Um pai e uma mãe à conversa    - Parte 2
Fábio Castro com Camila e Salvador / Edite Amorim com Lou e Gil

Um pai e uma mãe à conversa - Parte 2

No meio do ruído das redes sociais houve dois perfis que se cruzaram: o de uma mãe-profissional do Porto, Edite Amorim, e o de um pai-profissional de Lisboa, Fábio Castro (as suas biografias encontram-se no final deste artigo) que incluem a sua vivência da Parentalidade no seu discurso sobre temas laborais.

Curiosos sobre as diferenças e semelhanças que poderiam existir entre os seus trajetos e as suas experiências desta integração, resolveram entrevistar-se mutuamente!

Cada um lançou 6 perguntas ao outro sobre esta ligação de mundos e o resultado sai numa série de artigos feitos com as perguntas e respostas de cada um.

Esta é já a parte 2 dessa conversa! (A parte 1 está aqui!).


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3) (Do Fábio para a Edite) - A maternidade é frequentemente vista no mundo empresarial como um fator limitante para o crescimento profissional das mulheres. Que mudança farias nas empresas para que essa perceção mudasse?

Há uma intervenção que me parece fundamental: o da visibilidade. Não só da realidade das mães, mas das realidades várias que, enquanto humanos, vivemos.

Não acredito na empresa enquanto ecossistema fechado e asséptico: precisamos de ter perto, nos contextos de trabalho também, as idiossincrasias humanas que nos fazem nós: gente a quem morre gente; gente a passar por processos de doença; gente que se separa; gente que se tornou mãe e pai de outra gente...

Nessa linha de pensamento creio afincadamente em dar visibilidade às mulheres-mães que trabalham e em normalizar o seu mundo, que é, na verdade, um mundo que toda a sociedade tem que enfrentar: o da procriação e do que isso implica.

Que se normalize falar dos seus constrangimentos e também das mais-valias que trazem de uma forma integrada: que seja criado espaço (mais mental até do que físico) para amamentar, para faltar para cuidar, para acompanhar,... Que o ser Mãe não tenha que ser suportado unicamente pela chamada “vida pessoal” (como se fôssemos gatos com várias vidas! Mas isto já daria para outra longa conversa), fora de portas corporativas, quase esquecendo o que isso implica no momento de prestar contas profissionais. Esta parte, de ser humano plural, precisa, na minha opinião, de poder ser anunciado também dentro delas, democratizando o que isso representa e implica.

Um contexto empresarial saudável é o que vê as pessoas que o compõem como

humanamente representativas e com expressão. Nessa sentido, a integração das vicissitudes da Parentalidade nos vários contextos da esfera social (laboral incluída) parece-me fundamental.

Outra das mudanças que me parecem também urgentes (na sociedade em geral, com consequências depois para as empresas mas não só) é a (auto) atribuição aos pais-homens de mais responsabilidades na parentalidade. Se as empresas começassem a perceber que os pais também ficam em casa quando os filhotes estão doentes, que também se ausentam para os levar ao médico, ou que também têm que sair mais cedo para assistir à festa de natal da escola, as limitações associadas a “ser progenitor” deixariam de estar associadas exclusivamente às mulheres e isso deixaria de ser um fator visto como "limitador" exclusivamente para elas. Ou para ambos, ou para nenhum deles (no ideal este último).É que, no fundo, se elevarmos o debate do papel de mães, pais, cuidadores em geral, há que não perder de perspetiva que qualquer penalização à procriação acaba por ser, em si mesmo, um belo tiro no pé à continuação da Humanidade, não?

Porque é disso que se trata e é preciso não perder isso de vista: o facto de a Mulher ser garante do futuro da Humanidade é um privilégio do qual todos beneficiamos e é preciso que isso seja mantido firme e bem no alto, quando vemos uma Mulher grávida ou acompanhando os primeiros passos dos novos elementos do Futuro. Mesmo que isso a faça ausentar-se forçosamente em alguns momentos desse processo profissional, trata-se de um afastamento pelo qual todos somos responsáveis e que todos devemos fazer funcionar, por uma questão de bem-comum.

Criem-se e fomentem-se, pois, contextos laborais onde o humano se aceite e se respeite, em tudo o que ele tem de falha e de esplendor.


