentes. Os consumidores vão revisitar seus valores e prioridades e adotarão novos hábitos de consumo. Os itens essenciais sofrerão menos. Os consumidores com consciência de valor estão movimentando a economia de compartilhamento e repensando aluguéis, revendas e negócios de remodelação com um marketing focado na acessibilidade e sustentabilidade. As marcas devem encontrar soluções inovadoras para recuperar valor e otimizar a equação preço-valor. Conveniência, maior presença online, entregas rápidas e serviços complementares são opções ao alcance das empresas para atingir este resultado.

“Novos espaços de trabalho” é a recriação do modelo tradicional. Sai os escritórios e entram as residências. As empresas devem apoiar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, atender às necessidades de produtividade e de comunicação. Estima-se que daí surgirá um modelo misto. A tendência dos Novos Espaços de Trabalho também influencia compras realizadas pelos consumidores nos intervalos das suas jornadas. A eliminação dos deslocamentos e dos escritórios convencionais diminui a ocorrência de eventos como tomar um café, resolver pendências na hora do almoço e se socializar com colegas depois do expediente. Novas rotinas abrem caminhos para inovações. Os recursos multifuncionais voltados para famílias ou indivíduos que compartilham espaços residenciais serão a principal área de inovação. O foco das inovações tecnológicas está em facilitar a colaboração remota e na popularização dos locais de trabalho híbridos. As decisões de compra de roupas de trabalho e cuidados cosméticos serão mais baseadas na informalidade, mas os pacotes premium acessíveis orientarão as escolhas de alimentos e bebidas que recriarão em casa a experiência de comer em um restaurante. As empresas devem transmitir aos consumidores um sentimento de integração e conexão por meio de comunicações digitais interativas.

Com base nestas tendências, como as empresas devem tratar os consumidores exigentes, ansiosos e criativos de 2021? As empresas devem oferecer produtos e serviços de valor agregado aos consumidores, bem como soluções multifuncionais e acessíveis. Métodos de pagamentos sem dinheiro em espécie ou cartões tradicionais e serviços click-and-collect permitem que as empresas gerem receita e ofereçam segurança e conveniência aos consumidores. Iniciativas focadas em responsabilidade e propósito mobilizarão os consumidores em 2021. Flexibilidade, agilidade, transparência e tecnologia abrirão o caminho.

Enfim, resiliência e adaptabilidade são os fatores mais determinantes nas principais tendências globais de consumo para 2021.

Fonte: Euromonitor International