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4) (Da Edite para o Fábio) - 6 palavras que te vêm à cabeça quando te pensas enquanto “pai-profissional”? (Se quiseres explicar algumas força!)

Coragem, resiliência, flexibilidade, liderança, alta performance, felicidade.

Coragem para fazer aquilo que tem de ser feito e lutar pelos melhores resultados vai fazer com que sejamos bons profissionais e possamos dar o exemplo de realizar tarefas ou projetos que possam sair da nossa zona de conforto, mesmo que tenhamos receio de os fazer.

Resiliência por permanecer produtivo e saber lidar com os problemas de forma

positiva. Como diz Vitor Frankl, a nossa maior liberdade é a forma como podemos escolher a nossa atitude perante a vida, perante os desafios profissionais e pessoais.

É preciso ser resiliente para conseguirmos ser bons pais, assim como bons

profissionais. Tanto uma coisa como outra requer esforço e dedicação.

Flexibilidade é um dos maiores atributos que podemos ter atualmente. O mundo está em constante mudança. Nós próprios estamos em constante mudança. Termos uma forma de estar flexível e não tão rigida irá permitir que possamos ser mais leves e com isso conseguirmos evoluir mais depressa, a resistência à mudança pode ser dos nossos piores inimigos, dentro do seio familiar e no trabalho.

Liderança. Para mim, ser pai ou mãe é ser líder. Acredito que a liderança está

diretamente ligada à parentalidade. Em 2016, quando fui pai pela primeira vez,

comecei a abordar a liderança das equipas que fui tendo ao longo da minha carreira de uma forma completamente diferente. Liderar é um ato de amor. Querer ser pai também.

A Alta Performance é para mim uma mais valia como pai e como profissional, pois envolve a busca constante de progresso em vez de perfeição. Posso dar um exemplo prático. Um dos hábitos de alta performance é procurar clareza. E podemos fazer isso ao questionarmos a nós mesmos “que tipo de pai quero ser?” “que tipo de profissional quero ser?” “que legado quero deixar?”. A maioria das pessoas, pais, profissionais não tem esta clareza. Ter clareza sobre os meus objetivos como pai e profissional permite-me tomar decisões mais conscientes e orientadas para criar um ambiente familiar e profissional mais saudáveis.

Diria que é o ponto de partida para uma vida mais intencional e significante.

A felicidade pode ser uma escolha. Nem sempre conseguimos estar felizes, sei que nem sempre isso vai acontecer. Mas é importante conseguirmos ter felicidade em viver as nossas maiores responsabilidades. Em primeiro lugar, a maior responsabilidade que um homem pode ter, que é a de cuidar e educar um filho e em segundo lugar, onde a maioria de nós passa a maior parte do seu tempo: a trabalhar. Se nestas grandes fatias das nossas vidas não encontrarmos felicidade, algo não está certo.

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Edite Amorim - 42 anos de frenético espírito e de suave apreciação do silêncio.

2 filhos: o Lou com 5 e o Gil com quase 3.

Empreendedora desde 2004, amante de viagens a sós e de idas ao parque em dias de chuva, fundadora e coordenadora da THINKING-BIG desde 2011. É através dela que põe pessoas em movimento interno e externo, a questionarem(-se) e a abrirem possibilidades. Conjuga a Psicologia Positiva Aplicada com a Criatividade melhor do que o verbo "ser" em francês (uma das 4 línguas que vai falando).

Bicho solitário altamente sociável, incapaz de comer sem guardanapo e amante de papas de aveia quentes.



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Fábio Castro - 36 anos de ironia, espírito crítico e criatividade. Gosta de meditar, ou seja, beber café em silêncio. 

Pai de 2, o Salvador com 7 e a Camila com 5 (e também de uma "filha" de 4 patas que é mais pesada que os dois filhos juntos).

Autor do projeto Timeless Dad, do Legacy Club e do podcast k7 do Pai, na sua vida paralela é Training Manager na NOS Academia Empresas e também é fotógrafo no multiverso. A fotografia dá-lhe um olhar curioso e mais atento sobre as rotinas banais do dia a dia. Apesar de ser, desde sempre, um lobo solitário, adora pessoas e de se relacionar com elas, mas confessa que também são elas (as pessoas) que conseguem ter o dom de desligar alguns disjuntores no seu cérebro, quando começam a falar. 


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